Inteligência artificial e criatividade humana

Inteligência artificial e criatividade humana

Na série de reportagens publicadas pelo New York Times e divulgadas no Brasil pela Folha de S.Paulo a partir de 26 de junho de 2023, intitulada de Inteligência Artificia (IA): Modo de Usar, depois de alertar os Grandes Modelos de Linguagem (LLMs) de IA também darem informação falsa e oferecerem muitas respostas erradas, aponta como esses programas de IA fazem coisas extraordinárias. Se a inteligência humana souber a utilizar com criatividade, enxergará o potencial de inovação disruptiva dessa tecnologia.

Ela cita seis tarefas cumpridas bem pela IA como exemplos para a usar com sabedoria.

Primeiro, explica conceitos em níveis múltiplos de dificuldade. É produtivo usar o ChatGPT como consultor em relação a um tópico desconhecido. Se não conhece o sistema de reserva fracionária bancária, por exemplo, simplesmente, solicite ao ChatGPT: “Explique o sistema de reserva fracionária dos bancos para um leigo”.

O ChatGPT se dá bem com esse tipo de prompt, usando suas habilidades no processamento de linguagem natural. Não dá respostas às perguntas sobre acontecimentos após 2021 ou tópicos na fronteira do conhecimento de poucos.

É possível fazer edição e crítica construtiva ao usá-lo como assistente de escritas. Quando enfrentar um bloqueio mental, coloque algumas sentenças e confira se o chatbot consegue lhe dar alguma ideia nova. Se está tentando burilar um argumento para deixá-lo mais convincente, peça ao robô para lhe apontar falhas no seu raciocínio.

O Bing é especialmente bom para edição e pesquisar na internet. Você pode usar truques semelhantes para utilizar a IA em qualquer outro texto sobre o qual esteja trabalhando, sempre checando com cuidado o texto apresentado por ela.

Para desfazer um bloqueio e desengatar sua criatividade, peça à IA lhe sugerir questões profundas sobre um assunto. É recomendável seu uso para superar o “bloqueio de escritor” ou dar início a projetos sem o pleno conhecimento. Por exemplo, alguém com propósito de abrir um empreendimento poderá pedir ao ChatGPT uma lista de todos os equipamentos e alvarás necessários.

Também se usa o ChatGPT e outros aplicativos de IA como uma espécie de ensaio para tarefas offline desagradáveis ou difíceis. Quando precisa ter uma conversa difícil com uma pessoa, peça ao ChatGPT para participar de um exercício de dramatização. “Imagine você se tornar um futuro desempregado e reaja do jeito possível dele reagir quando receber o anúncio”. O exercício lhe faz sentir mais confiante e prevenido diante do diálogo real. O chatbot oferece retornos e conselhos básicos, sem julgamentos morais.

Uma das habilidades mais poderosas dos modelos de linguagem de IA é a de rapidamente resumir volumes grandes de texto. Utilize-os para “ler” artigos longos e resumir papers acadêmicos densos. Geralmente, eles acertam nas linhas gerais, mesmo quando alguns detalhes ficam fora. Acrescente-os com uma “passada de olhos”.

Essa capacidade realmente demonstra sua utilidade quando a combina com outras habilidades, como transcrever gravações de áudio e vídeo. É possível condensar um podcast de duas horas em tópicos ou obter um resumo conciso de uma reunião de trabalho para o distribuir enquanto os participantes ainda estão presentes.

Se estiver entediado com a leitura, pode pedir ao ChatGPT ou Bing para resumir o ainda faltante para ler. Peça para reescrevê-la sob uma forma divertida ou como poema.

Esses chatbots não foram projetados para escrever software, mas ao serem treinados com quantidades vastas de texto na internet, incluíram o conteúdo de sites de codificação como GitHub e Stack Overflow. Com isso, aprenderam a escrever código em linguagens de programação.

Usa-se ferramentas de IA para construir web sites e aplicativos em menos tempo se comparado à capacidade de qualquer humano seria capaz. E sem pagar o custo dele.

Os LLMs ajudam pessoas sem serem escritoras profissionais a escrever bem. Essa capacidade de IA vai eliminar os escritores criativos?! Não, vai os multiplicar.

Em uma primeira leitura, a IA pode enganar por seu processamento de linguagem natural. As técnicas usadas por grandes modelos de linguagem, para entender e gerar linguagem humana, inclui classificação de texto e análise de sentimentos. Esses métodos empregam uma combinação de algoritmos de aprendizagem de máquina, modelos estatísticos e regras linguísticas.

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Porém, comete vícios de linguagem comuns como o “queísmo” ou o uso e abuso de verbos auxiliares como “podem”, “devem” ou qualquer outra fuga de posicionamento afirmativo. O ChatGPT costuma ser “um tucano em cima do muro” para não se comprometer…

O usuário com criatividade usa a seu favor o comportamento emergente, ou seja, habilidades inesperadas ou não pretendidas de um grande modelo de linguagem (LLM), possibilitadas pelos padrões de aprendizado e regras do modelo obtidas de seus dados de treinamento. Por exemplo, LLMs são treinados para ter habilidades criativas como escrever poemas, compor música e redigir narrativas fictícias.

A criatividade é a capacidade de gerar ideias, conceitos, soluções ou formas de expressão originais e inovadoras. Possui a habilidade de pensar de maneira não convencional ao combinar diferentes elementos e perspectivas para criar uma novidade.

A originalidade, por sua vez, está relacionada à característica de ser único, autêntico e genuíno. Envolve a criação de algo não copiado ou derivado de outras fontes, mas sim concebido de forma nova e distinta.

Se perguntar ao ChatGPT se ele tem criatividade ou originalidade, responderá: “como modelo de linguagem treinado, o ChatGPT não possui uma verdadeira criatividade ou originalidade no sentido humano. Embora eu [ChatGPT] possa gerar respostas aparentemente criativas ou originais, todas elas são baseadas nas informações e padrões presentes nos dados nos quais fui treinado”

O ChatGPT é alimentado por uma vasta quantidade de texto pré-existente. Sua habilidade em gerar respostas é resultado de aprender padrões e relações entre palavras e frases nesses dados de treinamento. Portanto, embora ele possa fornecer respostas únicas e interessantes, elas são uma combinação de informações já existentes, reorganizadas e adaptadas de acordo com o contexto da pergunta.

Ele pode ser útil na geração de ideias, sugestões e insights, especialmente quando se trata de explorar diferentes perspectivas ou fornecer uma abordagem alternativa para um problema. Mas suas respostas são baseadas em dados pré-existentes – e não em uma capacidade criativa inédita de maneira jamais vista.

O surgimento de conhecimento criativo e inédito, geralmente, ocorre quando se combina informações, ideias, conceitos ou elementos existentes de maneira nova e original. A criatividade é caracterizada por combinar e gerar algo novo, único e valioso.

Fazer conexões entre diferentes áreas de conhecimento, conceitos ou disciplinas leva a insight original e transdisciplinar. Ao combinar ideias aparentemente não relacionadas, é possível gerar novas perspectivas e abordagens.

O desafio científico é sempre testar hipóteses levantadas com um pensamento divergente. A capacidade de pensar de forma não convencional, explorando diferentes caminhos e possibilidades, pode levar a soluções inovadoras. Isso envolve a busca por alternativas além do óbvio ou do lugar-comum oferecido como resposta pelo ChatGPT.

Questionar suposições e desafiar o status quo pode abrir espaço para novas perspectivas e descobertas. Ao questionar as maneiras tradicionais de fazer as coisas, é possível encontrar abordagens inovadoras.

A experimentação ativa e a exploração de diferentes abordagens, métodos ou contextos leva a novas descobertas. Ao provar coisas novas e estar aberto a aprender com a experiência, é possível gerar conhecimento criativo.

Um ambiente institucional encorajador da expressão livre de ideias, da colaboração coletiva e do pensamento criativo estimula o surgimento de conhecimento criativo. A liberdade de expressão do contraditório, a diversidade de perspectivas e o apoio mútuo são elementos-chave nesse sentido.

Na verdade, ex nihilo nihil fit (nada vem do nada). Só um ente sobrenatural “criou tudo do nada”. Ninguém partiu do zero. Afinal, onde e quando estava a linha de partida no conhecimento humano?

O considerado conhecimento novo hoje é o resultado de séculos de acumulação, refinamento e revisão de ideias, teorias e descobertas. Portanto, não houve uma única linha de partida para o conhecimento humano, mas sim um processo evolutivo contínuo, cujas raízes dispersas se estavam nos primórdios da existência humana.

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