A Europa e o Islã

A Europa e o Islã

Os medos das classes médias europeias têm alimentado o crescimento da extrema-direita política, cujos partidos cada vez mais se aproximam do poder em nome da defesa dos valores tradicionais do Ocidente.

Entre os fantasmas que rondam a Europa, se não bastasse a guerra na Ucrânia está sempre presente a sombra do Islã. A forte religião de Maomé reúne a fé dos povos de Alah em torno da divindade e promete a seus fiéis à libertação das amarras do mundo. É também a força que dá suporte à guerra permanente que tem a missão de converter todos os infiéis. Nas modernas guerras santas – a Jihad – simboliza também energia e motivação espiritual para o enfrentamento dos inimigos responsáveis pelo massacre histórico dos povos do Islã desde o tempo das Cruzadas.

A invasão dos países do Oriente pelos interesses da geopolítica dos países ocidentais tem sido conduzida com o sacrifício dos povos, notadamente árabes, habitantes de uma região rica em petróleo. As guerras promovidas pela estratégia de dominação das fontes de petróleo têm sido a principal causa do êxodo de refugiados em direção à Europa. E a Europa teme o que considera uma invasão do Oriente. Os medos das classes médias europeias têm por sua vez alimentado o crescimento da extrema-direita política, cujos partidos cada vez mais se aproximam do poder em nome da defesa dos valores tradicionais do Ocidente. Promovem a rejeição dos imigrantes, o medo do terrorismo e um conservadorismo reacionário que ameaça o futuro dos valores humanistas que têm sido um dos patrimônios civilizacionais e também políticos da Europa. E dão assim continuidade a um confronto que garante conflitos sem fim e a escalada da violência.

O crescimento das tensões faz muitos acreditarem num choque de civilizações. Muitos europeus pensam que há o risco de que as comunidades muçulmanas venham a impor suas crenças, costumes e modo de vida. Enquanto os partidos de extrema-direita pregam o fechamento de fronteiras para combater a imigração, o crescimento das comunidades muçulmanas exige uma maior compreensão da sua cultura e pede a inclusão social.

A Eurábia

Se o cristianismo representa hoje o maior grupo religioso do planeta, com 31 por cento dos 7,3 bilhões da população mundial, os muçulmanos, com 24 por cento, devem ultrapassar os cristãos na segunda metade do século. Foi este o resultado de uma pesquisa conduzida pelo Pew Research Center, centro de pesquisas norte-americano. O relatório dessa pesquisa projeta que, até 2060, o número de muçulmanos deve crescer 73% em todo o mundo, enquanto a média do crescimento populacional deve ser de 35%.

A França conta 70 milhões de habitantes e oito por cento deles são de origem muçulmana. Eles chegaram em grande número na década de 1960, vindos principalmente do norte da África. Embora uma pequena minoria sonhe em estabelecer um califado medieval na Europa, a maioria declara sentir-se francesa. Muitos deles já não professam a fé islâmica.

Embora a sua tese seja muito discutida, o inglês Bernard Lewis, um estudioso do islã que foi professor emérito da cátedra Cleveland E. Dodge de Estudos do Próximo Oriente da Universidade de Princeton, assegura que, diante do número de imigrantes de países muçulmanos e seus índices de natalidade relativamente altos, pode-se concluir que, a julgar pelas tendências atuais, a Europa terá maiorias muçulmanas na população no mais tardar até o final do século 21. É a tese primordial dos defensores da ideia de que haverá uma Eurábia, que representaria o futuro da Europa, no qual a maioria religiosa do Islã comandaria todo o continente.

Os que discordam da tese da Eurábia afirmam no entanto que o declínio da fertilidade muçulmana é muito mais acentuado. Em 1970, as mulheres na Tunísia e na Argélia, no norte da África, tinham a média de sete filhos. Hoje, segundo o “World Factbook” da CIA, elas têm, em média, menos de 1,8 filho. O índice de natalidade francês é de quase dois.

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As Cruzadas e o fascismo islâmico

O ódio que os militantes da jihad alimentam contra o Ocidente tem antiga origem nas Cruzadas. O famigerado Daesh, também conhecido como Estado Islâmico, além de outros movimentos radicais, como o Al-Qaeda, costumam referir-se ao Ocidente como a terra dos cruzados. Referem-se às oito expedições militares formadas na Europa, na Baixa Idade Média, contra os muçulmanos. No seu caminho até Jerusalém promoveram destruição, saques e massacres de populações que ficaram na memória histórica dos povos do Oriente.

Já os modernos atentados terroristas na Europa têm se caracterizado ora por ataques de grandes proporções ora pelos de autoria dos chamados lobos solitários, ataques individuais e violentos. Como o realizado contra o jornal humorístico francês Charlie Hebdo e a decapitação do professor Samuel Paty, ambos por terem exibido caricaturas do profeta Maomé, o que é considerado blasfêmia nas crenças do Islã. Bombistas que explodem a si mesmos no meio da multidão, veículos em grande velocidade provocando atropelamentos em massa, ataques a faca indiscriminados aos passantes, bombas no metrô das grandes cidades, atiradores esparsos, como aconteceu em Viena, todas estas são as novas formas de ataque assumidas desde a explosão das torres em Nova Iorque e da invasão do Iraque pelos EUA. Mais de vinte atentados desse tipo foram cometidos na Europa nos últimos anos.

Após o indiscriminado ataque a faca em Nice, dentro de uma igreja católica, por um imigrante tunisiano, no qual foram assassinadas três pessoas, entre elas uma brasileira, além de fazer vários feridos, o prefeito da cidade, Christian Estrosi, atribuiu o atentado ao que chamou de islamo-fascismo.

Os principais agrupamentos classificados como terroristas, ativistas do fascismo islâmico, são o Therik-E Taliban Pakistan, Lashkar-E-Tayyiba, Al-Shabaab, Boko Haram, Taliban, Isis ou Daesh e Al Qaeda. Nem todos operam na Europa mas a maioria é capaz de treinar militantes para operações internacionais.

O Islã

Há falta de compreensão do Islã entre os povos do Ocidente. O extremismo terrorista dos grupos militantes, regimes ditatoriais, a opressão das mulheres muçulmanas, as violações dos direitos humanos são algumas das imagens associadas ao islamismo criadas pela xenofobia e pela islamofobia no imaginário popular do Ocidente. O Corão, livro sagrado, diz no entanto que os mandamentos de Alá determinam que os seres humanos convivam com justiça, igualdade e compaixão. O Corão extraiu seus fundamentos nas tradições judaicas, cristãs e nos ideais das tribos que habitavam o território árabe. Para o Islã, Jesus não é o filho de Deus, mas um grande profeta.

As comunidades muçulmanas da Europa queixam-se da violência e da marginalização de que são vítimas. Em Londres, os ataques contra elas cresceram num percentual de setenta por cento e, na Espanha, quarenta por cento dos crimes de ódio foram classificados como islamofobia, superiores ao racismo e à homofobia.

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