Dezenas de vítimas após colapso de mina ilegal de ouro na Venezuela
A mina La Paragua desabou sobre dezenas de vítimas, no sudeste da Venezuela. A mineração ilegal se espalhou pela região que faz parte da Amazônia, causando sérios danos aos rios, à biodiversidade, às comunidades indígenas e à vida e segurança dos mineiros. (Foto: Fritz Sánchez / Efecto Cocuyo)
POR CORRESPONDENTE IPS
CARACAS – Uma mina ilegal de ouro desabou na Amazônia venezuelana, o deslizamento de terra e lama atingiu cerca de cem pessoas que trabalhavam no buraco, e cerca de 30 delas morreram, segundo os primeiros relatos conhecidos sobre o acidente.
As autoridades locais confirmaram a informação sobre o desabamento da mina, que ocorreu na tarde de 20 de fevereiro no setor de La Paragua, na margem direita do baixo rio Orinoco, a cerca de 700 quilômetros a sudeste de Caracas, embora tenham divulgado números diferentes sobre o número de vítimas.
Edgar Colina, secretário de Segurança do estado de Bolívar, no sudeste, fronteiriço com o Brasil, confirmou que houve pelo menos dois mortos e dois feridos, e disse que equipes de resgate foram enviadas à mina, em uma área florestal, nesta quarta-feira, 21.
Enquanto isso, o prefeito da área onde está La Paragua, Yorgi Arciniega, disse que, segundo seus relatórios, 30 pessoas morreram e outras 100 foram afetadas pelo desabamento.
As bordas do buraco, com cerca de 35 metros de profundidade, cederam enquanto os trabalhadores tentavam remover grandes volumes de terra e areia que contêm pequenos grãos de ouro na mina “Bulla Loca”, que está nas mãos de dois grupos armados ilegais, segundo relatos da imprensa na região.
Nessas minas ilegais, as pessoas trabalham de maneira rudimentar, sem medidas mínimas de segurança e muito menos de cuidado com o meio ambiente. Muitas vezes, adolescentes são empregados para realizar as primeiras escavações e as mulheres jovens para manter os acampamentos.
Em condições como essas, centenas de operações de mineração ilegal operam na vasta Amazônia ou Orinoquia venezuelana, com mais de 400.000 quilômetros quadrados de grande riqueza mineral, florestas, biodiversidade, rios caudalosos e residência de mais de 20 etnias indígenas.
Há dois anos, uma investigação com rastreamento por satélite do grupo jornalístico Armando.info encontrou 3.700 pontos de atividade mineradora em todo o sul e sudeste da Venezuela.
No segundo semestre de 2023, o chefe operacional das Forças Armadas venezuelanas, general Domingo Hernández, relatou o despejo de 14.000 pessoas dedicadas à mineração ilegal e a destruição de 4.500 estruturas de acampamento em parques nacionais no extremo sul do país.
Em 2021, uma investigação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico estimou que a Venezuela, com potencial para produzir atualmente cerca de 70 toneladas anuais de ouro, na realidade extrai entre 30 e 40 toneladas, sendo metade disso pelo menos produzida e exportada de forma irregular e ilegal.
Desde 2016, opera na Venezuela o “Arco Mineiro do Orinoco”, uma zona econômica especial de 112.000 quilômetros quadrados, ao sul do baixo e médio Orinoco, com grande riqueza em minerais preciosos e estratégicos, confiada aos comandos militares para exploração.
Os movimentos ambientalistas criticam o Arco Mineiro por falta de estudos de impacto ambiental, como ameaça à biodiversidade e ao habitat dos povos indígenas, e por se tornar um polo de atração para a mineração artesanal e ilegal.
A organização não governamental SOS Orinoco aponta que a atividade mineradora na Amazônia venezuelana comprometeu cerca de 200.000 hectares de floresta entre 2000 e 2022, e pelo menos 20.000 hectares nos dois últimos anos.
O mercúrio utilizado – também ilegalmente – para extrair o ouro e o desmatamento, junto à sedimentação causada pelos movimentos de terra e areia, afetam tanto os habitats indígenas quanto a bacia do rio Caroní, cuja represa de Guri gera 70% da eletricidade consumida pela Venezuela.
SOS Orinoco denuncia a existência de dezenas de pistas de pouso clandestinas, usadas para a extração ilegal de ouro e outros minerais, que também podem ser usadas para o tráfico de drogas.
Na região, além das forças militares e policiais do Estado, operam grupos armados irregulares, com gangues ou “sindicatos” que controlam as minas, colunas das guerrilhas colombianas Exército de Libertação Nacional (ELN) e dissidências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Artigo publicado na Inter Press Service.
Foto de capa: A mina La Paragua, um grande buraco em busca de grãos de ouro entre toneladas de areia e terra, desabou no sudeste da Venezuela, causando dezenas de vítimas. A mineração ilegal se espalhou por essa região que faz parte da Amazônia, causando sérios danos aos rios, à biodiversidade, às suas comunidades indígenas e à vida e segurança dos mineiros. Imagem: Fritz Sánchez / Efecto Cocuyo.
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