O papel das mulheres nas associações de imigrantes mexicanos nos EUA
Uma manifestação para apoiar a reforma política no México, domingo, 27 de novembro de 2022, em Los Angeles, Califórnia. Foto: Shutterstock / Ringo Chiu
A história das associações de imigrantes mexicanos nos Estados Unidos remonta há mais de setenta anos, mas foi na década de 1990 que sua visibilidade aumentou graças ao trabalho filantrópico em favor de suas comunidades no México, assim como por sua participação em programas de cooperação com o governo mexicano na promoção do desenvolvimento local, que passou a ser conhecido como co-desenvolvimento.
GUADALAJARA, México – A história das associações de imigrantes mexicanos nos Estados Unidos remonta há mais de setenta anos, mas foi na década de 1990 que sua visibilidade aumentou graças ao trabalho filantrópico em favor de suas comunidades no México, assim como por sua participação em programas de cooperação com o governo mexicano na promoção do desenvolvimento local, que passou a ser conhecido como co-desenvolvimento.
Hoje é comum a presença de lideranças femininas dentro dessas associações. No entanto, não era décadas atrás.
Elas, as mulheres, esposas, filhas, vizinhas, amigas, tias, avós etc. foram as pioneiras na organização de coletas para a população mais desfavorecida em suas comunidades de origem no México, o que pavimentou as bases para o nascimento dos clubes de imigrantes nos Estados Unidos ou Hometown Associations (como são conhecidas em inglês). No entanto, seu papel principal foi reconhecido somente décadas depois.
Numa primeira fase (década de 1950 a 1980), no âmbito público, elas desempenharam o papel de assistentes e acompanhantes de diversas reuniões de gestão e eventos sociais para os quais eram convocados os homens que ocupavam cargos dirigentes nestas associações de imigrantes. No âmbito privado, porém, elas se encarregavam de apoiar com campanha de alimentos e bebidas, com a logística básica das próprias reuniões (limpeza do local, organização do mobiliário etc.) e em algumas ocasiões da elaboração das atas e também tomavam notas dos acordos gerados.
Com o passar do tempo, numa segunda fase (década de 1990), a própria dinâmica das associações, a consolidação de suas funções e a abrangência que passaram a ter no âmbito binacional permitiram que as mulheres se integrassem para participar de atividades e cargos que exigiam maior comprometimento e visibilidade pública.
Assim, foram publicamente reconhecidas como responsáveis por eventos culturais, sociais e desportivos, angariação de fundos, bem como pelos famosos concursos de beleza característicos destas associações.
Um reconhecimento lento
Este reconhecimento foi mais longe com a nomeação oficial de mulheres como secretárias de atas e acordos, de comissões sociais, de relações públicas e doações, entre outras.
Paralelamente, continuaram o trabalho de organizar todo tipo de atividades, no âmbito das associações ou fora delas, com ou sem reconhecimento formal, para levar alimentos, remédios, roupas e equipamentos médicos aos menos favorecidos de ambos os lados da fronteira.
Em uma terceira etapa (do ano 2000 até hoje), tanto pelo maior amadurecimento das associações, quanto pela experiência das mulheres na esfera pública, elas obtiveram assentos mais altos no conselho de administração, posicionando-se como líderes.
Mulheres empoderadas
Agora suas funções não se limitavam mais à esfera da administração e/ou lobby junto a governantes binacionais, mas se estenderam para contribuir com o empoderamento de outras mulheres, inclusive em nível binacional, organizando oficinas de capacitação em questões de cidadania, trabalhista e política, direitos, empreendimentos comerciais, bem como fóruns de saúde, educação e cultura, para citar alguns.
Na última década, a incidência de mulheres imigrantes mexicanas líderes dessas associações também foi significativa na esfera política norte-americana, uma vez que ocuparam cargos públicos tanto em governos locais, quanto em câmaras e conselhos empresariais, contribuindo para o bem-estar e desenvolvimento das comunidades migrantes.
Da mesma forma, a liderança dessas mulheres também as levou a ocupar cargos políticos dentro do governo mexicano como deputadas migrantes, sendo porta-vozes da agenda migratória binacional no nível parlamentar.
Questões como o voto dos mexicanos no exterior, a criação de secretarias de migrantes em cada estado e a proteção dos direitos dos migrantes refugiados tornaram-se iniciativas promovidas por essas lideranças femininas. Assim, em âmbito binacional, os cenários de curto e médio prazo são promissores para essas mulheres.
Por fim, é possível afirmar que hoje a participação de mulheres em associações de imigrantes mexicanos residentes nos Estados Unidos mostra-se bastante relevante.
Foram e continuam a ser um ator fundamental nos processos de integração na sociedade de acolhimento, e são uma figura estratégica na promoção do bem-estar e desenvolvimento das suas comunidades de origem, atuando como lobistas políticos de sucesso em ambos os lados da fronteira .
Desta forma, elas estão se consolidando cada vez mais como referências identitárias emergentes para as gerações futuras.
Leticia Hernández Veja é pesquisadora do fenômeno da migração México-Estados Unidos da Universidade Mexicana de Guadalajara