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As eleições na Europa

As eleições na Europa

O porta-voz do Parlamento Europeu, Jaume Duch, afirma que uma virada mais à direita na composição do Parlamento não vai necessariamente corroer o papel da União Europeia. Mas, na verdade, o aumento do apoio aos partidos de extrema-direita lança dúvidas sobre o futuro do bloco.

POR CELSO JAPIASSU

Com uma guerra em seu território e as ameaças da extrema-direita na conquista de território político, a Europa vai realizar de seis a nove de junho as eleições para o Parlamento Europeu. Vinte e sete países irão às urnas escolher seus representantes em meio a um debate que põe em dúvida a própria sobrevivência da União Europeia (UE). Os partidos da extrema-direita, fortemente nacionalistas, questionam a existência de um organismo cujos princípios se baseiam num conceito internacionalista unitário.

O interesse dos cidadãos europeus pelas eleições tem aumentado. Pesquisas recentes dizem que 56% dos entrevistados nos diversos países afirmam estar interessados – um aumento de 6 por cento em relação a 2019, quando foram realizadas as últimas eleições. Em Portugal, por exemplo, o interesse, é de 51% dos eleitores, um aumento de 13 pontos percentuais, o que conduz a uma menor taxa de abstenção, que historicamente tem sido elevada nas eleições europeias.

As projeções indicam que os partidos de extrema-direita, eurocéticos e populistas, deverão ganhar mais votos do que em 2019. Esses partidos estão a subir nas pesquisas em países como Alemanha, França e Áustria. A recente vitória surpreendente do populista Geert Wilders nos Países Baixos foi apenas o último de uma série de triunfos da extrema-direita europeia nos últimos anos. Apesar disso, o porta-voz do Parlamento Europeu, Jaume Duch, afirma que uma virada mais à direita na composição do Parlamento não vai necessariamente corroer o papel da UE.  Mas, na verdade, o aumento do apoio aos partidos de extrema-direita lança dúvidas sobre o futuro da União Europeia.

Outro problema é o desconhecimento dos cidadãos sobre as eleições. Apenas 9% dos portugueses sabem que as eleições serão de 6 a 9 de junho, e 57% não sabem a data. Isso pode afetar a participação eleitoral. Portanto, a abstenção e o desconhecimento sobre a UE serão um teste importante para as próximas eleições. O interesse dos cidadãos está a aumentar, mas os partidos de extrema-direita também estão a ganhar força. Além disso, o desconhecimento sobre as eleições é um problema a ser resolvido.

Os programas

As principais plataformas eleitorais dos partidos de extrema-direita incluem os seguintes pontos:

  • Oposição à imigração e discurso anti-imigração, especialmente em relação a refugiados e migrantes muçulmanos.
  • Ceticismo em relação às mudanças climáticas e regulações ambientais.
  • Posições pró-Rússia e teorias de conspiração sobre a guerra na Ucrânia.
  • Promessas de reduzir impostos e resolver problemas econômicos, como a falta de habitação acessível.
  • Críticas aos partidos tradicionais e promessas de “respostas simples” para problemas complexos.

Os três principais partidos de extrema-direita que estão concorrendo nas próximas eleições europeias são o Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), Rassemblement National (RN) na França e Alternativa para a Alemanha (AfD). Analistas acreditam que esses partidos devem ganhar mais votos e cadeiras no Parlamento Europeu do que em 2019, aumentando assim a representação da extrema-direita em Estrasburgo, onde está a sede do Parlamento.

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TikTok

Embora estejam fragmentados e não cheguem a formar um bloco coeso, esses partidos estão usando agressivamente as redes sociais, especialmente o TikTok, para espalhar sua mensagem e também desinformação sobre os mais diversos temas. E estão conseguindo mais visualizações e engajamento do que os partidos tradicionais nessas plataformas. 

Visando o público jovem, produzem conteúdo que se encaixa na “gramática” do TikTok, misturando política e entretenimento com dublagens, paródias e esquetes de humor. Investem em conteúdo que garanta maior repercussão, como vídeos com maior número de visualizações e aproveitam os algoritmos de recomendação do TikTok, que parecem favorecer mais os conteúdos de direita. Investem na presença de grande número de políticos com contas ativas na plataforma.

Isso faz com que os conteúdos desses partidos apareçam com frequência nas sugestões e feeds dos usuários, mesmo daqueles que não seguem política de perto. Apesar de ser uma rede social emergente, o TikTok já está a desempenhar papel importante na disseminação da mensagem da extrema-direita, especialmente entre os jovens. Isso pode ter impactos significativos nas próximas eleições.

Conteúdos inflamatórios têm maior probabilidade de receber likes, partilhas e seguidores, o que faz com que os algoritmos comecem a recomendá-los mais frequentemente. Essa dinâmica levanta questões sobre a neutralidade das redes sociais e como elas podem influenciar a disseminação de discursos políticos, como tem acontecido com os da extrema-direita.

Os principais argumentos usados pelos influencers de extrema-direita no TikTok têm sido a promoção de discursos anti-imigração e anti-refugiados, alimentando sentimentos nacionalistas e xenofóbicos; o ceticismo em relação às mudanças climáticas e oposição a regulações ambientais, questionando a ciência por trás das questões ambientais; apoio pró-Rússia e disseminação de teorias da conspiração sobre eventos geopolíticos; críticas aos partidos tradicionais com promessas de soluções simplistas para problemas complexos, visando atrair eleitores descontentes com a política convencional; uso de estratégias de comunicação agressivas e conteúdo de entretenimento para atrair e engajar os jovens, aproveitando a popularidade e alcance do TikTok entre esse público.

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