O sufoco da direita
O maior adversário da direita tradicional não tem sido os movimentos progressistas de esquerda, mas a corrupção ideológica em suas próprias fileiras que a fez degenerar transformando-se nos movimentos de extrema-direita.
POR CELSO JAPIASSU
O maior adversário da direita tradicional não tem sido os movimentos progressistas de esquerda, mas a corrupção ideológica em suas próprias fileiras que a fez degenerar transformando-se nos movimentos de extrema-direita. Passo a passo o mundo político assiste à canibalização dentro dos círculos conservadores em que um movimento historicamente reacionário se torna ainda mais reacionário.
A direita tradicional e a extrema-direita tomam forma em duas correntes com suas particularidades. A primeira tem uma longa história, principalmente na Europa, enquanto a extrema-direita é um fenômeno recente. Apesar das diferenças ideológicas, ambas ameaçam a democracia liberal e os valores defendidos pelos movimentos progressistas.
Não são profundas as diferenças ideológicas. A direita tradicional, às vezes definida como direita ligth, defende sua concepção de livre iniciativa, o patriotismo, a ordem dentro da sociedade e os valores tradicionais. Posicionou-se historicamente contra os movimentos comunistas e a democracia social. A extrema-direita prega ideias ultranacionalistas, xenófobas, autoritárias e, na maioria dos casos, neofascistas; a defesa da supremacia branca, o antissemitismo e a política de fortalecimento dos interesses da população nativa de um país contra os dos imigrantes incluindo medidas contra a imigração e a assimilação forçada de minorias étnicas e religiosas. É contra o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. São posições em que também se enquadra, em suas nuances, a direita light.
A direita tradicional teve sempre um papel importante na política europeia. Partidos de centro-direita, como o Partido Popular Europeu (PPE), chegaram ao poder em diversos países e ocuparam a presidência da Comissão Europeia.
Nas últimas décadas, a extrema-direita vem crescendo. Partidos como a Frente Nacional na França, o Fidesz na Hungria e a Liga Norte na Itália ganharam força e entraram em governos nacionais e no Parlamento Europeu.
Violência e assédio
A extrema-direita tem se utilizado da violência, intimidação e assédio para silenciar seus críticos. Em Saint-Brevin-les-Pins, uma aprazível comuna do Oeste da França, no ano passado o prefeito Yannick Morez teve sua casa incendiada e junto com sua família sofreu ameaças de morte por ter criado um Centro de Acolhimento de Requerentes de Asilo. O prefeito renunciou e alegou falta de apoio do Estado.
Desde 2017 a inteligência francesa impediu dez atentados terroristas planejados pela extrema-direita.
Em outubro de 2013 um atentado neonazista foi realizado contra a sinagoga Neue Synagoge em Essen, na Alemanha. O ataque não causou vítimas, mas danificou a entrada do prédio.
Enquanto a direita light perde terreno para os radicais, a extrema-direita cresce explorando a crise migratória para promover o discurso anti-imigração e xenófobo; explora também a crise energética ao culpar os imigrantes pela alta dos preços e faz uso da guerra na Ucrânia para promover o ultranacionalismo e o militarismo.
Nas eleições de 2023 a extrema-direita obteve ganhos eleitorais em diversos países europeus, como Itália, Suécia e Hungria. Na Itália, o partido de extrema-direita Irmãos da Itália (Fratelli d’Italia) se tornou o maior partido do país. Os partidos de extrema-direita têm sido bem-sucedidos explorando a crise migratória com a promoção do discurso anti-imigração e xenófobo; a crise energética quando atribui a alta de preços aos imigrantes; e aproveita a guerra na Ucrânia para promover o nacionalismo e o militarismo.
Os partidos
No Parlamento Europeu, agrupados os partidos pela respectiva ideologia, a direita e a extrema-direita possuem uma representação de 324 deputados e a esquerda 186.
São os seguintes os partidos da extrema-direita com maior destaque em cada país:
• Alternativa para a Alemanha (AfD)
• Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD)
Áustria:
• Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ)
Bélgica:
• Interesse Flamengo – Vlaams Belang (VB)
Dinamarca:
• Partido Popular Dinamarquês (DF)
Espanha:
• Vox
Finlândia:
• Partido dos Finlandeses (PS)
França:
• Reunião Nacional (RN)
Grécia:
• Aurora Dourada (XA)
Hungria:
• Fidesz
Itália:
• Irmãos da Itália (FdI)
• Liga Norte (LN)
Noruega:
• Partido do Progresso (FrP)
Países Baixos:
• Partido da Liberdade (PVV)
Polônia:
• Lei e Justiça (PiS)
Portugal:
• Chega!
Suécia:
• Democratas Suecos (SD)
Reino Unido:
• Partido da Independência do Reino Unido (UKIP)
*Imagem em destaque: Manifestantes da marcha de extrema-direita em Charlottesville, 2017, carregando bandeiras dos Estados Confederados da América, de Gadsden e também da suástica nazista (Anthony Crider/Wikimedia Commons).
Poeta, articulista, jornalista e publicitário. Traballhou no Diário de Minas como repórter, na Última Hora como chefe de reportagem e no Correio de Minas como Chefe de Redação antes de se transferir para a publicidade, área em que se dedicou ao planejamento e criação de campanhas publicitárias. Colaborou com artigos em Carta Maior e atualmente em Fórum 21. Mora hoje no Porto, Portugal.
É autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965).