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Meio século de inovações disruptivas

Meio século de inovações disruptivas

O modelo convencional de crescimento econômico explica essa tendência de longo prazo com base na acumulação de capital, crescimento populacional e progresso tecnológico. O Modelo de Ciclos Reais de Negócios é ainda mais reducionista, porque explica as flutuações econômicas com base em choques tecnológicos e a resposta dos agentes dotados de expectativas racionais a eles.

Neles, o progresso tecnológico é considerado exógeno, ou seja, não é explicado pelas forças do mercado consideradas no modelo. A produção é influenciada por um nível de tecnologia possível de sofrer choques ou variações inesperadas.

Na realidade, a inovação tecnológica disruptiva é provocada por uma combinação complexa de fatores tecnológicos, econômicos, sociais e empresariais. Ao contrário das inovações incrementais, capazes de melhorar gradualmente produtos ou processos existentes, as inovações disruptivas criam mercados ou transformam radicalmente os existentes, muitas vezes tornando obsoletas as tecnologias ou modelos de negócio dominantes.

Avanços em áreas como ciência dos materiais, biotecnologia, inteligência artificial, e computação quântica criam as bases para inovações disruptivas. Por exemplo, a descoberta do transistor foi um avanço científico e levou ao desenvolvimento de computadores pessoais e, posteriormente, à revolução digital.

A combinação de diferentes tecnologias em uma única solução é disruptiva. A convergência de internet, computação móvel e inteligência artificial criou a base para o surgimento de novas plataformas e negócios digitais.

Mercados com necessidades não atendidas ou com consumidores insatisfeitos são propícios. Ao identificar essas lacunas e oferecer soluções novas o inovador transforma mercados inteiros.

As inovações disruptivas começam oferecendo produtos ou serviços mais simples e acessíveis diante dos existentes. Atendem a uma nova base de consumidores anteriormente sem acesso a esses produtos ou serviços.

Envolvem novos modelos de negócio capazes de romper com a lógica dominante. Exemplos incluem o modelo de assinatura, como no streaming de música ou vídeo, ou o modelo de economia compartilhada como o Airbnb ou Uber.

Inovações disruptivas também ocorrem através da eliminação de intermediários. Permitem os consumidores interagirem diretamente com os produtores, como no caso das plataformas de comércio eletrônico ou das criptomoedas.

Ambientes regulatórios, caso incentivem a experimentação e a entrada de novos competidores, estimulam a inovação disruptiva. A desregulamentação de setores, como o bancário ou de telecomunicações abriu espaço para novos modelos de negócio disruptivos como as fintechs e os bancos digitais.

Recessões ou crises econômicas criam oportunidades para inovações disruptivas, caso as empresas e os consumidores busquem alternativas mais econômicas. Por exemplo, crises energéticas incentivaram as tecnologias renováveis.

Indivíduos ou equipes com disposição para desafiar o status quo desempenham um papel crucial na inovação disruptiva. Esses empreendedores adotam uma abordagem experimental e iterativa para testar novas ideias e tecnologias.

Ambientes como Silicon Valley são ecossistemas de inovação. Oferecem uma combinação de talento, capital de risco, infraestrutura e cultura de inovação.

Empresas com forte concorrência buscam inovação disruptiva como uma forma de se diferenciar e ganhar vantagem competitiva. Em mercados saturados, a inovação disruptiva é uma maneira de criar mercados ou redefinir os existentes.

Algumas empresas colocam a inovação no centro de sua estratégia empresarial, dedicando recursos suficientes à pesquisa e desenvolvimento. Ficam em uma posição mais favorável para desenvolver tecnologias disruptivas.

A colaboração entre empresas, universidades e centros de pesquisa acelera a inovação disruptiva, combinando conhecimentos e recursos de diferentes disciplinas e setores. O conceito de inovação aberta, onde empresas buscam ideias e soluções externas por meio de startups, hackathons etc., integra novas perspectivas e tecnologias externas à organização.

A inovação tecnológica disruptiva é resultado de uma confluência de fatores tecnológicos, econômicos, sociais e organizacionais. Ela é impulsionada por novas descobertas científicas, mudanças nas necessidades do mercado, novos modelos de negócio, condições econômicas e regulatórias favoráveis, e uma cultura de empreendedorismo e inovação. Ao identificar e explorar esses fatores, empresas e empreendedores ficam na vanguarda de mudanças tecnológicas e têm o potencial de transformar indústrias inteiras e criar paradigmas econômicos novos.

Desde quando me graduei em Ciência Econômica, nos últimos cinquenta anos,  presenciei várias inovações disruptivas. Transformaram profundamente a economia, a sociedade e o modo de vida global. Essas inovações introduziram novos paradigmas, criando indústrias inteiramente novas ou revolucionando as existentes.

Lembro-me de ter escrito minha tese de doutoramento em um Apple II em 1986. A introdução dos computadores pessoais tornou a computação acessível a indivíduos e pequenas empresas, transformando a produtividade, o trabalho e o lazer. Antes limitados a grandes corporações e instituições, os computadores passaram a estar nas casas e escritórios, abrindo caminho para a internet.

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A internet surgiu nos anos 1990, chamada de World Wide Web (www) e usada por meio de navegadores como Netscape e Internet Explorer. Revolucionou a forma como as pessoas se comunicam, consomem informação e realizam negócios.

Ela possibilitou o surgimento de novas indústrias, como o comércio eletrônico (por exemplo, Amazon, Mercado Livre, Alibaba), redes sociais (Whatsapp, YouTube, Facebook, Instagram, TikTok etc.). As redes sociais transformaram a comunicação, marketing, política, e até a forma como as notícias são consumidas. Elas mudaram profundamente a interação social, permitindo indivíduos e empresas se conectarem e compartilharem conteúdo de forma global e instantânea, inclusive facilitando o comércio mundial.

O e-commerce e o Marketplace Digital surgiram na virada do século. O comércio eletrônico transformou o varejo, permitindo empresas venderem produtos diretamente aos consumidores sem a necessidade de lojas físicas. Isso revolucionou a distribuição, logística e mudou radicalmente os hábitos de consumo global.

A comunicação móvel, tipo SMS, transformou a maneira como as pessoas interagem, eliminando as barreiras de tempo e espaço. Com a chegada dos smartphones (iPhone em 2007), a telefonia móvel se integrou à computação pessoal, permitindo acesso à internet, aplicativos, e revolucionando áreas como a fotografia, música e navegação.

A computação em nuvem (Cloud Computing) mudou a forma como as empresas e indivíduos acessam e utilizam recursos computacionais. Modelos de software como serviço (SaaS) permitiram as empresas terceirizarem suas necessidades de Tecnologia da Informação (TI), reduzindo custos e aumentando a flexibilidade.

Também nos anos 2010 a impressão 3D inovou a tecnologia de fabricação ao permitir a produção personalizada e sob demanda de objetos complexos, desde protótipos até produtos para consumo final. Ela está transformando setores como manufatura, saúde (por exemplo, próteses), e até construção.

Na década passada, surgiram redes neurais e assistentes virtuais (Siri, Alexa). Obedecem a comandos orais e respondem a algumas perguntas.

A principal diferença entre aprendizagem profunda (deep learning) e aprendizado de máquina (machine leaning) é a estrutura da arquitetura da rede neural subjacente. Os modelos tradicionais de aprendizado de máquina “não profundos” utilizam redes neurais simples com uma ou duas camadas computacionais. Os modelos de deep learning usam três ou mais camadas (normalmente centenas ou milhares delas) para treinar os modelos.

 A Inteligência Artificial (IA), o aprendizado de máquina e o deep learning estão revolucionando diversos setores, incluindo saúde, finanças, transporte (veículos autônomos), e a análise de dados. Essas tecnologias permitem automação avançada, análise preditiva e a criação de sistemas em melhoraria com o tempo.

Desde os anos 1980 e 1990, a biotecnologia e a engenharia genética revolucionaram a Medicina, a Agricultura e a Biologia. O sequenciamento do genoma humano (DNA) e a edição genética com CRISPR-Cas9 abriram novas fronteiras na cura de doenças genéticas, no desenvolvimento de terapias personalizadas, e na agricultura, com culturas geneticamente modificadas.

No novo milênio, as inovações em energias renováveis, como a solar e eólica, juntamente com avanços no armazenamento de energia, como baterias de longa duração, estão transformando o setor de energia, movendo o mundo em direção a uma economia de baixo carbono e combatendo as mudanças climáticas. Surgiram, por exemplo, painéis solares, baterias de íons de lítio, veículos elétricos.

Tenho dúvidas a respeito das “moedas privadas” (Criptomoedas como Bitcoin, Ethereum etc.), com tecnologia Blockchain, surgidas após a GCF-2008. Talvez fique dessa especulação com “dinheiro sujo” apenas a tecnologia por trás das criptomoedas, ao proporcionar um sistema descentralizado e seguro para transações. Os contratos inteligentes estão desafiando modelos tradicionais de contratos com a propriedade digital.

Por fim, ainda em estágio inicial, a computação quântica promete resolver problemas computacionais intratáveis por computadores clássicos. Ela tem o potencial de revolucionar áreas como criptografia, simulação de materiais, e otimização complexa.

Essas inovações disruptivas redefiniram setores inteiros e transformaram a economia global. Criam mercados, novas formas de interação e consumo, e estabelecem as bases para futuras revoluções tecnológicas. A evolução sistêmica está “a olhos vistos”.

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