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Informalidade e pobreza dificultam o trabalho na América Latina

Na recuperação da mão-de-obra, as ocupações informais representavam entre 40 e 80 % dos empregos gerados. Embora nos últimos meses esta tendência tenha sido atenuada a favor de empregos formais, a taxa de informalidade regional atingiu agora 50% 


Os empregos estão se recuperando na América Latina e Caribe, embora uma elevada percentagem deles esteja em ocupações informais, com rendimentos precários e sem segurança social, aumentando o desafio da pobreza na região, diz um novo relatório da OIT. Foto: WB
 LIMA – Informalidade, pobreza e desemprego persistem como fardos no mercado de trabalho na América Latina e Caribe, reconheceu a Organização Internacional do Trabalho (OIT) num relatório divulgado na terça-feira (7), apelando ao desenvolvimento de políticas para promover o emprego formal.
 
“A realidade é que uma em cada duas pessoas trabalha na economia informal, que é frequentemente acompanhada pela instabilidade do emprego, baixos salários, e nenhuma proteção social”, disse Claudia Coenjaerts, a diretora regional responsável da OIT, ao apresentar a nova edição da Visão Geral Regional da organização.
 
Para a chefe da OIT, “neste momento, é urgente implementar e reforçar diferentes tipos de políticas que contribuam para a criação de emprego formal e a sustentabilidade dos rendimentos do trabalho” na região.
 
O relatório afirma que a taxa média estimada de desemprego regional no final de 2022, de 7,2%, “é significativamente inferior” à de 2019, antes da crise causada pela pandemia de covid-19, que era de 8%.
 
Este declínio na taxa de desemprego foi impulsionado pela criação de emprego, que no terceiro trimestre de 2022 recuperou os níveis pré-pandêmicos, juntamente com uma recuperação ainda incompleta da taxa de participação da força de trabalho, que continua a ser ligeiramente inferior à de 2019.
 
Segundo a OIT, a força de trabalho na América Latina e Caribe era de 307 milhões em 2019, 310 milhões em 2022, e atingirá 315 milhões este ano.
 
O número de pessoas empregadas era de 463 milhões em 2019, caiu para 460 milhões em 2022 e atingirá 469 milhões este ano. Ao mesmo tempo, o desemprego afetou 28,8 milhões de pessoas tanto em 2019 como em 2022, e cairá em mais de um milhão este ano para um valor estimado em 27,6 milhões.
 
A recuperação do emprego em 2022 foi mais forte entre as mulheres do que entre os homens, e entre os jovens do que entre os adultos. Em ambos os casos, estes são grupos que tinham sido ferozmente atingidos na crise do emprego pela covid-19.
 
No entanto, as lacunas estruturais de gênero e idade ainda estão presentes nos mercados de trabalho, afirmou.
Coenjaerts disse que “a queda no desemprego é uma notícia positiva, especialmente depois da crise em grande escala causada pela pandemia”.
 
Mas este ano este progresso poderá estagnar, uma vez que “o fraco dinamismo econômico previsto para 2023 irá afetar negativamente a geração de novos empregos e isto levará a mudanças no desemprego em 2023”, atingindo níveis entre 7,2% e 7,5%.
 
Além disso, em nove dos 15 países analisados, a taxa de emprego era ainda mais baixa do que três anos antes, e em apenas dois era a taxa de participação acima dos níveis pré-pandêmicos. A taxa de desemprego caiu em 10 dos 15 países até o terceiro trimestre de 2022.
 
Segundo a OIT, a região “é afetada pela combinação de crises globais, tais como a pandemia contínua ou a guerra entre Rússia e Ucrânia, e ao mesmo tempo enfrenta a perspectiva de um baixo crescimento econômico, as consequências de uma inflação elevada, espaço fiscal limitado e elevados níveis de endividamento”.
 
Coenjaerts afirmou que “neste cenário econômico, o problema laboral mais urgente para a região é a qualidade do emprego e a insuficiência da mão-de-obra e do rendimento total gerado pelos trabalhadores e suas famílias”.
 
Na recuperação da mão-de-obra, as ocupações informais representavam entre 40 e 80 % dos empregos gerados. Embora nos últimos meses esta tendência tenha sido atenuada a favor de empregos formais, a taxa de informalidade regional atingiu agora 50%, como era antes da pandemia, embora em alguns países seja muito mais elevada.
 
Coenjaerts salientou que, segundo a OIT, “os trabalhadores informais têm três a quatro vezes mais probabilidades de serem pobres do que os trabalhadores formais, sendo responsáveis por 70 a 90 % do total da pobreza laboral”.
 
Além disso, o relatório adverte que os rendimentos reais dos trabalhadores da região estão sendo afetados por uma taxa de inflação regional superior a oito por cento em 2022, causando uma perda de poder de compra de salários médios e salários mínimos.
 
No caso do salário mínimo, por exemplo, em nove dos 17 países analisados, o valor real era inferior ao de antes da pandemia.
 
“O impacto da informalidade, juntamente com o impacto da perda do poder de compra dos salários, é fundamental para compreender porque devemos estar atentos ao ‘fenômeno dos trabalhadores pobres'”, disse Roxana Maurizio, economista da OIT e coordenadora da Visão Geral do Trabalho.
 
Os “trabalhadores pobres” são as pessoas que podem estar em emprego formal mas que podem estar na pobreza.
Maurizio explicou que, na região, o rendimento do trabalho representa 80% do rendimento familiar, sendo por isso essencial para compreender as entradas e saídas de pessoas que vivem na pobreza.
 
Para enfrentar esta situação “são necessárias políticas para manter e criar mais e melhores empregos, especialmente empregos formais”, insistiu Maurizio.
 
A-E/HM

 Publicado originalmente em IPS Noticias
https://ipsnoticias.net/2023/02/informalidad-y-pobreza-lastran-al-trabajo-en-america-latina/

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