Guerra em Gaza: mais de dez mil mulheres foram mortas, 19 mil crianças estão órfãs
Mulheres e as crianças buscam abrigo dos bombardeamentos e cuidados para seus ferimentos nos hospitais de Gaza, que carecem de material básico, como anestesia, para atendê-las. Mais de 10.000 mulheres foram mortas, 6.000 eram mães conforme a ONU (Imagem: OMS)
POR CORRESPONDENTE IPS
GENEBRA – Mais de 10.000 mulheres morreram em seis meses de guerra em Gaza, incluindo cerca de 6.000 mães, deixando 19.000 crianças órfãs, segundo o relatório da ONU Mulheres.
“As mulheres que sobreviveram aos bombardeios israelenses e às operações militares no terreno ficaram viúvas e estão vivendo como desabrigadas e passando fome”, relata Susanne Mikhail, diretora regional da ONU Mulheres para os Estados Árabes.
“Esse impacto diferenciado da guerra nas mulheres palestinas continua fazendo da Guerra de Gaza uma guerra contra as mulheres”, acrescentou Mikhail.
Mais de um milhão de mulheres e jovens palestinas em Gaza – numa faixa de 365 quilômetros quadrados, com uma população de 2,3 milhões de habitantes – enfrentam uma fome devastadora, com pouca ou nenhuma comida. Sem água potável, sem acesso a latrinas funcionais e à água corrente, o que as expõe a riscos potencialmente fatais, diz o relatório.
A publicação sublinha que o acesso a esses serviços é vital para a saúde, a dignidade, a segurança e a privacidade das mulheres, e sublinha a sua importância especialmente para as mães lactantes e as mulheres grávidas, que necessitam de uma maior ingestão diária de calorias e de água.
É também essencial que as mulheres e as moças possam gerir a sua higiene menstrual com dignidade e segurança.
A ONU Mulheres estima a necessidade de 10 milhões de absorventes higiênicos todos os meses para satisfazer as necessidades de 690.000 mulheres e jovens em Gaza, ou quatro milhões de absorventes reutilizáveis por mês.
A organização juntou-se aos apelos à aplicação da Resolução 2728 do Conselho de Segurança da ONU, aprovada em 25 de março de 2024, que exige um cessar-fogo imediato em Gaza, a libertação de todos os reféns e a distribuição segura e sem entraves da ajuda humanitária.
O relatório enquadra-se nos apelos e avisos de outras agências das Nações Unidas, nesta altura do conflito, em que região vive horas de tensão devido a uma possível escalada, na sequência da troca de ataques entre Israel e Irã.
O atual curso do conflito eclodiu depois de a milícia islâmica Hamas, sediada em Gaza, ter atacado o sul de Israel a 7 de outubro, matando 1200 pessoas, ferindo centenas e fazendo 250 reféns, segundo Telavive.
A ofensiva militar com que Israel respondeu ao ataque já provocou a morte de mais de 33.800 pessoas – dois terços mulheres e crianças, segundo as autoridades da Faixa de Gaza – e mais de 76.500 feridos, bem como a destruição generalizada de edifícios residenciais e de instalações de serviços, incluindo água, alimentos, eletricidade e hospitais.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) sublinhou que, com mais de 76.000 feridos, apenas um terço dos 36 hospitais de Gaza continua a funcionar, devido a carências que os levaram a efetuar amputações e cesarianas sem anestesia, por exemplo.
A falta de pessoal, de agulhas, de pontos e de outro equipamento médico essencial significa que “as crianças feridas definham frequentemente com dores” nos hospitais ou em abrigos improvisados, afirmou Tess Ingram, especialista em comunicação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, instou “todos os Estados com influência” a “pôr termo à crise humanitária e de direitos humanos cada vez mais terrível” em Gaza.
Israel “continua a impor restrições ilegais à entrada e distribuição de ajuda humanitária e a proceder à destruição generalizada de infraestruturas civis”, afirmou Türk.
Türk manifestou também a sua “profunda preocupação com o aumento da violência e das ondes de ataques nos últimos dias contra os palestinos na Cisjordânia” por parte de centenas de colonos israelenses, muitas vezes acompanhados ou apoiados pelas forças de segurança de Israel.
O Presidente do Parlamento Europeu referiu que, na sequência do assassinato de um jovem israelense de 14 anos de uma família de colonos, foram mortos quatro palestinos, incluindo uma criança, e destruídas propriedades palestinas em ataques de vingança.
Artigo publicado originalmente na Inter Press Service.
(tradução Tatiana Carlotti)
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