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03/10/2024
(Presídio Político de São Paulo, 1975)
E sobreveio um Tempo sem entranhas. Anos de pedra espessa,/ dias de muro e medo:// a morte invadiu/ com seus exércitos/ o espaço aberto das ruas// e o silêncio das armas/ sepultou com seus ferros/ e o manto verde-oliva/ os ossos dos meninos trucidados.// E os coveiros do Continente/ estenderam seu império/ de delatores,/ carrascos,/ elegantes assassinos/ de farda impecável/ e coturnos reluzentes,// até o porão das fábricas, a marcha dos retirantes,/ os barracos das favelas, os bancos das escolas,/ os sonhos dos saqueados,// até a última fresta/ onde a boca dos humanos/ passasse ao humano ouvido/ palavras de rebeldia.// E a noite pensou de si mesma/ que era um Tempo sem prazo,// sem passado, sem futuro,/ um Tempo que se bastava,/ da própria dor se nutria.// Os olhos da Noite cega/ não viram fagulhas saltando/ na alma das oficinas,/ não viram tochas ardendo/ na marcha dos retirantes,// não viram os favelados/ recriando o fogo vivo/ nas estações depredadas,// e os olhos dos estudantes/ clareando de esperança/ as ruas submetidas.// Os olhos da Noite cega,/ não viram o sonho do Povo/ reacendendo fogueiras/ no ventre da escuridão/ enquanto busca romper/ as turvas cadeias do sol// e AMANHECER!
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