Putin liga para Lula e trata de proposta de paz para a Ucrânia
O Focus 21 reúne as citações relevantes sobre o Brasil publicadas pela imprensa internacional
O presidente russo Vladimir Putin telefonou nesta quarta-feira para o presidente Lula, quando discutiram o plano do Brasil e da China para resolver o conflito na Ucrânia. “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu na manhã desta quarta-feira telefonema do presidente da Rússia, Vladimir Putin. O presidente Putin manifestou solidariedade ao Brasil no enfrentamento dos incêndios florestais. Os dois presidentes conversaram sobre os temas da reunião que serão debatidos na cúpula do Brics, mês que vem, em Kazan, e as relações bilaterais entre os dois países. Também falaram sobre a proposta de paz do Brasil e da China para o conflito entre Rússia e Ucrânia”, segundo comunicado do governo brasileiro.
“Em vista do interesse confirmado de Luiz Inácio Lula da Silva em contribuir para a busca de maneiras de resolver o conflito ucraniano, Vladimir Putin delineou os princípios da Rússia a esse respeito”, segundo a declaração do Kremlin.
O Brasil e a China apresentaram um plano de seis pontos em maio passado, instando os russos e os ucranianos a criarem as condições para a retomada do diálogo direto após concordarem em reduzir a escalada da situação no campo de batalha. No início deste mês, Putin propôs a China, o Brasil e a Índia como possíveis mediadores em futuras negociações de paz com a Ucrânia, em oposição aos EUA e às potências europeias, que, segundo Moscou, estão interessados em prolongar o conflito. “Nós respeitamos nossos amigos e parceiros que, acredito, estão sinceramente interessados em resolver todos os problemas relacionados a esse conflito. Estou em contato constante com nossos colegas a esse respeito”, enfatizou. O presidente ucraniano Volodymir Zelensky já rejeitou o plano, chamando-o de “destrutivo”.
Putin e Lula vão realizar uma reunião bilateral durante a cúpula do Brics, de 22 a 24 de outubro, na cidade de Kazan, localizada na Rússia, às margens do rio Volga, na República do Tartaristão. (Agência Tass / El Mercurio)
“Lula responde à alegação “destrutiva” de Zelensky”. O presidente Lula afirmou que a Ucrânia deveria seguir o conselho do Brasil sobre a busca da paz no conflito com a Rússia. O líder ucraniano Vladimir Zelensky já havia descartado uma sugestão de paz brasileiro-chinês como “destrutivo” e “apenas uma declaração política”. Falando em uma cerimônia de graduação em uma academia diplomática em Brasília na segunda-feira, Lula destacou a política externa pacífica do Brasil e a neutralidade no conflito na Ucrânia. “É importante para o Brasil dizer que queremos paz, que não queremos guerra”, disse o presidente. “Aqueles que querem falar conosco agora poderiam ter falado conosco antes de a guerra ter começado.” O Brasil “se destaca” por fazer parte de um continente “que gosta de paz”, afirmou Lula, acrescentando que “a guerra só traz prejuízos… só destrói”. O presidente Vladimir Putin disse no mês passado que as negociações eram ainda mais improváveis, depois que a Ucrânia lançou uma incursão na região russa de Kursk, supostamente atingindo civis no processo. (RT-rede de televisão internacional financiada pelo Estado russo)
INCÊNDIOS CRIMIOSOS
Os incêndios que podem remodelar a Amazônia. Vastas e diversas partes do Brasil estão queimando ao mesmo tempo, forçando as autoridades a repensar como proteger ecossistemas cruciais como a Amazônia. (New York Times)
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, reuniu-se com autoridades estaduais na terça-feira para discutir medidas urgentes e definitivas contra as mudanças climáticas, como a solicitação de ajuda internacional devido aos incêndios que se espalham pelo país há mais de um mês. (Granma)
A ministra do Ambiente, Marina Silva, fortemente contestada pela fraca resposta do governo à vaga de incêndios que estão a destruir milhões de hectares de florestas, lavouras e até áreas verdes em perímetros urbanos, rejeitou a acusação de omissão contra ela e Lula da Silva e afirmou que o Brasil é alvo do que classificou como “terrorismo climático”. Num tom alarmista, Marina Silva afirmou que cinco milhões de quilómetros quadrados, ou quase 60% do território brasileiro, poderão ser destruídos pelo fogo se não houver uma forte ação coordenada das autoridades. “A diferença do Brasil para outros países onde também se está a verificar uma estiagem severa, é que aqui no Brasil nós temos uma aliança criminosa, uma espécie de terrorismo climático, com pessoas a usar as mudanças do clima para agravar ainda mais o problema. Se as pessoas não pararem de atear fogo, nós estamos diante de uma situação, só para se ter uma ideia, de uma área de quase cinco milhões de quilómetros quadrados com matéria orgânica muito seca em processo de combustão muito fácil em função da baixa humidade, da alta temperatura, da velocidade dos ventos. É uma situação de alto risco que se alastra por quase todo o território nacional”, disse. (Correio da Manhã)
O site latino Nodal traz reportagens de várias mídias em sequência sobre a crise climática do Brasil.
O site Kaos em La Rede destaca o papel do agronegócio nas queimadas. Os incêndios florestais no Brasil, Bolívia e Paraguai afetaram a Amazônia e outros biomas, como o Gran Chaco, o Pantanal e o Cerrado brasileiro. O denominador comum é a influência do agronegócio nas queimadas. Na Bolívia, mais de quatro milhões de hectares foram destruídos nos departamentos de Pando, Beni, Santa Cruz e La Paz. No Paraguai, 70.000 hectares já foram consumidos pelo fogo. E no Brasil, 5.132 focos de incêndio foram registrados em um único dia. A seca está acelerando a propagação do fogo na região.
“O fogo e o Brasil. Há um futuro nisso?”, questiona do Le Monde Diplomatique em longo texto analítico. “O agronegócio monocultor de exportação condena o presente e o futuro com fogo, fumaça, seca, calor e agrotóxicos”. Análise assinada por Marcos Woortmann, cientista político e mestre em direitos humanos e cidadania pela Universidade de Brasília, é diretor adjunto do Instituto Democracia e Sustentabilidade.
CONTAS PÚBLICAS
Com o título “Os ajustes do Brasil para cumprir a meta fiscal ameaçam prejudicar a credibilidade” a Reuters publica análise sobre as contas públicas com viés pró-economistas ortodoxos e segundo as opiniões de integrantes do mercado financeiro.
Diz o texto que, enquanto o Brasil luta para cumprir sua meta orçamentária para o final do ano, o governo tem se tornado cada vez mais criativo na forma como contabiliza os gastos, as isenções de impostos e as novas receitas, levantando preocupações entre os especialistas sobre a credibilidade de seu novo regime fiscal. Embora a maioria dos economistas privados diga que o presidente Lula precisa cortar os programas de gastos para eliminar o déficit orçamentário, conforme prometido, o esquerdista tem sido relutante em tirar o pé do acelerador fiscal.
Em vez disso, seu governo tem se esforçado para cumprir a meta orçamentária com receitas adicionais e uma série de propostas não convencionais: limpar contas bancárias esquecidas, usar um credor estatal para fornecer subsídios que reduzam o custo do gás de cozinha e até mesmo inventar uma nova isenção de impostos para medalhistas olímpicos – medidas que atraíram críticas por burlarem as regras da legislação fiscal.
Questionado sobre as preocupações, o Ministério das Finanças afirma que está comprometido em atingir a meta orçamentária e, ao mesmo tempo, seguir rigorosamente as regras fiscais para “garantir a solidez das contas públicas”.
BRUNO E DOM
Na terça-feira, juízes de apelação no Brasil mantiveram as acusações contra apenas dois dos três homens acusados de assassinar Bruno Pereira e Dom Phillips, em uma decisão “recebida com indignação” por ativistas indígenas. Os três juízes decidiram que não havia “provas suficientes de autoria ou participação” de Oseney da Costa de Oliveira, um pescador, nas mortes de 2022 do especialista indígena brasileiro e do jornalista do British Guardian. No entanto, as acusações contra os outros dois acusados – o também pescador Amarildo da Costa de Oliveira (irmão de Oseney) e Jefferson da Silva Lima (também conhecido como Pelado da Dinha) – foram mantidas e eles serão julgados por um júri. Em um comunicado, a Univaja, a associação indígena onde Pereira trabalhava, disse que “recebeu a decisão com indignação”, considerando-a “preocupante” porque “pode levar à libertação de Oseney”. (Guardian / Independent com Associated Press))
VENEZUELANOS NO BRASIL
Centenas de venezuelanos atravessam para o norte do Brasil à medida que a situação política na Venezuela piora após a eleição presidencial de 28 de julho. “Não podemos lidar com esse presidente na Venezuela”, diz José Antônio, um dos migrantes que cruzaram a fronteira. (vídeo- Agência France Press – AFP)
X DE NOVO
Uma agradável surpresa para os fãs do X. Nesta quarta-feira, alguns brasileiros ficaram surpresos ao poderem acessar novamente a rede social X (antigo Twitter), apesar de ela ter sido suspensa desde o final de agosto, após uma decisão do Supremo Tribunal Federal, que está investigando a retomada parcial do serviço. O aplicativo estava funcionando via rede celular e Wi-Fi para alguns usuários, enquanto para outros o acesso continuava impossível, observou a Agência France Press. A Suprema Corte está “verificando informações relativas ao acesso ao X por determinados usuários. Aparentemente, trata-se apenas de uma questão de instabilidade no bloqueio de certas redes”, disse o tribunal superior em um comunicado enviado à AFP. De acordo com a Associação Brasileira de Provedores de Serviços de Internet (Abrint), “o aplicativo X foi atualizado (…) durante a noite, o que resultou em uma mudança significativa em sua estrutura” e “torna o bloqueio do aplicativo muito mais complicado”. O texto informa todo o contexto da proibição. (Le Parisien)
Na imagem, montagem de fotos dos presidentes Putin e Lula / Reprodução
Jornalista, ex-Folha, Reuters e Valor Econômico. Participei da cobertura de posses presidenciais, votações no Congresso, reuniões ministeriais, além da cobertura de greves de trabalhadores e de pacotes econômicos. A maior parte do trabalho foi no noticiário em tempo real. No Fórum 21, produzo o Focus 21, escrevo e edito os textos dos analistas.