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A subversão dos caranguejos

A subversão dos caranguejos

Até há pouco, Portugal, Malta, Luxemburgo e a Irlanda eram os países da Europa que estavam livres da representação da extrema-direita em seus parlamentos. Isto deixou de ser verdadeiro em Portugal há cinco anos com a fundação do partido neosalazarista Chega, em 2019.  Mais ainda desde a semana passada, quando uma artificial crise política fez o governo do Partido Socialista se demitir e levou o presidente Marcelo Rebelo de Souza a convocar novas eleições. O Chega passou sua representação de 12 para 48 cadeiras na Assembleia da República, transformando-se na terceira força política do país.

A extrema-direita com matiz neonazifascista tem crescido na Europa capitalizando a crise geral do capitalismo, o aumento dos preços, o desemprego, a falta de moradias, os problemas no estado de bem-estar social e o desconforto da classe média com a imigração. É um voto de protesto contra os partidos políticos tradicionais que não têm conseguido dar respostas adequadas a esses problemas. Terreno fértil para demagogos extremistas. A utilização de notícias falsas pelo uso certeiro das novas tecnologias da informação tem preparado o terreno para o sucesso eleitoral.

Propostas

 Diferente dos fascismos clássicos, com sua proposta de um futuro diferente para o capitalismo liberal, a extrema-direita de hoje não tem uma proposta de futuro, mas um regresso ao passado. Não se trata de um movimento revolucionário e sim reacionário.

As próximas eleições da União Europeia serão entre 6 e 9 de junho. Os partidos de matiz nazifascista têm como certa a vitória em dez dos 27 países.

Na Holanda, o Partido da Liberdade (PVV), liderado por Geert Wilders, venceu as eleições legislativas antecipadas nos Países Baixos em novembro de 2023, com uma margem esmagadora. O PVV é um partido anti-imigração, anti-islamismo e anti-União Europeia.

A Frente Nacional (FN), de extrema-direita, liderada por Marine Le Pen, é o principal partido de oposição na França. A FN é um partido anti-imigração, anti-islamismo e anti-UE. Nas duas últimas eleições para Presidente ficou em segundo lugar.

A Liga Norte, ou simplesmente Liga, de Matteo Salvini, um extremista de direita, é um dos principais partidos italianos. É anti-imigração, anti-islamismo e anti-UE. O Fratelli d’Italia, neofascista, de Giorgia Meloni, lidera o atual governo.

O Partido Lei e Justiça (PiS), de extrema-direita, tem a maioria dos votos na Polônia. É um partido nacionalista, conservador e populista.

O Fidesz é o partido governante na Hungria. Da mesma forma que os outros de extrema-direita nos demais países, é um partido nacionalista, conservador e populista.

O partido nazista alemão tomou forma logo após a Primeira Grande Guerra e sabemos como foi o seu princípio e o seu fim. Agora, depois da Guerra Fria, reaparece pelas mãos do neonazismo, a ideologia que volta a assombrar a Alemanha e outros países europeus com os fantasmas que traz consigo violência e destruição, intolerância, o primado da crença na raça pura e a discriminação contra homossexuais, estrangeiros, negros e, mais uma vez, os judeus. Além do anticomunismo irracional e violento.

São jovens entre 16 e 25 anos que formam a mais aguerrida militância dos movimentos neonazistas. Mas estes movimentos não existem apenas na Alemanha, onde talvez tenha sido o seu berço. Espraiaram-se por praticamente todos os países da Europa e já mostram força nos Estados Unidos, que amam ver-se a si próprios como os campeões da liberdade, a ponto de terem feito guerras contra outros países sob pretexto de implantar a democracia.

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O crescimento desse novo, mas velho radicalismo político fez com que especialistas fizessem dele objeto de estudos na busca de entender o que de fato representa. Os jovens deixam-se conquistar por estarem em busca de respostas para questões relacionadas a desajustes de ordem familiar, pessoal ou social. Partem em busca de culpados e acabam apontando as minorias étnicas ou religiosas ou o partido político que se encontra no governo. O primeiro passo é a aceitação cega das teses e valores da extrema-direita, como acontece por exemplo com o que vemos hoje no Brasil com o fenômeno do bolsonarismo.

Pelas pesquisas que têm sido realizadas, a extrema-direita tem chances de aumentar sua representação no Parlamento Europeu e em outros países como Áustria, Dinamarca, Finlândia, Suécia, República Checa, Eslováquia, Bulgária e Romênia.

Estratégia

A estratégia dos partidos nazifascistas que atuam nesses países é a formação de uma aliança que fortaleça sua influência no Parlamento Europeu e dê suporte à conquista dos governos nacionais onde têm crescido na preferência dos eleitores. Foi realizada uma reunião em Budapeste entre os líderes da extrema-direita da Itália, Mateo Salvini, da Polônia, Mateusz Morawiecki e da Hungria, Victor Orbán. Segundo um comunicado emitido depois desse encontro, a pauta tratou da proteção das raízes da Europa contra o “multiculturalismo sem alma”, decorrente da imigração, e da defesa da família tradicional.

Os partidos radicais de direita desenvolveram a habilidade de manipular os medos e fantasmas das classes médias da Europa. Sobre este medo a extrema-direita constrói a lógica de guerra em que a classe média já não aspira ser uma classe média alta e sim a não ser classe operária que, por sua vez, aspira não ser o imigrante submetido a subempregos humilhantes. Na sua lógica adversa, a extrema-direita apresenta uma solução: vamos voltar ao passado. Sua ideologia caminha para trás, como os caranguejos. Se há escassez, que sejam expulsos os extratos sociais que não têm direito a um passado mítico, um tempo de fertilidade.

*Imagem em destaque: Reprodução/PartidoCHEGA/X

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