O que vai pelo mundo
O mais dramático dos subprodutos deixados pelas mudanças climáticas é a fome que, em 2023, atinge 735 milhões de pessoas. Esse é o número informado pela FAO-Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. Mas não são apenas as mudanças no clima do planeta as responsáveis pelas secas, inundações e ondas de calor. A pobreza é uma causa junto com os conflitos e guerras que destroem a agricultura, forçam o êxodo das pessoas e impedem o acesso aos alimentos. A fome é também causa de desnutrição, retardo no crescimento e morte. Além de provocar violência, conflitos e instabilidade social
Este artigo poderia ter o título de “Mundo Cão”.
O governo da Itália proibiu que se preste socorro aos refugiados que se afogam no Mediterrâneo. Morreram 26 mil nos últimos dez anos. Em janeiro e fevereiro deste ano, afogaram-se trezentos. Homens, mulheres e crianças embarcados por traficantes de pessoas, pagando altos preços, em precárias embarcações. Há cerca de 27 milhões de refugiados no mundo. Sobrevivem abandonados em moradias improvisadas, sem assistência e muito menos futuro. Não são apenas estatísticas a serem lidas superficialmente. São pessoas que possuíam um lar e foram obrigadas a partir para um destino desconhecido.
A Argentina corre o risco de eleger presidente um palhaço sem coração depois de o vizinho Brasil ter se livrado por muito pouco de um charlatão político sem coração. Os dados imprecisos do Anuário Brasileiro de Segurança Pública dizem que foram 6.500 as pessoas mortas pela polícia no ano de 2020, a maioria negros e pobres.
A OTAN, os Estados Unidos e a Europa alimentam uma guerra na Ucrânia que já fez cerca de 15 mil mortos, pelas informações de fontes mais confiáveis. Sofisticados armamentos de grande poder de destruição são enviados diariamente para o teatro da guerra. Trava-se ali uma disputa geopolítica num conflito entre dois governos de direita, um deles patrocinado pela OTAN. E os regimes de direita são hoje uma ameaça em quase todos os países do mundo.
A África
A pobreza, a desigualdade social e a interferência estrangeira alimentam dez guerras ou grandes conflitos simultâneos no território africano: Somália, Mali, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Sudão do Sul, Burundi, Nigéria, Etiópia, Moçambique, Angola. Conflitos armados com um impacto devastador na população civil que conduzem à morte, deslocamentos, fome, pobreza, instabilidade política e ao terrorismo.
Desde 2020, o Sahel, uma região que se estende do Senegal ao Chade, tem sido palco de golpes de estado que desestabilizaram as nascentes democracias. A insurgência jihadista tenta estabelecer um califado na região, as populações sofrem com a corrupção e os maus governos e o resultado é a multiplicação da pobreza e da desigualdade.
No Afeganistão, a pobreza alia-se à repressão exercida pelos talibãs, um grupo fundamentalista islâmico que se encontra no controle do país e impõe severas restrições às mulheres, proibidas de frequentar escolas, trabalhar fora de casa e são obrigadas a obedecer a um estrito código de vestimenta. Os talibãs, que expulsaram as tropas russas em 1989 e as tropas americanas em 2021, destruíram monumentos culturais, praticam violações de direitos humanos e execuções sumárias, tortura e repressão a minorias étnicas e religiosas. Cerca de cinco milhões de pessoas foram obrigadas a deixar as suas casas.
No Oriente Médio o conflito Israel-Palestina começou em 1948. As duas nações reivindicam a mesma terra e estima-se que mais de 200 mil pessoas tenham sido mortas. Mais de 700 mil palestinos foram forçados a abandonar as suas casas e é pouco provável que o conflito seja resolvido em futuro próximo.
A violenta guerra civil na Síria ainda não terminou. Estima-se que mais de 600 mil pessoas tenham sido mortas no conflito incluindo civis, combatentes e crianças. Milhões de pessoas foram deslocadas de suas casas.
As ameaças do clima
As mudanças climáticas ameaçam a vida na Terra. A queima de petróleo, gás e carvão, chamados combustíveis fósseis, o desmatamento e a agricultura são responsáveis pelo aumento da temperatura média global e a ocorrência de eventos climáticos extremos. O aumento do nível do mar provoca o derretimento das geleiras e calotas polares ameaçando áreas costeiras ao redor do mundo. Secas, inundações, furacões e tempestades causam danos e destruição numa escala avassaladora e sem precedentes. A vida selvagem está sendo extinta e muitas espécies são forçadas a se deslocar em busca de novos habitats.
O mais dramático dos subprodutos deixados pelas mudanças climáticas é a fome que, em 2023, atinge 735 milhões de pessoas. Esse é o número informado pela FAO-Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. Mas não são apenas as mudanças no clima do planeta as responsáveis pelas secas, inundações e ondas de calor. A pobreza é uma causa junto com os conflitos e guerras que destroem a agricultura, forçam o êxodo das pessoas e impedem o acesso aos alimentos. A fome é também a causa de desnutrição, retardo no crescimento e morte. Além de provocar violência, conflitos e instabilidade social.
Água
Recurso essencial para a vida, a água torna-se cada vez mais escassa e a disputa pela sua posse pode levar à guerra entre países. Empresas multinacionais já disputam a exploração comercial apropriando-se de um bem natural. Alguns governos lançam-se em aventuras espaciais em que a busca de água em outros planetas é um dos principais objetivos.
Aponta-se o aumento da população mundial, as mudanças climáticas e a poluição como as principais causas da crise da água. O efeito é devastador. Milhões de pessoas não têm acesso a água potável, o que leva a doenças e à morte. A falta d’água também afeta a agricultura e a produção de alimentos e contribui para a fome no mundo.
A desigualdade econômica e social é uma das principais misérias do mundo. Poucos bilionários detêm a maior parte dos recursos e das riquezas e a grande maioria das populações sobrevive em condições precárias. O desemprego afeta milhões de trabalhadores com a consequente falta de renda, pobreza e exclusão social.
*Imagem em destaque: (Reprodução/OXFAM)
Poeta, articulista, jornalista e publicitário. Traballhou no Diário de Minas como repórter, na Última Hora como chefe de reportagem e no Correio de Minas como Chefe de Redação antes de se transferir para a publicidade, área em que se dedicou ao planejamento e criação de campanhas publicitárias. Colaborou com artigos em Carta Maior e atualmente em Fórum 21. Mora hoje no Porto, Portugal.
É autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965).