Assassinatos de jornalistas crescem 50% em 2022
América Latina e Caribe são a região mais mortal para a imprensa. Dados são da Unesco.
Publicado em 20 de janeiro de 202
Em todo o mundo, 86 jornalistas e profissionais da mídia foram mortos em 2022 – um a cada quatro dias, segundo dados da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o que destaca os graves riscos e os pontos vulneráveis que os jornalistas continuam enfrentando durante seu trabalho.
“Após vários anos de quedas consecutivas, o aumento acentuado do número de jornalistas mortos em 2022 é alarmante. As autoridades devem intensificar seus esforços para impedir esses crimes e garantir que seus autores sejam punidos, pois a indiferença é um fator importante nesse clima de violência”, afirmou Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco.
O aumento nos assassinatos ocorrido em 2022 marca uma dramática reversão da tendência positiva observada nos últimos anos: de 99, em 2018, o número caiu para uma média de 58 assassinatos por ano, de 2019 a 2021, de acordo com o Unesco Observatory of Killed Journalists (Observatório de Jornalistas Assassinados da Unesco). Esses números refletem o aumento das fraturas nos sistemas de Estado de direito em todo o mundo e destacam o fracasso dos Estados em cumprir suas obrigações de proteger os jornalistas, bem como prevenir e processar os crimes contra eles.
Embora todas as regiões tenham sido afetadas, a América Latina e o Caribe foram a região mais mortal para os jornalistas em 2022, com 44 assassinatos, mais da metade do número de mortos em todo o mundo. A Ásia e o Pacífico registraram 16 assassinatos, enquanto 11 foram mortos na Europa Oriental. Os países com o maior número de mortes foram: México (19 assassinatos), Ucrânia (10) e Haiti (9).
Metade dos jornalistas mortos não estava em serviço
Cerca de metade dos jornalistas mortos estava de folga no momento em que foram atacados – enquanto viajavam, em suas casas ou em estacionamentos e outros locais públicos onde não estavam a trabalho. Isso caracteriza a continuação de uma tendência nos últimos anos e significa que não há espaços seguros para os jornalistas, mesmo em seu tempo livre.
Embora o número de jornalistas mortos em países em conflito tenha crescido para 23 em 2022, em comparação com 20 no ano anterior, o aumento mundial foi impulsionado sobretudo por crimes ocorridos em países sem conflito. Esse número quase dobrou, de 35 casos em 2021, para 61 em 2022, o que representa três quartos de todos os assassinatos no ano passado.
Esses jornalistas foram mortos por vários motivos, incluindo represálias por reportagens sobre o crime organizado, conflitos armados ou a ascensão do extremismo, bem como a cobertura de assuntos delicados, como corrupção, crimes ambientais, abuso de poder e protestos.
A impunidade permanece alta, sem perspectiva de queda
Embora tenha ocorrido certo progresso nos últimos cinco anos, a taxa de impunidade em casos de assassinatos de jornalistas permanece incrivelmente alta, em 86%, o que acarreta um efeito inibidor no trabalho dos profissionais e coloca em risco a liberdade de expressão em todo o mundo. Isso prova que o combate à impunidade continua sendo um compromisso premente para o qual a cooperação internacional deve ser mobilizada ainda mais.
Além dos assassinatos, os jornalistas continuam a ser ameaçados com múltiplas formas de violência, como desaparecimentos forçados, sequestros e detenções arbitrárias, assédio legal e violência digital, principalmente contra as profissionais mulheres.
A publicação da UNESCO, intitulada “World Trends in Freedom of Expression Report 2021/2022”, destaca esses desafios e aponta para as leis de difamação, as leis cibernéticas e a legislação contra “notícias falsas” que, quando são usadas para atacar certas pessoas ou grupos – sendo às vezes aplicadas como meios de limitar a liberdade de expressão –, produzem um ambiente tóxico para os jornalistas atuarem.
(Texto publicado originalmente pela Federação Nacional dos Jornalistas, Fenaj)