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Petróleo branco: oportunidade para a América Latina

Petróleo branco: oportunidade para a América Latina

Notebook, celular ou câmara digital, fabricados nas últimas décadas, provavelmente têm bateria de íon-lítio. Este mineral é matéria prima básica para fabricação de baterias elétricas.

O lítio é um metal alcalino raro, cujas propriedades físico-químicas o tornam de pouca substituição. Componente essencial para as baterias recarregáveis e produtos de alta tecnologia, é considerado um elemento estratégico no Plano Nacional de Mineração para 2050.

Por ser pouco denso, de consistência macia, ele pode ser cortado à faca. Elemento mais leve da tabela periódica, foi gerado no Big Bang, assim como o hidrogênio e o hélio.

Apontado como o petróleo do século XXI ou a commodity do futuro, o “petróleo branco” é o lítio, cujo apelido é devido à cor branca. O metal é o elemento básico na fabricação de todos os tipos de baterias com íon de lítio, utilizadas em diversos eletrônicos e em carros elétricos.

Por ser o metal mais leve da tabela periódica, com um bom balanço entre densidade, baixo peso, troca de energia e eficiência energética, ele tem grande potencial eletroquímico. As baterias de lítio apresentam enorme vantagem quanto à densidade de energia, porque o metal é um elemento altamente reativo.

As principais características das baterias de lítio são a longa vida útil, ausência do “efeito memória” (degradação do eletrólito) e elevada densidade volumétrica de energia. São economicamente viáveis por serem fabricadas em diferentes associações de células e formatos, em busca de maior capacidade, corrente de curto circuito e/ou tensão. A tecnologia permite a bateria ser fabricada para diferentes fins.

Atualmente, os depósitos de lítio economicamente viáveis estão distribuídos em três grandes categorias: minérios com origem em rochas sãs (pegmatitos); minérios originados em salmouras evaporíticas continentais; minérios originados de certas argilas.

A grande procura pelo mineral se deve à recente descoberta de uma nova forma de utilização de baterias de lítio para carros elétricos. Os países buscam substitutos do petróleo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Assim, o lítio ganhou grande valor no mercado internacional, aumentando o seu preço rapidamente.

No mundo, o total de veículos elétricos vendidos em 2021 triplicou desde 2019, passando de 2,2 milhões de carros para 6,6 milhões. Porém, isso representava apenas 8,6% do mercado de carros.

A demanda por esses veículos cresce devido a preocupações ambientais, regulamentações governamentais e altos preços do gás e petróleo. Em consequência, essa transição energética, já acontecendo no mundo, gerou um boom na busca pelo “petróleo branco”.

Além de serem usadas nos veículos, tais baterias também são empregadas no armazenamento de energia das usinas eólicas e solares. Com isso, a produção de baterias de lítio, produto de alto valor agregado e com crescimento de demanda prevista em cinco vezes, deste ano até 2025, atenderá a mercado de alto valor.

O crescimento da produção de carros elétricos no Brasil aumenta a procura do “petróleo branco” no país. Dados da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) mostraram em 2022 terem sido aproximadamente 47 mil exemplares vendidos de modelos híbridos, elétricos e híbridos plug-in, superando em 24,8% o total de 2021 (34.990). Estima-se até 2030, a produção mundial de veículos chegar a 51 milhões de unidades.

O Brasil tem ganhado destaque com essa commodity. Ele se tornou o quinto maior produtor do mundo. Cresce exponencialmente sua mineração no país. A Agência Nacional de Mineração (ANM) recebeu 417 pedidos de pesquisa de lítio em 2022, superando em 31,6% os 317 requerimentos registrados entre 2017 e 2021.

Antes, o Brasil tinha produzido 43 mil toneladas de lítio contido, representando menos de 0,1% de um mercado global dominado pela Austrália e pelo Chile. Estes países respondiam juntos por 76% da produção global. Somados à Argentina com 13%, os três países atingiam 89% do total mundial.

Chile, Austrália, Argentina e China detêm juntos cerca de 95% das reservas de lítio atualmente conhecidas no mundo. Depósitos de lítio do tipo salmoura são encontrados na Bolívia, Chile e Argentina, além de China e EUA.

Nos salares — as salinas da Argentina e do Chile —, o método predominante de extração de lítio é a evaporação com a adição de cal e sódio. Consiste em bombear uma salmoura das profundezas dos salares e concentrá-la em grandes piscinas por entre 12 e 18 meses.

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A salmoura é um líquido com sais – e o lítio é um deles. Cada um desses sais tem uma solubilidade diferente. O elemento restante, após mais de um ano, é o lítio.

Os processos tradicionais de salmoura têm alto impacto ambiental, devido aos altos níveis de evaporação da água. Tecnologias alternativas são pesquisadas por empresas mineradoras, automotivas e químicas de todo o mundo para aumentar a eficiência, substituir o atual método e ter uma indústria mais sustentável ao longo do tempo.

Depósitos de lítio em pegmatitos estão localizados na Austrália, Áustria, Brasil, Canadá, China, Congo, República Tcheca, Finlândia, Alemanha, Mali, Namíbia, Peru, Portugal, Sérvia, Espanha, EUA e Zimbábue. Além desses depósitos, o metal pode também ser obtido por meio de argila, como ocorre no México e Estados Unidos, e outras fontes.

Por contribuir com a maior parte da produção mundial de lítio, têm destaque quatro depósitos em pegmatitos na Austrália e, na China, duas minas em depósitos do tipo salmoura e uma em pegmatito.

No Brasil, o lítio é encontrado em rochas ígneas, chamadas de pegmatitos, diferentemente das salmouras evaporíticas, onde é encontrado na forma de sais. Os locais com produção do metal no país são a Subprovíncia de Solonópole (CE), Província Pegmatítica da Borborema (RN / PB), Sul de Tocantins, Nordeste de Goiás (TO / GO), Região de Itambé (BA), Área do Médio Jequitinhonha (MG), Região Leste de Minas Gerais (MG) e Província Pegmatítica de São João del Rei (MG).

Nas últimas décadas, as Cadeias Globais de Valor (CGVs) passaram a representar mais de dois terços do comércio internacional. Nelas, matérias-primas, peças e componentes industriais, bem como serviços, atravessam fronteiras diversas vezes, sendo incorporados aos produtos finais.

As políticas de comércio e Investimento Direto Estrangeiro (IED) de muitos países em desenvolvimento buscam integração e expansão nessas cadeias. São estratégicas para gerar receitas de exportação e empregos, transferir conhecimento e tecnologia.

Os estudos desenvolvidos sobre o Brasil demonstram o país não estar mais à margem, pois apresenta taxas crescentes de participação em CGV, inclusive em setores considerados mais estratégicos para a fragmentação. No entanto, quanto ao seu posicionamento, não há convergência do padrão de especialização comercial do país àqueles apresentados pelos países desenvolvidos ou aos movimentos da China e do México.

O padrão de especialização comercial do país, no contexto das novas configurações de comércio, apresenta-se de forma desfavorável para sua estratégia de crescimento.

Fatores como saturação do mercado, altos níveis de motorização e pressões políticas sobre montadoras de automóveis para produzir onde vendem têm incentivado a dispersão da montagem final, fazendo a produção acontecer em mais lugares em relação ao passado. Portanto, é hora de analisar estrategicamente o funcionamento da CGV da indústria automobilística, sua dinâmica e tendência, levando em consideração a reorganização do seu processo produtivo na economia mundial e seu comércio exterior com a eletrificação dos veículos.

A integração da produção de baterias de lítio, aproximando-a de suas fontes de extração na Argentina e no Chile, com a produção de veículos elétricos no Brasil é uma oportunidade histórica. Integraria a América do Sul em um CGV competitiva e benéfica a todos os demais países latino-americanos em um bloco comercial regional.

Por exemplo, uma empresa encontrou uma mina de “petróleo branco” em Minas Gerais com potencial de se tornar bastante lucrativa. Enquanto os produtores comuns costumam vender um concentrado a US$ 100 por tonelada, o produto da companhia brasileira pode ser vendido a US$ 2.000 por tonelada por ser altamente concentrado, ou seja, um valor 20 vezes acima do de seus concorrentes. Isso se dá devido ao método de extração diferenciado e os custos reduzidos dessa operação. Isto é inovação.

Foto: Mina de lítio no México / Reuters

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