Dilma à frente do Banco dos BRICS: “Fazer mais pelos países emergentes e em desenvolvimento”
Nesta quinta-feira (13), a ex-presidenta Dilma Rousseff foi empossada presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o Banco dos Brics, em Xangai. A posse na instituição financeira internacional contou com a presença do presidente Lula que questionou a hegemonia do dólar.
Nesta quinta-feira (13), Dilma Rousseff foi empossada presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o Banco dos Brics, em Xangai. A cerimônia, que contou com a presença do presidente Lula, e foi notícia nos principais veículos internacionais, como a agência EFE que veiculou imagens da cerimônia, com as falas de Dilma e de Lula durante o evento.
“Como ex-presidenta de um país em desenvolvimento, eu conheço a importância dos bancos multilaterais, sobretudo, o imenso desafio que é prover, garantir financiamento na escala adequada para atender as necessidades econômicas, sociais e ambientais dos nossos países”, destacou Dilma, ao lembrar do quão imensas são “as necessidades que precisam de financiamento e recursos para serem superadas”.
O Banco que Dilma vislumbra é “uma instituição que fica comprometida, e é parceira, sem condicionalidades, das prioridades que os governos apresentam para o banco providenciar os recursos adequados”. Ela destacou, também, que “assumir a presidência do NBD é uma grande oportunidade para fazer mais pelos países BRICS, e não apenas para seus membros, mas também para os países emergentes e os países em desenvolvimento”.
Brasil nos jornais asiáticos
Até 2025, a ex-presidenta administrará uma instituição financeira internacional que já movimentou 34 bilhões de dólares e aprovou 99 projetos de empréstimos, conforme detalha o chinês News Ifeng que, também destaca as questões levantadas por Lula em seu discurso, nesta quinta-feira:
“Por que o dólar americano deve ser a moeda universal do mundo? Por que os países do BRICS não podem usar suas próprias moedas para liquidação? Por que o Banco do BRICS não pode conceder empréstimos nas moedas de seus países membros… Queremos fazer algo diferente com a China e tornar o mundo um mundo diferente.”
“Os poucos ´porquês´ que Lula falou fora do roteiro arrancou calorosos aplausos da plateia, que duraram bastante. Porque essas palavras são, na verdade, as aspirações de um grande número de países em desenvolvimento: sob a constante mudança da situação internacional, eles esperam alcançar uma cooperação aberta e defender o verdadeiro multilateralismo”, aponta a reportagem.
O Asia Times , por sua vez, traz uma foto de 2009 de Lula e Dilma, rememorando a trajetória de ambos, em reportagem intitulada “BRICS ganha nova chance de melhorar o desenvolvimento global“, apontando que agora, o Novo Banco de Desenvolvimento poderá cumprir sua missão original sob Dilma Rousseff, “uma líder experiente e mundialmente respeitada, traz a esperança de um novo começo”.
“A nomeação do ex-presidente do Brasil para o cargo demonstra a prioridade que Lula dará aos países do BRICS (Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul) em seu governo”, complementa o texto, destacando que Dilma foi presidenta do Brasil até ser “derrubada por um golpe com base em fraudes do Congresso (2016), que desde então admitiu a fraude. Ela acaba de retornar à vida política para comandar uma das instituições mais promissoras do Sul Global”.
No Global Times, a manchete: “Presidente brasileiro visita NDB e Huawei em Xangai e destaca cooperação no mecanismo do BRICS, instrumento de desenvolvimento, que certamente será forte”, com foco nos laços econômicos e comerciais China-Brasil“.
No também chinês CGTN , a reportagem “Visita de Lula é um marco na história das relações bilaterais” traz aspas de Wang Yi, diretor do Gabinete da Comissão de Relações Exteriores do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh). “Como o mundo enfrenta desafios inéditos em um século, a próxima reunião estratégica entre o presidente chinês, Xi Jinping, e o presidente brasileiro, Lula, terá um impacto mundial e traçará um novo plano para o desenvolvimento das relações bilaterais”, afirmou o diplomata chinês ao CGTN, após se encontrar com Celso Amorim, principal assessor especial do presidente do Brasil, em Pequim”.
No Diário do Povo, do PC chinês, varias notícias breves sobre a agenda de Lula no país, e uma reportagem (“Pesquisa: brasileiros aprovam laços com a China”) sobre um levantamento do Instituto de Estratégia Nacional de Comunicação da Universidade Huazhong de Ciência e Tecnologia, com mais de 1.000 cidadãos brasileiros sobre suas opiniões sobre a China e o mundo em 2022.
“Cerca de 60 por cento dos entrevistados veem a cooperação comercial sino-brasileira como vantajosa para todos, enquanto mais de 55 por cento acreditam que o Brasil beneficiou de sua relação com o maior parceiro comercial do país”, afirma o texto.
No China Daily, entre as várias reportagens sobre Lula na China e a posse de Dilma no banco dos BRICS, destaque para: Lula vê potencial do NDB com Dilma Rousseff como chefe, e análises de Marcos Cordeiro Pires(Unesp-Marília), Construindo uma ordem inclusiva, e Zhao Ruinan, Laços com a China recebem aprovação dos brasileiros de Zhao Ruinan. O site também traz um infográfico sobre as relações entre China e Brazil.
Na avaliação de Cordeiro, “apesar das enormes dificuldades que a ordem internacional enfrenta, o relacionamento entre Brasil e China seguirá seu curso. Os laços construídos ao longo de cinco décadas se fortalecerão, dada a grande interdependência econômica e o potencial para avançar em novos campos de cooperação que possam impulsionar o desenvolvimento de qualidade de ambas as sociedades. Brasil e China estão preparados para construir uma ordem internacional cooperativa e inclusiva, juntamente com os países que compartilham visões semelhantes. A distância geográfica e as diferenças culturais já estão sendo superadas por meio da coordenação entre governos, acadêmicos e empresários. Os dois países estão contribuindo para um maior entendimento mútuo entre os povos.”
Veículos europeus e latino-americanos
O Le Monde também registrou a visita de Lula na China, apontando que o presidente brasileiro espera envolver Xi Jinping em um papel de líder para combater a guerra na Ucrânia que, por sua vez, espera a adesão de Lula à Rota da Seda. Sobre a posse de Dilma Rousseff, o jornal francês analisa, entre outras medidas, a ideia de “ampliação do comércio nas próprias moedas pelos membros da instituição – e até mesmo uma moeda do grupo BRICS, o bloco de economias emergentes que junta Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. No português O Público, a manchete: Lula quer usar o Banco dos BRICS para contornar o dólar no comércio internacional.
No também português, Correio da Manhã, o ataque de Lula ao “domínio do dólar norte-americano como moeda de reserva mundial:
“Eu todos os dias me pergunto por que motivo os países estão obrigados a fazer o seu comércio em dólar”. “Quem é que decidiu que era o dólar a moeda de reserva depois de ter desaparecido o ouro como paridade?”. “Nós precisamos de ter uma moeda que dê aos países um pouco mais de tranquilidade”, complementou.
No uruguaio El Observador, a manchete: “”Brasil está ´de volta’, disse Lula ao iniciar sua visita à China para falar de Ucrânia e investimentos”. No La Nacion da argentina: “Visita a Huawei e críticas ao dólar: Lula inicia sua viagem pela China com um tom desafiador contra os Estados Unidos”.
Em seu primeiro ato na China, Lula lembrou que a posse de Dilma “à frente de um banco global de tal magnitude” é “um acontecimento extraordinário, em um mundo ainda dominado por homens”, destaca a Agência Nodal. Na cubana Prensa Latina, destaque sobre “a importância dessa instituição para financiar projetos de infraestrutura e progresso entre seus sócios (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) algumas das mais importantes economias do planeta”.
Também analisam as relações Brasil / BRICS, reportagens da Spunik Brasil: Em Xangai, Lula defende moeda única do BRICS, questiona uso do dólar e diz que FMI ‘asfixia países’ e “O crepúsculo dos ídolos: como o BRICS eclipsará o Ocidente?“, que recorda as estimativas do Fundo Monetário Internacional sobre a contribuição do BRICS para o PIB mundial: “em termos de paridade do poder de compra será de mais de 50% em 2030. Em 2020, a contribuição do grupo já era de 31,5% contra 30% dos países do G7, eclipsando, portanto, as principais potências ocidentais”.
Washington Post, CNN, Financial Times e The Economist
Texto assinado por Moriah Balingit e Meaghan Tobin no Washington Post, intitulado “O Ocidente esperava que Lula fosse um parceiro. Ele tem seus próprios planos”, destaca que “o novo presidente do Brasil corre o risco de alienar os EUA e a Europa ao hospedar navios de guerra iranianos, equivocar-se sobre a invasão russa da Ucrânia e negociar com a China”.
Na CNN News, reportagem de Stefano Pozzebon foca na questão comercial, apontando que o “comércio e créditos de carbono, e não a Ucrânia, lideram a agenda de negociações entre Lula e Xi”, apontando que o comércio entre os dois países cresceu nas últimas décadas. “A China é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009, importando quase US$ 90 bilhões em commodities brasileiras – soja, minério de ferro, petróleo – somente no ano passado. Ao mesmo tempo, o Brasil é o segundo maior receptor de investimentos públicos chineses na América Latina e o maior mercado único para produtos chineses na América do Sul.”
No Financial Times, as declarações de Lula são destaque em Lula pede fim do predomínio do dólar no comércio. “A crescente relação econômica tem incentivado os dois países a promover maior uso de suas respectivas moedas no comércio bilateral. Esta semana, a filial brasileira do Banco Industrial e Comercial da China, estatal, fechou sua primeira transação diretamente em renminbi no país, informou a mídia estatal chinesa”, destaca o texto.
Dias atrás, The Economist destacou em “A política externa brasileira é hiperativa, ambiciosa e ingênua” que “assim como em seus dois primeiros mandatos, entre 2003 e 2010, Lula quer que o Brasil tenha um lugar à mesa nas questões mais espinhosas do momento. Suas ambições devem ser levadas a sério”.
“Como presidente no início dos anos 2000, Lula traçou uma diplomacia pragmática e independente, empenhada em perseguir os interesses brasileiros e criar um mundo “multipolar” em um momento de hegemonia americana. Ele ajudou a fundar os Brics – um bloco de economias emergentes que inclui Rússia, Índia, China e África do Sul – e irritou os Estados Unidos ao tentar intermediar um acordo sobre o programa nuclear do Irã com a Turquia, o que permitiria ao Irã enviar urânio enriquecido à Turquia em vez de encerrar o seu programa”.
Lula entre os 100 mais influentes
Também foi anunciada a lista da revista Times com as 100 pessoas mais influentes de 2023, entre elas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ganhou um perfil escrito pelo ex-presidente Al Gore, disponível no site da revista. O ex-vice-presidente dos Estados Unidos e embaixador da luta contra as mudanças climáticas, destaca que “depois de anos de degradação e destruição ambiental sancionadas pelo Estado, o povo do Brasil escolheu um novo caminho, ao eleger um campeão do clima em Luiz Inácio Lula da Silva”.
Acompanhem as imagens da viagem de Lula à China no twitter oficial do presidente
Repórter do Fórum 21, com passagem por Carta Maior (2014-2021) e Blog Zé Dirceu (2006-2013). Tem doutorado em Semiótica (USP) e mestrado em Crítica Literária (PUC-SP).