Jovem milionário, direitista e liberal, comandará Equador por 16 meses
Forasteiro na política, o novo presidente do Equador é filho do magnata Álvaro Noboa. Seu governo será de apenas um ano para completar o tempo restante do mandato do presidente Guillermo Lasso, assassinado no meio da rua, em 9 de agosto deste ano.
POR CORRESPONDENTE IPS
QUITO – Daniel Noboa, 35 anos, herdeiro do homem mais rico do Equador, foi eleito presidente do país no último domingo (15), para um mandato de apenas 16 meses, que começa em dezembro próximo, com violência e criminalidade e recursos insuficientes para enfrentar o pântano social no país.
“Amanhã começaremos a trabalhar para que este novo Equador reconstrua um país gravemente atingido pela corrupção, pela violência e pelo ódio”, afirmou assim que soube, na noite de 15 de outubro, que havia derrotado, com 52% dos votos válidos, a sua rival de esquerda Luisa González, que obteve 48% dos votos.
A eleição de Noboa é um resultado surpreendente da crise política e institucional que tomou conta do país em 2022, levando à renúncia do presidente de direita Guillermo Lasso e à dissolução da Assembleia Nacional Legislativa unicameral, uma opção constitucional extrema conhecida como “morte cruzada”.
O mandato de Noboa será de apenas um ano porque ele irá completar o mandato de quatro anos de Lasso, tempo em que espera demonstrar aos equatorianos ser digno de vencer as eleições gerais de 2025. E ele já antecipou que ele pretende vencê-la.
Sua vitória [no último domingo] também pode ser vista como resultado do cansaço da população diante das lutas políticas, enquanto o país sofre ondas de crime e violência, com uma taxa de 40 homicídios por 100 mil habitantes, e tumultos chocantes em prisões que ceifam e cada vez mais dezenas de vidas.
No Equador, especialmente na costa do Pacífico, prosperaram os cartéis de drogas da Colômbia e do México, e gangues como El Tren de Aragua da Venezuela.
Fernando Villavicencio, candidato à Presidência que fez do combate à corrupção o eixo da sua campanha, foi morto a tiro, no meio da rua, no dia 9 de agosto desse ano, um dia antes do primeiro turno da eleição.
A crise da pandemia de covid-19 aprofundou os níveis de precariedade e desigualdade, que são hoje um terreno fértil para a violência. Mais da metade da população ocupada trabalha informalmente e apenas 35% têm um emprego de 40 horas semanais e um salário superior ao salário mínimo de US$ 450 mensais (R$ 2.250).
Para reforçar o equilíbrio fiscal, o governo Lasso se mostrou inclinado a cortar despesas sociais, que agora crescem à medida que a procura pelo novo governante, que pode enfrentar desafios impopulares, como o aumento do imposto sobre o valor agregado ou a eliminação do subsídio aos combustíveis, com risco de impacto social.
Surpresas também poderão marcar a gestão de Noboa, que correrá contra o relógio para enfrentar as expectativas mais urgentes dos seus 17 milhões de compatriotas ao completar o mandato de Lasso, até maio de 2025.
Suas principais promessas o apresentaram como “o presidente do emprego” e, face ao crime e à insegurança, como um adepto das novas tecnologias e sistemas de inteligência, de dotar a polícia de armas modernas e levar os criminosos mais perigosos para barcaças equipadas no mar, como prisões flutuantes.
Forasteiro na política, o novo presidente é filho de Álvaro Noboa, magnata da banana que concorreu cinco vezes à presidência do país, sem sucesso. Formado em universidades americanas, Daniel também é empresário, rico, casado, tem três filhos e tempo para correr até oito quilômetros todos os dias.
Tentou evitar rótulos políticos – em alguns debates descreveu-se como centro-esquerda – mas as suas propostas a favor da livre iniciativa e de soluções práticas para os problemas, em vez de seguir receitas ideológicas, permitiram aos analistas colocá-lo como centro-direita.
Em contraste com a figura que projeta, de jovem liberal e moderno, a sua companheira de chapa, a vice-presidente eleita Verônica Abad, administradora de 44 anos, mantém um claro discurso tradicionalista de direita.
Abad se declara “clássica e pró-vida”, se opõe ao aborto, às demandas da comunidade LGBTIQ+ e do feminismo, se declara defensora da liberdade religiosa, da propriedade privada, do governo pequeno e do mercado livre e é a favor da contenção dos gastos sociais em favor dos saldos fiscais.
Outro problema que Noboa terá de enfrentar é a falta de um partido próprio e forte para sustentar a sua gestão governamental, já que a sua Ação Democrática Nacional é um movimento praticamente aluvial e com os partidos que lhe manifestaram apoio, ele mal tem um punhado de parlamentares nessa nova legislatura.
À sua frente estará o Movimento Revolução Cidadã, do ex-presidente de esquerda Rafael Correa (2007-2017), com a principal bancada parlamentar, embora González lhe tenha estendido a mão desejando-lhe sucesso ao reconhecer a sua derrota.
Correa, autoexilado na Bélgica, para não passar pela Justiça equatoriana, que o acusa de atos de corrupção, foi quem propôs e incentivou a candidatura de González, um advogado de 45 anos, que trabalhou no seu governo e se tornou, mais tarde, um aguerrido defensor seu no Parlamento.
A vitória de Noboa e a derrota de González representam um revés para a esquerda latino-americana, que nos últimos anos conquistou importantes vantagens ao conquistar as presidências do Chile, do Brasil e da Colômbia.
Além disso, é mais um exemplo onde o eleitorado se distanciou dos políticos e partidos tradicionalmente estabelecidos e, com vontade de mudança, apostou em uma opção cada vez mais frequente: a da figura que se mostra à parte e acima da política tradicional.
Artigo publicado originalmente na Inter Press Service.
Daniel Noboa no momento de votar nas eleições presidenciais do Equador, que venceu com 52 por cento dos votos. O novo presidente, de 35 anos, filho do homem mais rico do seu país, enfrentará, a partir de dezembro e por um período de apenas 16 meses, fortes exigências sociais e o crescente ataque da criminalidade. (Foto: Reprodução/Comando de Campanha)
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