ONU discute admissão da Palestina como membro de pleno direito
Corpos são retirados dos escombros de casas no bairro de al-Nasr, em Rafah, no sul de Gaza. A guerra continua no território palestino no Mediterrâneo oriental, enquanto o Conselho de Segurança das Nações Unidas discute a possível admissão da Palestina como membro de pleno direito da organização. (Imagem: Ziad Taleb/ONU).
CORRESPONDENTE IPS
NAÇÕES UNIDAS – O Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu-se na segunda-feira (8) para discutir a candidatura da Palestina a membro de pleno direito da organização, uma proposta recebida com “água fria” pelos Estados Unidos.
“O Comitê (de Admissão) tem de deliberar durante o mês de abril. Qualquer membro do Conselho pode apresentar uma resolução de adesão para a votação em qualquer altura”, afirmou, no início da reunião, a embaixadora maltesa Vanessa Frazier, que detém a presidência rotativa do Conselho.
Antes da sessão, Roberto Wood, chefe-adjunto da delegação dos EUA na ONU, afirmou: “a nossa posição é a de que a questão da adesão plena da Palestina é uma decisão que deve ser negociada entre Israel e os palestinos”.
“É uma questão do estatuto final ao abrigo dos acordos de Oslo (entre Israel e a Organização de Libertação da Palestina em 1993). As partes têm de chegar a um acordo, e é assim que se deverá concretizar a adesão plena” de um Estado palestino à ONU, frisou Wood.
Atualmente, Israel opõe-se à existência da Palestina como país soberano e a nação tem o estatuto de “Estado observador não membro” na ONU, o mesmo detido pela Cidade do Vaticano.
Composto por 15 membros, o Conselho de Segurança está analisando o pedido palestino, que remonta a 201 e foi reapresentado na semana passada pelo seu delegado na organização, Riyad Mansour.
A recomendação favorável do Conselho de Segurança é um pré-requisito para que a Assembleia Geral da ONU, composta por 193 países, decida sobre a adesão.
O Conselho precisa de pelo menos nove votos a favor entre os 15, e nenhum veto dos cinco membros permanentes: China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia.
Entretanto, na Faixa de Gaza (com a Cisjordânia, um dos dois territórios palestinos ocupados por Israel), palco de uma ofensiva militar israelense de seis meses, verificou-se uma retirada parcial do exército atacante nas zonas meridionais.
A retirada não significa mudanças nos objetivos militares de Israel, mas apenas uma pausa, uma vez que o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu declarou que existe uma data para a invasão de Rafah, cidade mais a sul da Faixa, embora não a tenha revelado.
Rafah, originalmente com cerca de 200.000 habitantes, situada no extremo sul da Faixa e ponto de passagem da fronteira com o Egito, recebeu nos meses do atual conflito mais de um milhão de pessoas deslocadas de outras zonas de Gaza, chegando a cerca de 2,3 milhões de habitantes que se encontram espremidos num espaço de 365 quilômetros quadrados.
Alguns refugiados estão se deslocando agora para a cidade de Khan Younis, imediatamente a norte de Rafah, onde um ataque israelense poderá ter consequências humanitárias desastrosas, segundo as agências da ONU.
O atual curso do conflito eclodiu após a milícia islâmica Hamas ter atacado o sul de Israel a partir de Gaza, em 7 de outubro, matando 1200 pessoas e fazendo cerca de 250 reféns, segundo Tel Aviv.
A resposta militar israelita matou cerca de 33.000 pessoas e feriu mais de 73.000, de acordo com fontes palestinas, e destruiu milhares de edifícios e instalações que forneciam alimentos, água, eletricidade, combustível, comunicações, serviços de saúde e educação.
As agências humanitárias coordenadas pela ONU estão conseguindo levar ajuda à população palestina, mas de forma insuficiente e intermitente, por meio de caminhões que chegam do Egito via Rafah, e exigem que Israel permita a entrada de mais ajuda humanitária a partir do porto israelita de Ashdod, ao norte da Faixa.
As conversações prosseguem – com o Egito, os EUA e o Qatar como mediadores – para mediar um cessar-fogo que permita a entrada de mais ajuda humanitária em Gaza, e a libertação de alguns dos 133 reféns que se acredita estarem em posse do Hamas.
Artigo publicado na Inter Press Service.
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