Na ONU, Lula apresenta o Brasil como novo líder do Sul Global

Na ONU, Lula apresenta o Brasil como novo líder do Sul Global

O jornal argentino Clarín afirmou que o presidente Lula apresentou o Brasil – e a si mesmo – como um novo líder do Sul Global, “não mais satisfeito com o funcionamento ultrapassado do mundo”, em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira (19)

“O BRASIL ESTÁ DE VOLTA”

O discurso do presidente Lula na Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira (19), é o grande destaque da mídia internacional sobre o Brasil. Lula falou por mais de 20 minutos e foi ovacionado diversas vezes.

O site África 21 Digital destaca a fala do presidente sobre mudança climática e desigualdade. “Volto hoje para dizer que mantenho minha inabalável confiança na humanidade. Naquela época, o mundo ainda não havia se dado conta da gravidade da crise climática. Hoje, ela bate às nossas portas, destrói nossas casas, nossas cidades, nossos países, mata e impõe perdas e sofrimento aos nossos irmãos, sobretudo aos mais pobres […]. A fome, tema central da minha fala neste Parlamento mundial 20 anos atrás, atinge hoje 735 milhões de seres humanos que vão dormir esta noite sem saber se terão o que comer amanhã. O mundo está cada vez mais desigual. Os dez maiores bilionários têm mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade”, disse Lula.

A agência Associated Press escreve que o presidente enfatizou a necessidade de recursos adequados para combater as mudanças climáticas e preservar a Amazônica, e dá ênfase para o seu ‘lema’: “O Brasil está de volta”. Para o argentino Clarín, Lula apresentou seu país – e a si mesmo – como um novo líder do Sul Global, “não mais satisfeito com o funcionamento ultrapassado do mundo”. A publicação destaca o esforço do presidente em fortalecer a projeção internacional do Brasil em cada visita de Estado e em cada discurso, de um fórum internacional a outro, ressaltando que “muitos acreditavam que Lula teria que ficar em casa para se concentrar exclusivamente em questões internas e curar uma sociedade dividida. No entanto, ele conciliou isso com uma frenética agenda de viagens”, tendo visitado 21 países desde que assumiu o seu terceiro mandato.

Lula “apontou o dedo para as nações desenvolvidas”, afirma a publicação Brazilian Report, destacando as críticas do presidente ao neoliberalismo e aos “aventureiros de extrema-direita”.

“A promessa de destinar 100 bilhões de dólares – anualmente – para os países em desenvolvimento” – uma meta do Acordo de Paris em 2015, “permanece apenas isso, uma promessa. Hoje esse valor seria insuficiente para uma demanda que já chega à casa dos trilhões de dólares”, disse o presidente, criticando também as instituições multilaterais: “Quando as instituições reproduzem as desigualdades, elas fazem parte do problema, e não da solução. No ano passado, o FMI disponibilizou 160 bilhões de dólares em direitos especiais de saque para países europeus, e apenas 34 bilhões para países africanos. A representação desigual e distorcida na direção do FMI e do Banco Mundial é inaceitável”.

Lula ainda tratou da uberização do trabalho, apontando que “aplicativos e plataformas não devem abolir as leis trabalhistas pelas quais tanto lutamos”, e se dirigiu especificamente aos EUA e ao Reino Unido ao defender a liberdade e imprensa, proferindo: “Um jornalista, como Julian Assange não pode ser punido por informar a sociedade de maneira transparente e legítima. Nossa luta é contra a desinformação e os crimes cibernéticos”.

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BIDEN PRÓ-UCRÂNIA

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez um apelo ao mundo em defesa da Ucrânia e contra a Rússia, abordando os desafios globais e convocando as nações a fortalecer a cooperação para enfrentá-los, em uma tentativa de renovar a liderança dos EUA em um cenário geopolítico cada vez mais fragmentado, afirma o argentino La Nación. “Pergunto a vocês: se abandonarmos os princípios fundamentais da Carta da ONU para aplacar um agressor, algum Estado-membro pode se sentir confiante de que estará protegido? Se permitirmos que a Ucrânia seja dividida, a independência de alguma nação estará segura? A resposta é não”, afirmou Biden. “É por isso que os Estados Unidos permanecem ao lado de nossos aliados para apoiar o corajoso povo ucraniano em sua soberania, direitos territoriais e liberdade. O futuro de todas as nações e os direitos de cada uma dependem disso, independentemente de seu tamanho”, disse Biden.

POR UMA TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA

O ministro de Minas e Energias, Alexandre Silveira, afirmou neste domingo (17), em entrevista à AFP, que o custo da transição energética e da salvaguarda do planeta deve ser, neste momento, democratizado. Segundo o uruguaio El Observador, Silveira apresentou o Programa Nacional de Transição Energética do Brasil na ONU, em reunião para promover os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e questionou se existe “uma verdadeira disposição dos países ricos e desenvolvidos em pagar a dívida com aqueles mais penalizados ao longo da história”, e exigiu que as nações desenvolvidas “levem a sério a transição energética e criem oportunidades” para os países em desenvolvimento”.

“A CARNE MAIS BARATA”

 “Quanto custa proibir as drogas?”, pergunta o Le Monde Diplomatique, assinalando que o combate ao trágico é usado para justificar operações policiais bélicas que deixam centenas de corpos pelo caminho. O artigo destaca a proibição do consumo e venda de substâncias psicoativas no Brasil há mais de 200 anos, com a lei 11.343/06 despenalizando a posse para uso pessoal, mas mantendo penas severas para o tráfico, o que resultou no aumento significativo de encarceramento e em frequentes e sangrentas incursões policiais. O texto ainda analisa outras consequências negativas por conta da implementação da atual política antidrogas brasileira, enfatizando quanto o ela pode ser custosa e desastrosa, desta política, apontando dados de estudos, enfatizando o quanto a guerra às drogas é uma escolha custosa e desastrosa, que recai de forma desproporcional sobre os moradores de favelas e periferias, a maioria deles negros.

O RISCO DE UM RETROCESSO

A Câmara dos Deputados do Brasil voltou a debater nesta terça-feira (19) um polêmico projeto patrocinado por parlamentares e movimentos evangélicos que visa proibir a união homoafetiva, legalizada pelo STF em 2012. De acordo o português Correio da Manhã, o projeto que serve como base de sustentação para proibir este tipo de união está sendo debatido na Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família, cuja maioria é formada por parlamentares conservadores e de ultradireita. A votação, prevista para acontecer nesta terça-feira (19), foi adiada após um acordo entre o governo e a oposição. O relator do PL 580/2007 é o deputado federal Francisco Eurico da Silva, mais conhecido como Pastor Eurico.

*Imagem em destaque: Ricardo Stuckert/PR

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