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A Europa sombria

A Europa sombria

O crescimento da extrema-direita na Europa é um fenômeno que vem se espalhando pelo continente nos últimos anos. Diversos partidos de extrema-direita e ultraconservadores têm conquistado cada vez mais espaço político, ameaçando o equilíbrio democrático em todos os países.

POR CELSO JAPIASSU

Há um futuro cheio de sombras, ameaças de uma distopia onde serão esquecidas as ideias acalentadas desde o Iluminismo e as revoluções que acreditaram e defenderam os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.

Estaria a Europa mais uma vez na senda de um extremo nacionalismo, racismo, anticomunismo, antiliberalismo e na busca por um domínio totalitário da sociedade, como era a crença que dominava o ideário nazifascista?

Apenas três países continuam sem a presença da extrema-direita em seus parlamentos – Malta, Irlanda e Luxemburgo. Na Espanha, o fascista Vox é a terceira maior força política do país. Em alguns países a direita com tonalidades fascistas governa ou está próxima do poder na Polônia, Hungria, República Checa, Áustria, Letônia, Eslováquia, Bulgária, Itália e Finlândia. Na Alemanha, o neonazista Alternativa para a Alemanha (Alternative für Deutschland) é a terceira maior força política no parlamento. Sem contar a França, onde o Rassamblement National é hoje um sucesso eleitoral.

O crescimento da extrema-direita na Europa é um fenômeno que vem se espalhando pelo continente nos últimos anos. Diversos partidos de extrema-direita e ultraconservadores têm conquistado cada vez mais espaço político, ameaçando o equilíbrio democrático em todos os países.

O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) elegeu 15 deputados para o Parlamento Europeu e ficou em segundo lugar. O AfD foi expulso do grupo Identidade e Democracia (ID) semanas antes das eleições devido a uma série de escândalos envolvendo seus membros. Vai, por isso, ocupar as 15 cadeiras de forma independente.

Na Itália, a coalizão de extrema-direita liderada por Giorgia Meloni, do partido Irmãos da Itália, chegou ao poder. Outros países como Espanha, Áustria e Suécia também testemunharam o fortalecimento de partidos com agendas eurocéticas, anti-imigração e socialmente conservadoras. Esse crescimento da extrema-direita é visto como um sinal de alerta pelos governos democráticos, que precisam responder às demandas reais da população para conter o avanço desses grupos. Há o risco de que esses partidos perturbem o equilíbrio político e afetem a estabilidade da União Europeia. As lideranças políticas buscam adotar medidas eficazes para lidar com as causas que alimentam o apoio a esses movimentos, como a insegurança econômica, a frustração com a imigração e a desconfiança nas instituições democráticas.

Os partidos

Os principais partidos de extrema-direita que têm conquistado cada vez mais espaço político são:

  • Alemanha: Alternativa para a Alemanha (AfD).
  • Itália: Irmãos da Itália, liderado por Giorgia Meloni, que chefia o governo do país.
  • França: União Nacional (RN) do casal Jordan Bardella/Marine Le Pen, que foi o grande vencedor no primeiro turno das eleições antecipadas, com cerca do dobro da votação do partido de Emmanuel Macron.
  • Áustria: Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ)
  • Hungria: Fidesz, do primeiro-ministro Viktor Orbán, embora tenha sofrido enfraquecimento recente nas últimas eleições no país.
  • Suíça: Partido Popular Suíço (SVP), que tem o maior número de assentos no Parlamento e dois postos no governo.
  • Lega na Itália, um dos principais partidos de extrema-direita, juntamente com o Fratelli d’Italia.
  • Vox, de Santiago Abascal, cada vez mais relevante na política da Espanha.
  • Bélgica: Vlaams Belang

São esses os partidos mais estabelecidos, porém surgiram novos grupos de extrema-direita em outros países, como o Reconquête na França, o Danish Democrats na Dinamarca, o Latvia First na Letônia, o Chega em Portugal e o AUR na Romênia.

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O RN liderado por Jordan Bardella na França obteve 34% dos votos no primeiro turno das eleições legislativas. A coligação de esquerda Nova Frente Popular ficou em segundo lugar com 28,5% e o partido de Macron em terceiro com 22 por cento.

Liderado por Victor Orbán, o líder neofascista da Hungria, acaba de surgir um novo grupo autointitulado “Patriotas da Europa”, que junta direita radical e extrema-direita. Pretende ser o maior no Parlamento Europeu. De imediato já conta com a adesão do FPÖ da Áustria e do ANO2011, que venceu as eleições na República Checa. Os três somam 24 deputados e Orbán lançou um apelo para que outros partidos venham se unir a esse novo grupo.

Imigração

A extrema-direita tem exercido uma influência crescente sobre as políticas de imigração na Europa. Alguns dos principais partidos de extrema-direita que têm pautado o debate sobre imigração são o Partido Popular Suíço (SVP), que é o maior partido no Parlamento nacional e tem dois ministros no governo; o Rassemblement National (RN) na França; a Lega na Itália, a Alternativa para a Alemanha (AfD), o Fidesz na Hungria, o Vlaams Belang na Bélgica.

Esses partidos têm colocado o combate à imigração como uma de suas principais bandeiras, pressionando os governos a adotarem políticas mais duras contra os imigrantes. Isso tem levado a uma “vitória ideológica” da extrema-direita, mesmo quando os governos não adotam exatamente o que esses partidos propõem. Além disso, a ênfase na imigração por parte dos partidos de direita tradicional também acaba por “diluir a fronteira ideológica” entre eles e a extrema-direita.

O endurecimento das políticas de imigração na Europa tem tido várias consequências. Há o risco de a extrema-direita ganhar essa batalha ideológica se os governos alimentarem o discurso de ódio e adotarem medidas que, na prática, não resolvem os problemas, mas servem para alimentar o ódio aos imigrantes.

As novas leis de imigração mais restritivas, como as recentemente aprovadas na França, são criticadas por especialistas que afirmam que elas não resolvem os problemas reais, mas apenas atendem aos argumentos da extrema-direita.

Há preocupação com o endurecimento das políticas migratórias, que podem levar a abusos contra refugiados e migrantes como tem acontecido: maus-tratos, tortura, violência sexual e condições desumanas de detenção.

Foto de Capa: montagem com foto de Santiago Abascal do VOX espanhol (Vox Espana/Wikipedia) e Marine Le Pen, Jean-Marie Le Pen e Bruno Gollnisch do Rassemblement National francês (Marie-Lan Nguyen/Wikipedia).

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