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Crise? Que crise? Mídia evita divulgar a urgência climática

Crise? Que crise? Mídia evita divulgar a urgência climática

Aos moldes do filme Don´t Look UP (cena acima), principais jornais e programas de TV não estão tratando a crise climática como emergência, afirma Giancarlo Sturloni, porta-voz do Greenpeace na Itália.

e um alienígena pousasse na Terra hoje e começasse a assistir à televisão, ouvir rádio ou ler jornais, provavelmente não perceberia que a humanidade e seu habitat natural estão enfrentando uma ameaça existencial, que a está levando à sexta extinção em massa, que vem devastando a vida de muitos, especialmente no Sul Global, e em…

POR PAUL VIRGO

ROMA – Se um alienígena pousasse na Terra hoje e começasse a assistir à televisão, ouvir rádio ou ler jornais, provavelmente não perceberia que a humanidade e seu habitat natural estão enfrentando uma ameaça existencial, que a está levando à sexta extinção em massa, que vem devastando a vida de muitos, especialmente no Sul Global e que, em breve, atingirá a todos.

“Não sei o que é mais assustador, o fato de o CO2 atmosférico ter acabado de atingir o nível mais alto da história da humanidade, ou disso ter passado quase completamente despercebido”, twittou a ativista climática sueca Greta Thunberg em 9 de abril sobre os dados do Laboratório de Monitoramento Global, do Escritório Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos.

Com algumas exceções notáveis, a crise climática não levou a melhor sobre a grande mídia e, de fato, cientistas e ativistas que soam o alarme são frequentemente rotulados como extremistas perigosos ou excêntricos.

O tratamento dado, ano passado, por um popular programa de TV, Good Morning Grã-Bretanha, a Miranda Whelehan, jovem integrante do grupo Just Stop Oil, um grupo britânico de desobediência local, é um bom exemplo.

Em vez de levar em conta seus válidos argumentos sobre os perigos iminentes descritos nos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), Miranda foi ridicularizada e intimidada com argumentos falsos, incluindo críticas por “usar roupas” que poderiam ter sido transportadas com petróleo. “Eu deveria aparecer nua?”, criticou então.

Foi um episódio tão lamentável que parecia ter sido arrancado diretamente de “Don´t Look Up” (Não Olhe para Cima”), filme satírico de Adam McKay, de 2021, sobre a crise climática.

Mas a deturpação na cobertura sobre o clima é apenas uma pequena parte do problema.

O pior é que o aquecimento global e seus efeitos são amplamente ignorados, enquanto as fofocas sobre celebridades e esportes parecem estar no topo da agenda de notícias.

Não há histórias suficientes sobre a emergência climática e as que são publicadas ou exibidas não recebem a importância que merecem.

Uma nova pesquisa do Greenpeace Itália dá uma ideia da dimensão do problema.

Realizado em conjunto com o instituto de pesquisa Osservatorio di Pavia, o estudo mostra que os principais jornais italianos publicam apenas cerca de 2,5 artigos por dia que tratam explicitamente da crise climática.

Em contrapartida, os jornais dão muito espaço às empresas cujas atividades geram grandes emissões de gases de efeito estufa, publicando uma média de seis anúncios semanais para as empresas relacionadas à cadeia dos combustíveis fósseis e aos setores automotivo, turismo de cruzeiros e transporte aéreo.

O estudo revela que menos de 3% das informações nos principais telejornais italianos referem-se à crise climática.

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“Os principais jornais e meios de comunicação não tratam a crise climática como uma emergência”, disse à IPS o porta-voz do Greenpeace Itália, Giancarlo Sturloni (foto ao lado).

As notícias são escassas e esporádicas. E a crise climática quase nunca é um assunto de primeira página. “Basta dizer que nos principais telejornais do horário nobre, as alterações climáticas são mencionadas em menos de 2% das notícias e em alguns períodos fica abaixo de 1%”, acrescentou.

Além disso, “na mídia italiana as causas são pouco mencionadas, a começar pelos combustíveis fósseis, e menos ainda os principais culpados, as empresas de petróleo e gás”.

Naturalmente, esse fenômeno não se limita à imprensa da Itália.

Em 2019, os jornais Columbia Journalism Review, The Nation, The Guardian e WNYC criaram o Covering Climate Now (CCNOW em inglês). Trata-se de um consórcio que busca trabalhar com jornalistas e meios de comunicação para ajudar a mídia a dar à crise climática o devido tratamento que ela merece.

Desde então, mais de 500 membros aderiram com uma projeção combinada de 2 bilhões de pessoas em 57 países.

No entanto, afirmam seus co-fundadores Mark Hertsgaard e Kyle Pope, embora tenha havido progresso grande parte da mídia ainda falha em divulgar que a mudança climática é “uma ameaça iminente e mortal”, e lamentam que menos de 25% do público americano ouça sobre isso na mídia, pelo menos uma vez por mês.

Existem várias razões pelas quais a crise climática é subnotificada.

Esta é uma crise complicada e muitas vezes deprimente, então os editores podem relutar em publicar matérias que exijam muitas explicações e arriscar que o público deixe de seguir suas informações.

Além disso, Hertsgaard (correspondente ambiental do The Nation) e Pope (editor-chefe da Columbia Journalism Review) relatam que muitos dos principais veículos garantiram, em off, que não assinariam a Declaração de Emergência Climática da CCNow porque isso soaria como ativismo e eles não querem parecer tendenciosos.

Sturloni acredita que o dinheiro também desempenha um papel.

Nossa análise mostra que a voz das empresas quase sempre é a que mais espaço ocupa na narrativa midiática da crise climática, inclusive mais que a voz de cientistas e especialistas”, afirmou.

“As empresas mais responsáveis pela crise climática também encontram um amplo espaço nos principais meios de comunicação italianos, e muitas vezes aproveitam para fazer greenwash (criar uma falsa imagem verde) ou promover falsas soluções como o gás, a compensação de carbono, a captura e armazenamento de carbono, a fusão nuclear etc.”

Isso se deve, explicou o porta-voz do Greenpeace Itália, “à dependência da mídia italiana do financiamento de empresas de combustíveis fósseis, o que pode influenciar a agenda noticiosa da mídia escrita e televisiva, bem como a própria narrativa sobre a crise climática”.

Em sua análise, “isso impede que as pessoas estejam bem informadas sobre a gravidade da ameaça e, portanto, sobre as soluções que devem ser aplicadas com urgência para evitar os piores cenários do aquecimento global”. (T: MF / ED: EG)

Artigo publicado na IPS

(Original, em inglês)

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