O submundo da política
São jovens entre 16 e 25 anos que formam a mais aguerrida militância dos movimentos neonazistas. Mas estes movimentos não existem apenas na Alemanha, onde talvez tenha sido o seu berço. Espraiaram-se por praticamente todos os países da Europa e já mostram força nos Estados Unidos, que amam ver-se a si próprios como os campeões…
O partido nazista alemão tomou forma logo após a Primeira Grande Guerra e sabemos como foi o seu princípio e o seu fim. Agora, depois da Guerra Fria e nos anos recentes, reaparece pelas mãos do neonazismo, a ideologia que volta a assombrar a Alemanha e os outros países europeus com os fantasmas que traz consigo de violência e destruição, intolerância, o primado da crença na raça pura e a discriminação contra homossexuais, estrangeiros, negros e, mais uma vez, os judeus. Além do anticomunismo irracional e violento.
A Alemanha é um importante e culto país cuja história ficou marcada no século 20 pelo nazismo e os seus crimes. O maior deles foi o genocídio contra o povo judeu. O radicalismo da extrema direita levou o país ao enorme conflito da Segunda Guerra Mundial, planejado pelo poder político nas mãos nazistas e que praticamente destruiu o país. A operosidade, disciplina e o talento do povo alemão o reconstruíram e hoje é o estado líder do projeto europeu de unificação. Sua importância faz com que a orientação da sua política, ontem como agora, acabe por afetar todos os países de um continente que até os dias de hoje procura estabelecer um projeto duradouro de paz e desenvolvimento social.
Da forma como a conhecemos, a Alemanha não existiu antes de 1871, quando a Prússia, liderada por Bismarck e que acabara de vencer a guerra com a França, construiu o Estado-nação pela unificação dos inúmeros reinos e ducados que havia naquele território. A proclamação da unidade germânica, na Galeria dos Espelhos do Palácio de Versalhes, foi realizada também para humilhar a França vencida na guerra franco-prussiana que há pouco tivera fim.
Há quem diga que a Guerra Franco-Prussiana de 1870-1871, a Primeira Guerra Mundial de 1914-1918 e a Segunda Guerra Mundial de 1939-1945 foram um único conflito dividido em três etapas.
A ascensão de Adolf Hitler e do nazismo foi consequência do fracasso alemão na Primeira Guerra Mundial e as crises política, econômica e social que a sucederam.
O nazismo e o neonazismo
São jovens entre 16 e 25 anos que formam a mais aguerrida militância dos movimentos neonazistas. Mas estes movimentos não existem apenas na Alemanha, onde talvez tenha sido o seu berço. Espraiaram-se por praticamente todos os países da Europa e já mostram força nos Estados Unidos, que amam ver-se a si próprios como os campeões da liberdade, a ponto de terem feito guerras contra outros países sob o pretexto de implantar a democracia.
O crescimento desse novo, mas velho radicalismo político do neonazismo fez com que especialistas fizessem dele objeto de estudos na busca de entender o que de fato representa. Os jovens deixam-se conquistar por estarem em busca de respostas para questões relacionadas a desajustes de ordem familiar, pessoal ou social. Partem em busca de culpados e acabam apontando as minorias étnicas ou religiosas ou o partido político que se encontra no poder. O primeiro passo é a aceitação cega das teses e valores da extrema direita, como acontece por exemplo com o que vemos hoje no Brasil no fenômeno do bolsonarismo que continua a existir mesmo sem Bolsonaro.
A internet encarrega-se da divulgação e recrutamento. A aceitação de fake news e concepções absurdas, aceitas como naturais, formam o caldo ideológico que constrói as bases desses movimentos.
Itália
A polícia militar italiana – Carabineiros – identificou uma rede neonazista que pretendia explodir instalações da OTAN em colaboração com outros grupos, entre eles alguns baseados em Portugal. Várias páginas dessa organização foram bloqueadas no Facebook, no WhatsApp e na rede social russa VKontakte. Difundiam campanhas racistas, antissemitas e negacionistas.
A Itália, berço do fascismo mussoliniano, cuja experiência política inspirou o partido nazista de Adolf Hitler, tem atualmente sido palco de novos movimentos de extrema direita de cunho neofascista. Doze militantes do grupo que pretendia atacar a OTAN foram levados à justiça e deverão apresentar-se diariamente às autoridades. Entre eles encontra-se Francesca Rizzi, que insultou recentemente a senadora Liliana Segre, sobrevivente de Auschwitz. Francesca Rizzi há foi eleita “Miss Hitler”, num concurso realizado na Rússia.
A organização declaradamente neonazista portuguesa Nova Ordem Social, que colaborava com o grupo neofascista italiano desbaratado, foi declarada clandestina. Seu líder Mario Machado é um conhecido agitador de extrema direita. É o antigo líder do Grupo 1143, a facção mais à direita da Juventude Leonina, a temível torcida organizada do Sporting Clube de Portugal. É também fundador e antigo dirigente da Frente Nacional, fundador e antigo líder da facção neonazista Hammerskins Portugal. Foi condenado a uma pena de 10 anos de prisão pelos crimes de homicídio, chantagem, violência, incitação ao ódio e à violência e discriminação.
Esses movimentos do submundo da política não existiriam sem os partidos de extrema direita que, dentro da legalidade, atuam pelo fim da União Europeia, a derrubada da democracia, a expulsão dos imigrantes e a implantação de regimes reacionários, racistas e beligerantes.
O AfD-Alternativa para a Alemanha e o NPD-Partido Nacional Democrático da Alemanha são dois desses partidos. Este último é considerado e se reconhece como o sucessor direto do NSDAP-Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais conhecido como Partido Nazista. Eles podem ser vistos como aliados do francês Rasseblement National ; dos italianos Liga e Fratelli d’Ítalia, atualmente no poder com a Primieira Ministra Giorgia Meloni; Vox, na Espanha; Partido para a Liberdade, na Holanda; Aurora Dourada, na Grécia e todos os outros de extrema direita ou claramente neonazistas existentes em todos os países da União Europeia com maior ou menor expressão eleitoral. Todos têm mostrado tendência ao crescimento impulsionados pela crise econômica, a queda no padrão de vida e o aumento da imigração e dos refugiados que favorece a xenofobia e o racismo.
*Imagem em destaque: Konrad Adam, Frauke Petry e Bernd Lucke, do AfD-Alternativa para a Alemanha, em 2013 (Wikimedia Commons)
Poeta, articulista, jornalista e publicitário. Traballhou no Diário de Minas como repórter, na Última Hora como chefe de reportagem e no Correio de Minas como Chefe de Redação antes de se transferir para a publicidade, área em que se dedicou ao planejamento e criação de campanhas publicitárias. Colaborou com artigos em Carta Maior e atualmente em Fórum 21. Mora hoje no Porto, Portugal.
É autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965).