761 milhões completaram ou ultrapassaram os 65 anos
Somos capazes de ampliar a expectativa de vida, mas incapazes de extinguir as relações violentas e abusivas de trabalho. Capazes de conter a destruição da camada de Ozônio, mas incapazes de ensinar 671 milhões de crianças e jovens a ler mostram os estudos e pesquisas divulgados neste mês de janeiro na Inter Press Service (IPS).
A humanidade está vivendo mais. A vida vem se prolongando e a tendência é que esse processo se acelere. Em 2021, segundo estudo da Desa (Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais) das Nações Unidas, 761 milhões de pessoas completaram ou ultrapassaram os 65 anos de idade, e a estimativa é de que o número chegue a 1.600 milhões em 2050.
Se esse processo será positivo ou não dependerá do que os países farão desde já para que suas populações envelheçam com saúde. Segundo o Relatório Social Mundial 2023, o aumento do tempo de vida das pessoas está ligada às melhorias na área da saúde e terapias médicas, maior acesso à educação e à redução da fertilidade.
O estudo também problematiza as implicações econômicas e sociais do envelhecimento que “afeta todas as partes das economias e sociedades, desde cuidados de saúde e educação até emprego e tributação”, por isso, é fundamental promover a igualdade de oportunidades e desde o nascimento, afinal, “cada fase da vida pode contribuir ou prejudicar o bem-estar na velhice”.
Pesquisas sobre o universo do trabalho
Um dos grandes fatores que podem impactar a saúde e o bem-estar, e não apenas na velhice, é a violência no ambiente de trabalho. Pesquisa realizada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), Lloyd’s Register Foundation (LRF) e Gallup, com 75.000 pessoas em 121 países, revela que a violência e o assédio no trabalho afetaram mais de uma a cada cinco pessoas.
Os números são do estudo Experiences of Violence and Harassment at Work: a global first survey (Experiências de violência e assédio no trabalho), o primeiro do gênero que permite uma visão panorâmica do problema.
Apenas metade das vítimas contou o que sofreu, e mesmo após terem passado por mais de uma forma de violência ou assédio. As mulheres (60,7%) vêm denunciando mais do que os homens (50,1%).
A OIT também esteve à frente de outra pesquisa, Work Time and Work-Life. Balance Around the World que observa dois aspectos centrais: as horas de trabalho e a organização do tempo de trabalho. Mostra ainda como as transformações e novas modalidades de trabalho trazidas pela pandemia permitiram uma maior produtividade e um melhor equilíbrio entre a vida profissional e pessoal dos trabalhadores.
A pesquisa também aponta como fundamental a proteção das leis e das regulamentações sobre as horas trabalhadas e os períodos de descansos, afirmando que sem isso é impossível garantir “a saúde e o bem-estar a longo prazo de uma sociedade”. Jornadas de trabalho mais longas tendem a estar associadas a menor produtividade, aponta.
Aos governos, a OIT recomenda que aproveitem “as experiências adquiridas com a redução e flexibilização do horário de trabalho durante a crise da COVID-19”; e incluam “modalidades de meio período, com os maiores valores possíveis, não apenas para manter o emprego, mas também para sustentar o poder de compra e criar a possibilidade de amortizar os efeitos das crises econômicas”. Leia reportagem da IPS sobre a pesquisa.
Civilização de extremos
Enquanto os trabalhadores exigem o direito de “se desconectar”, um contingente imenso de crianças e adolescentes permanece fora da sala de aula.
Nesta terça-feira (24), Dia Internacional da Educação, o Fundo Mundial da ONU para a educação em situações de emergência e crises prolongadas, A educação não pode esperar (ECW, en inglés), publicou um artigo na IPS, com dados sobre o acesso à educação no mundo.
Quando foi criado, em 2016, a ECW estimava que 75 milhões de crianças atingidas por crises necessitavam de apoio educativo. Hoje, a cifra cresceu para 222 milhões de crianças privadas do direito à Educação. E mais: 671 milhões de crianças e adolescentes (8% da população mundial) em todo o mundo não sabem ler, o que representa mais de 8% da população mundial. “Estamos falando do risco de se perder uma geração inteira”, afirma a ECW.
Dois passos para trás na educação e no mundo trabalho, e um passo grande adiante:
Estamos perto de reverter a destruição da camada de ozônio, é o que afirma o informe da Organización Meteorológica Mundial (OMM) sobre um estudo, apresentado na 103ª reunião anual da American Meteorological Society dos Estados Unidos.
Segundo os cientistas “a eliminação gradual de quase todas as substâncias proibidas que prejudicavam a camada de ozônio conseguiu preservar o escudo protetor, permitindo uma recuperação notável na estratosfera superior e uma diminuição na exposição humana aos nocivos raios ultravioleta do Sol”, detalha a IPS. E complementa:
“As variações no tamanho do buraco na camada de ozônio na Antártida, especialmente entre 2019 e 2021, foram em grande parte devido às condições climáticas. No entanto, desde o ano 2000 a superfície e a profundidade do furo vêm melhorando lentamente”.
Repórter do Fórum 21, com passagem por Carta Maior (2014-2021) e Blog Zé Dirceu (2006-2013). Tem doutorado em Semiótica (USP) e mestrado em Crítica Literária (PUC-SP).