Esquerda e direita nas eleições europeias
As eleições no dia 9 de junho representam um momento crucial para a democracia na Europa. Os eleitores de 27 países escolherão os seus representantes no Parlamento Europeu.
POR CELSO JAPIASSU
Existe consenso de que as eleições do dia 9 de junho representam um momento crucial para a democracia na Europa. Os eleitores de 27 países escolherão os seus representantes no Parlamento Europeu. Nesse contexto, a esquerda e a direita são dois blocos políticos que têm sido fundamentais na formação da política no continente. A esquerda é representada no Parlamento, entre outros menores, pelo Partido Socialista Europeu (PSE) e pelo Partido da Esquerda Europeia (PEE), que têm defendido justiça social, igualdade e proteção dos direitos dos trabalhadores. Têm pautado lutas contra a pobreza, a desigualdade e a exploração do trabalho e defendido políticas públicas que promovam a solidariedade e a cooperação entre os países.
A direita, representada principalmente pelo Partido Popular Europeu (PPE) e o Partido Conservador Europeu (PCE), tem enfatizado a defesa da liberdade individual, a propriedade privada e o livre mercado. Essas diferenças de abordagem são os pilares da política europeia e refletem as diferentes visões sobre o papel do Estado na economia e na sociedade. A esquerda acredita que o Estado deve ter um papel mais ativo na proteção dos direitos dos cidadãos e na promoção da justiça social, enquanto a direita acha que o Estado deve ser limitado e a economia deixada ao livre mercado. São visões contraditórias sobre o papel do Estado na economia e na sociedade.
Os partidos
Os principais partidos de esquerda e direita que concorrem a 720 assentos no Parlamento Europeu são os seguintes:
Esquerda:
- Partido Socialista Europeu (PSE): Representa a esquerda socialdemocrata e inclui partidos como o PS português.
- Partido da Esquerda Europeia (PEE): Representa a esquerda dita radical e inclui partidos como o PCP português.
- Renew: Representa a esquerda liberal.
- The Left: inclui partidos da chamada extrema-esquerda.
Direita:
1. Partido Popular Europeu(PPE): Representa a direita conservadora.
2. Conservadores e Reformistas Europeus (ECR): Representa a direita dita conservadora e inclui partidos como o Chega português. Falam em nome de partidos de extrema-direita e eurocéticos e têm impacto considerável nas intenções de voto em vários países.
3. Identidade e Democracia (ID): Representa partidos de extrema-direita com euroceticismo enraizado, liderando as intenções de voto em países como Itália, França, Países Baixos, Hungria, Áustria, Bélgica, República Checa, Polónia e Eslováquia.
4. AfD (Alternativa para a Alemanha): Representa a extrema-direita neonazista alemã.
De acordo com as pesquisas publicadas, esses partidos devem crescer nas eleições de 2024, com a possibilidade de ocupar um quarto dos assentos no Parlamento Europeu.
Os partidos da extrema-direita que concorrem às eleições têm suas estratégias de comunicação baseadas na desinformação e na exploração de temas como a imigração e a soberania nacional. Alguns pontos-chave de suas plataformas eleitorais:
- Oposição à imigração e culpabilização de imigrantes por problemas sociais e econômicos
- Críticas à União Europeia e defesa da soberania nacional, com alguns partidos defendendo a saída de seus países da UE (euroceticismo)
- Discurso antiestablishment e promessas de mudança radical contra o “status quo”
- Posições nacionalistas e protecionistas na economia
Esses partidos têm conseguido grande engajamento, especialmente entre os jovens, nas redes sociais como TikTok e YouTube, onde disseminam desinformação e conteúdo inflamatório. Suas propostas são vistas com preocupação por analistas, que alertam para as ameaças a compromissos assumidos como o Pacto Ecológico Europeu, o apoio à Ucrânia e o futuro alargamento da UE.
A ascensão dos partidos populistas de direita terá impacto na política interna dos países-membros da União Europeia. Alguns dos principais efeitos que são previstos:
Bloqueio de legislação importante
Um aumento da influência de partidos populistas e eurocéticos no Parlamento Europeu pode levar a bloqueios na aprovação de legislação crucial, como as medidas previstas pelo Pacto Ecológico Europeu, atrasando a implementação de políticas ambientais e climáticas essenciais.
Enfraquecimento do apoio à Ucrânia
Partidos pró-Rússia como o Revival da Bulgária, que deve ganhar assentos no Parlamento Europeu pela primeira vez, podem enfraquecer o apoio da UE à Ucrânia e afeta a unidade europeia em questões de política externa.
Efeito contágio em eleições nacionais
Os resultados das eleições podem ter efeito de contágio em futuras votações na política interna de países como Alemanha, França e Áustria. Isso pode levar a uma onda de vitórias de partidos de extrema-direita.
Rejeição de parcerias internacionais
Uma coligação de partidos de direita no Parlamento Europeu, aliada a um possível retorno de Donald Trump à Casa Branca, pode aumentar a tendência de partidos populistas rejeitarem a interdependência estratégica e parcerias internacionais. A ascensão da extrema direita é vista com grande preocupação pelos analistas da política na Europa.
Foto de capa: Hemiciclo do edifício Louise-Weiss do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, durante uma sessão plenária em 2014. Foto: David Iliff/ CC BY-SA 3.0/ Wikipedia.
Poeta, articulista, jornalista e publicitário. Traballhou no Diário de Minas como repórter, na Última Hora como chefe de reportagem e no Correio de Minas como Chefe de Redação antes de se transferir para a publicidade, área em que se dedicou ao planejamento e criação de campanhas publicitárias. Colaborou com artigos em Carta Maior e atualmente em Fórum 21. Mora hoje no Porto, Portugal.
É autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965).