Um terço dos latino-americanos continua na pobreza

Um terço dos latino-americanos continua na pobreza

Estudo da CEPAL revela que, em fins de 2022, 201 milhões de pessoas estavam submetidas à pobreza e 82 milhões à extrema-pobreza na América Latina. Confira a íntegra do documento.

POR CORRESPONDENTE IPS

SANTIAGO – Mais de 200 milhões de pessoas, quase um terço da população da América Latina e do Caribe, vivem na pobreza e pelo menos 80 milhões estão em extrema pobreza, ou seja, sem a renda necessária para cobrir as necessidades alimentares mínimas, indica um novo estudo da CEPAL.

“A pobreza na região continua em níveis elevados e inaceitáveis”, afirmou José Manuel Salazar-Xirinachs, secretário executivo da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) ao apresentar o estudo nesta terça-feira, 3, durante a quinta reunião da Conferência Regional sobre Desenvolvimento Social.

Segundo as projeções da CEPAL, “32,1% da população da região (201 milhões de pessoas) estavam na pobreza no final de 2022 e 13,1% (82 milhões) estavam na pobreza extrema”, indicou Salazar.

A apresentação do estudo Institucionalidade Social na América Latina e no Caribe abriu os trabalhos da conferência que analisa a institucionalidade, a governança e as tarefas das entidades estatais de desenvolvimento social.

“Para que os Ministérios do Desenvolvimento Social ou seus equivalentes atinjam os seus objetivos de inclusão e proteção social, é importante ter uma visão abrangente, que articule o crescimento, o desenvolvimento produtivo e as políticas do mercado de trabalho com as políticas sociais”, aponta Salazar-Xirinachs.

A análise da CEPAL indica que o crescimento econômico regional tem sido muito fraco, apenas 0,8% na década 2014-2023, o mais baixo desde 1951, muito inferior até mesmo à taxa média anual da “década” perdida no século passado, de 2,0%.

Na mesma década 2014-2023, a taxa média de crescimento do emprego foi de apenas 1,3%, a mais baixa dos últimos 70 anos. Outro dado concreto é que 47,9% dos trabalhadores da região são informais, e as mulheres representaram 69,8% do total de inativos em 2022.

Uma elevada proporção de famílias vive em condições vulneráveis na América Latina. Em 2021, quase 60% da população latino-americana pertencia ao extrato baixo, vivendo com rendimentos equivalentes a menos de 1,8 linhas de pobreza, e quase 80% viviam com rendimentos inferiores a três linhas de pobreza.

Ao apresentar as características sociodemográficas da pobreza, o estudo da CEPAL indica que 44,1% dos que vivem em áreas rurais vivem nesta condição, e o segmento de pobreza crítica corresponde a 21,2% das pessoas.

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Entre os povos indígenas, 46,3% das pessoas são pobres e 18,5% delas estão em situação de pobreza crítica. Dos afrodescendentes, 30% são pobres e 10,5% estão em situação de pobreza crítica. Entre aqueles que não são indígenas nem afrodescendentes, a pobreza chega a 24,9% e a pobreza crítica chega a 7,2%.

O nível de escolaridade é uma marca fundamental: onde o responsável pelo lar e seu cônjuge não concluíram o ensino primário, 46,8% são pobres e 20,8% estão em situação de pobreza crítica. No outro extremo, quando esses responsáveis concluem o ensino superior, a pobreza afeta 9% e apenas 4,9% estão em situação de pobreza crítica.

Os gastos sociais do governo central na região representam, em média, 13% do Produto Interno Bruto (PIB) – mais elevados na América do Sul e nas Caraíbas, e menos na América Central e no México – e são direcionados principalmente para a proteção social (como pensões e transferências monetárias), educação e saúde.

Quando comparado com o tamanho da população de cada país, o gasto médio per capita, em dólares a preços constantes de 2018, foi de US$ 1.160 na América Latina (US$ 1.529 na América do Sul e US$ 745 na América Central, México e República Dominicana) e US$ 2.140 no Caribe.

Para efeito de comparação, a situação dos países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (maioria das economias industrializadas) em 2021 mostra uma despesa social média com cobertura do governo central de 32,5%.

Com base nessas bases e números – que serão analisados ​​por representantes dos governos da região e agências de cooperação durante a conferência – o estudo propõe aprofundar a orientação dos gastos públicos e o fortalecimento dos ministérios de Desenvolvimento Social, para enfrentar as realidades naqueles que concretizam a pobreza.

Artigo originalmente publicado na Inter Press Service.


FOTO DE CAPA: A pobreza se espalha em um assentamento urbano no Peru. Quase um terço dos habitantes da América Latina e das Caraíbas, mais de 200 milhões de pessoas, continuam atolados na pobreza, e uma grande parte deles em pobreza crítica, sem rendimentos suficientes para cobrir a sua alimentação. Imagem: Oxfam

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