Mídia internacional repercute atentado terrorista em Brasília e sua relação com a extrema direita
ATAQUE TERRORISTA EM BRASÍLIA
O ataque terrorista seguido de suicídio, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, na noite de ontem, domina as manchetes desta quinta-feira (14) da mídia internacional sobre o Brasil. O autor, Francisco Wanderley Luiz, tentou invadir sem sucesso a sede do Supremo Tribunal Federal (STF) e provocou uma explosão, morrendo no local. Momentos antes, um veículo registrado em seu nome já havia explodido em um estacionamento próximo à Câmara dos Deputados.
Luiz, de 59 anos, era Catarinense de 59 anos, Luiz foi candidato a vereador em Rio do Sul nas eleições de 2020 pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Era conhecido como “Tiu França” nas redes sociais, onde seguia páginas de extrema direita, como Movimento Avança Brasil e Brasil Paralelo, e postava ameaças contra figuras públicas, incluindo o ex-presidente José Sarney, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o jornalista William Bonner. Em uma de suas últimas postagens, ele fez referência a um “jogo” que teria início em 13 de novembro e terminaria em 16 de novembro, sugerindo que algo sério ocorreria nesse período.
A Polícia Federal (PF) informou que Luiz transportou um caminhão carregado de explosivos de Santa Catarina até Brasília, além de manter em sua casa, em Ceilândia, a 30 quilometros da capital federal, outros materiais usados na fabricação de bombas caseiras. A PF também localizou uma mensagem escrita em um espelho na casa de Luiz, com referência ao ataque de 8 de janeiro de 2023 em Brasília, quando apoiadores de Bolsonaro invadiram o STF, o Congresso e o Palácio do Planalto. À PF, a ex-esposa Luiz revelou à PF que seu objetivo era assassinar o ministro do STF Alexandre de Moraes.
O vice-presidente Geraldo Alckmin classificou o ataque como “triste e grave” e pediu agilidade e rigor nas investigações, chamando-o de “atentado contra uma instituição da República”. Bolsonaro se manifestou lamentando o ataque e repudiando “todo e qualquer ato de violência”, pedindo pacificação.
Alexandre de Moraes declarou que o ataque não pode ser considerado um caso isolado e alertou que o ocorrido reflete uma trama que começou há tempos, com discursos de ódio contra instituições como o STF e a autonomia do Judiciário. Ele mencionou a “gabinete do ódio” – núcleo de auxiliares e assessores de Bolsonaro que, segundo as investigações da Polícia Federal, teria o objetivo de espalhar notícias falsas e atacar adversários durante a gestão do ex-presidente – como origem dessas ameaças, que usam de forma distorcida o conceito de liberdade de expressão. “Isso não é liberdade de expressão; isso é crime”, enfatizou.
Moraes também atribuiu aos discursos antidemocráticos o ataque de 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores radicais de Bolsonaro invadiram o Congresso Nacional, o STF e o Palácio do Planalto pedindo intervenção militar. Ele reforçou que a pacificação exige responsabilização, sem anistia para os criminosos, e que a impunidade apenas aumenta a agressividade, como demonstrado no atentado.
No momento das explosões, o presidente Lula já havia deixado o Palácio do Planalto. O Governo Federal ainda não se pronunciou oficialmente sobre o incidente. O STF e a Câmara dos Deputados suspenderam suas atividades pela manhã desta quinta (14), enquanto o Senado permaneceu fechado o dia todo.
O atentado causou grande preocupação no país, especialmente por ocorrer dias antes da Cúpula do G20, que será realizada no Rio de Janeiro na próxima semana, e da visita oficial do presidente chinês Xi Jinping a Brasília.
As autoridades investigam possíveis cúmplices e buscam dispositivos eletrônicos que possam revelar mais detalhes, inclusive sobre o financiamento do ataque (Ámbito, O Guardião, Agência EFE, Página/12, Diário de Sevilla, Prensa Latina).
MACRON VOLTA AO BRASIL
Após sua visita ao Brasil em março, Emmanuel Macron está de volta à América Latina neste fim de semana, para um tour de seis dias que passará por Argentina, Brasil (para o G20) e Chile. A viagem representa uma nova fase na política externa do presidente francês, que se afastou da região durante seu primeiro mandato (2017-2022). Seu objetivo agora é fortalecer a presença da França em uma região disputada por grandes potências, como a China.
Com o apoio de seus aliados europeus, Macron quer investir na criação de uma economia verde na América Latina, área rica em recursos como o lítio, essencial para a transição ecológica. Depois do G20 no Rio de Janeiro, o presidente francês seguirá para o Chile, onde se encontrará com o presidente Gabriel Boric e fará um discurso no Congresso Nacional, em Valparaíso. Na Argentina, ele tentará convencer Javier Milei a aderir novamente ao consenso climático, e, no G20, apoiará a proposta do Brasil de tributar as multinacionais e combater a evasão fiscal (El Mercúrio).
VADELL VOLTA A BRASÍLIA
O embaixador venezuelano Manuel Vadell anunciou que retomará suas funções em Brasília na próxima segunda-feira (18), após um período de tensão diplomática entre Brasil e Venezuela. Ele havia sido convocado de volta a Caracas em 30 de outubro, após o governo brasileiro questionar a legitimidade das eleições presidenciais venezuelanas, realizadas em julho. As críticas do presidente Lula ao processo eleitoral levaram Nicolás Maduro a acusar o Brasil de “ingerência” e a chamar o embaixador como forma de protesto. A crise se intensificou com o veto brasileiro à entrada da Venezuela no bloco Brics, um objetivo antigo de Maduro.
No entanto, nos últimos dias, Lula adotou uma posição mais cautelosa, afirmando que “Maduro é um problema da Venezuela”, evitando intervenções diretas. O chanceler Mauro Vieira também declarou que o Brasil não pretende romper laços diplomáticos, o que contribuiu para aliviar as tensões e viabilizar o retorno de Vadell a Brasília (La Nación).
*Imagem em destaque: Reprodução/PM-DF