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Revoluções socialistas com governos militarizados

Revoluções socialistas com governos militarizados

As revoluções ditas socialistas, em geral, resultaram em governos fortemente militarizados. Este fenômeno foi observado em diversos exemplos históricos, onde as vanguardas dos regimes emergentes das revoluções socialistas centralizaram o poder e utilizaram o aparato militar para manter o controle e implementar suas políticas.

Desde logo, destaca-se a primeira: após a Revolução de Outubro de 1917, os bolcheviques, liderados por Vladimir Lenin, tomaram o poder na Rússia. A guerra civil subsequente (1917-1922) entre os bolcheviques (Exército Vermelho) e seus adversários (Brancos e outros) exigiu uma mobilização militar massiva.

O novo governo soviético estabeleceu uma ditadura do proletariado, fortemente centralizada e militarizada. O Exército Vermelho, liderado por Leon Trotsky, tornou-se uma instituição central do Estado soviético.

O regime utilizou a repressão militar para consolidar o poder e eliminar a oposição. Durante o governo de Joseph Stalin, o militarismo se agravou com prisões e assassinatos de inimigos internos e a expansão militar. Priorizou a industrialização bélica.

Na Revolução Chinesa (1949), após uma longa guerra civil, o Partido Comunista Chinês, liderado por Mao Tsé-Tung, derrotou as forças nacionalistas de Chiang Kai-shek. A luta armada e a mobilização militar foram fundamentais para a vitória comunista.

Em consequência, o Partido Comunista Chinês estabeleceu um estado socialista fortemente centralizado e militarizado. O Exército de Libertação Popular desempenhou um papel crucial na consolidação do poder.

O governo o utilizou para implementar políticas internas e suprimir qualquer dissidência. O militarismo também foi evidente durante a Revolução Cultural e outras campanhas políticas com características militarizadas, inclusive nos uniformes dos dirigentes.

Na Revolução Cubana (1959), Fidel Castro e seus seguidores, incluindo Ernesto Che Guevara, lideraram uma luta armada contra o regime de Fulgêncio Batista. Após a vitória, o novo governo estabeleceu um regime socialista igualmente uniformizado.

O governo de Fidel Castro foi altamente centralizado, com as Forças Armadas Revolucionárias (FAR) e as brigadas, em cada quadra de Havana, desempenhando papéis fundamentais na manutenção do regime. A revolução cubana resultou em um Estado onde o exército e as milícias agiram na defesa da revolução e na repressão diante de qualquer oposição interna.

Na Revolução Sandinista na Nicarágua (1979), a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) liderou uma insurreição armada contra a ditadura de Anastasio Somoza Debayle. Após a vitória, os sandinistas estabeleceram um governo dito socialista.

O novo regime sandinista centralizou o poder e militarizou várias instituições do Estado. Durante os anos 80, a Nicarágua enfrentou a guerra de contrarrevolução, onde os sandinistas usaram o exército e milícias para defender o governo e implementar suas políticas.

Na Revolução Vietnamita (1945-1975), após a Segunda Guerra Mundial, os comunistas vietnamitas liderados por Ho Chi Minh lutaram contra o domínio colonial francês e depois contra o governo do Vietnã do Sul, apoiado pelos EUA. Após a vitória em 1975, o Vietnã foi reunificado sob um governo comunista, com forte centralização e militarização.

O exército desempenha um papel central no governo e na sociedade, tanto na defesa do país quanto na implementação das políticas do Partido Comunista.

Praticamente todas as revoluções socialistas conduziram a governos muito militarizados, devido a várias razões:

1.           consolidação do poder: a necessidade de consolidar o poder e eliminar a oposição interna e externa levou à centralização do controle militar;

2.           legados de conflito: a origem dessas revoluções em lutas armadas e guerras civis criou uma cultura de militarização e uma dependência das Forças Armadas para manter a ordem;

3.           ideologia e segurança: a defesa da revolução e a proteção contra ameaças reais ou percebidas levaram à militarização do Estado e da sociedade.

Esses fatores contribuíram para quase todos os regimes socialistas utilizassem o aparato militar como um pilar central de seu governo, resultando em estados fortemente militarizados. Em consequência, viraram ditaduras não do proletariado, mas sim dos militares.

Dada a semelhança em aparato militar, cabe comparar os crimes contra a humanidade cometidos por Joseph Stalin e Adolf Hitler. É um tema complexo e sensível, pois envolve diferentes contextos históricos, motivações e métodos de repressão e violência. No entanto, ambos os líderes são responsáveis por atrocidades, em grande escala, resultantes na morte de milhões de pessoas.

Os crimes desumanos de Joseph Stalin se iniciaram com a fome de milhares de pessoas, levando-as à morte, devido à coletivização agrícola. Nos anos 1930, implementou a coletivização forçada da agricultura na União Soviética, provocando a destruição de propriedades agrícolas privadas e à criação de fazendas coletivas.

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Como não bastasse, sua política de coletivização, juntamente com a requisição de grãos pelo Estado, contribuiu para a fome na Ucrânia (1932-1933), conhecida como Holodomor. Também resultou na morte de milhões de ucranianos. Estimativas variam, mas as mortes são geralmente calculadas entre 3 e 7 milhões pessoas.

Durante o Grande Expurgo (1936-1938), Stalin realizou uma série de campanhas de repressão política, execuções, e deportações em massa. Entre 600.000 e 1,2 milhão de pessoas foram executadas, além de milhões terem sido enviadas para campos de trabalho forçado (Gulags) por causa dos expurgos políticos dos dissidentes ou discordantes opositores de suas ideias.

Essas pessoas eram desde dissidentes políticos até minorias étnicas. Muitas morreram devido às condições brutais, trabalho exaustivo, fome e doenças.

Em comparação, equivalem aos crimes de Adolf Hitler com o Holocausto ou extermínio sistemático. Sob o regime nazista, Hitler e seu governo implementaram a “Solução Final” com o propósito de extermínio dos judeus na Europa. Aproximadamente 6 milhões de judeus foram mortos em campos de extermínio, fuzilamentos em massa e guetos.

Além dos judeus, o regime nazista perseguiu e exterminou milhões de outras pessoas, incluindo ciganos, eslavos, prisioneiros de guerra soviéticos, pessoas com deficiência, homossexuais e dissidentes políticos. As estimativas do total de mortos variam, mas geralmente são calculadas entre 11 a 17 milhões.

As guerras de conquista e genocídio de ambos –  Stalin e Hitler – não devem ser relativizadas em termos de números de vítimas. As políticas expansionistas e racistas de Hitler levaram à Segunda Guerra Mundial, resultante na morte de aproximadamente 70 milhões de pessoas, incluindo civis e militares.

As políticas raciais nazistas visavam a “pureza racial”. Incluíam a esterilização forçada e o assassinato de pessoas consideradas “indesejáveis”.

Em comparação, é lamentável a tal ponto chegar suas motivações e ideologias. As atrocidades de Stalin foram principalmente motivadas pela consolidação de poder político, a implementação de políticas econômicas socialistas, e a eliminação de qualquer oposição ao seu regime. Os crimes de Hitler foram impulsionados por uma ideologia racista e expansionista, com o objetivo de criar uma sociedade ariana pura e expandir o território alemão.

As repressões políticas, a fome induzida e os campos de trabalho forçado foram os métodos principais de Stalin. Embora menos focado no genocídio racial, as políticas dele resultaram em mortes em massa por fome, execuções e condições brutais nos Gulags.

O genocídio sistemático, especialmente através do Holocausto, e a guerra total foram os métodos principais de Hitler. O extermínio de grupos específicos, especialmente os judeus, foi uma característica central de sua política.

O impacto do regime de Stalin é evidente na devastação social e econômica na União Soviética e no trauma prolongado das repressões. O legado de Stalin é de uma sociedade profundamente marcada pelo medo e pela desconfiança.

O legado do regime nazista é de um dos maiores genocídios da história, além de uma guerra devastadora. O Holocausto permanece um símbolo do mal extremo e da destruição racista.

Embora as motivações e métodos de Stalin e Hitler fossem diferentes, ambos os regimes resultaram em crimes contra a humanidade em uma escala sem precedentes. As atrocidades cometidas por ambos os líderes causaram a morte de milhões e deixaram cicatrizes inesquecíveis nas sociedades afetadas.

Comparar esses crimes não é trivial, mas é essencial reconhecer a magnitude das atrocidades cometidas por ambos. Há necessidade de lembrar e aprender com esses capítulos sombrios da história humana. Não se deve tolerar o neofascismo com o propósito de repeti-los ao exterminar seus adversários e os imigrantes indesejados.

Na imagem, militares marcham em Pequim durante a cerimônia de comemoração dos 70 anos da revolução que deu origem ao regime comunista chinês / Liu Xu/Xinhua

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