O continente fecha as suas portas

O continente fecha as suas portas

Os partidos políticos de cunho neofascista e outros também do campo da extrema direita acusam os imigrantes da falta de emprego, da criminalidade crescente, pelo ódio religioso e pelos ataques terroristas. O discurso populista e demagógico atrai grande parte dos eleitores de classe média e aqueles partidos radicais estão a chegar ou já estão no…

A crise atual dos refugiados, responsável por tantas mortes em naufrágios no Mediterrâneo e nas fugas terrestres, durante a penosa travessia de fronteiras, terá começado nos anos 1990. Foi quando eclodiram as guerras nos Balcãs, com o fim da República Federativa Socialista da Iugoslávia e as intervenções da OTAN. Os conflitos mais violentos ocorreram entre 1991 e 2001. As limpezas étnicas promovidas pela Sérvia foram responsáveis por fugas em massa para os países da Europa Ocidental. Um pouco mais tarde, com o impacto dos agudos conflitos na África e no Oriente Médio, a situação agravou-se cada vez mais e o pior ano foi o de 2015. Mais de um milhão e trezentas mil pessoas pediram asilo e perto de quatro milhões morreram afogadas na desesperada travessia do Mar Mediterrâneo.

Com o verão europeu e o agravamento da crise no Oriente e na África, junto com a guerra da Ucrânia, os governos da Europa temem que 2023 venha a repetir a tragédia de 2015.

Em 1993, durante a violência nos Balcãs e a chegada dos refugiados, a Alemanha alterou a sua lei de asilo para dificultar a entrada de imigrantes, mas o objetivo era se proteger dos que chegavam da ex-Iugoslávia. Até aquele ano os perseguidos políticos que entrassem no território alemão estariam sob proteção. Depois das alterações na lei, quem entrasse no país passando por um terceiro país considerado seguro deixava de ter o direito de asilo.

A Alemanha tem em seu território 12 milhões de imigrantes legais vindos dos mais diversos países. Está em segundo lugar no mundo, depois dos Estados Unidos, entre os que têm acolhido populações estrangeiras. A França tem quase oito milhões e a Espanha quase sete milhões de imigrantes. Estes são apenas três dos vinte e sete países que compõem a União Europeia, de um total de 50 que formam o continente. Esta chegada de povos estrangeiros tem provocado desequilíbrios internos, xenofobia e o crescimento dos partidos de direita oportunistas que procuram fazer capital político disseminando ódio aos imigrantes.

Foi depois da Segunda Guerra Mundial que começaram com intensidade essas transferências de levas e levas de refugiados econômicos entre os países. Com a reconstrução, principalmente da Alemanha e da França, após os desastres da guerra, os trabalhadores e suas famílias dos países mais pobres foram atraídos pela esperança dos empregos que vieram com a retomada da industrialização. E também com as oportunidades na agricultura e na reconstrução das cidades destruídas pelos bombardeios. Trabalhadores principalmente de Portugal, Espanha, Itália e Grécia transferiram-se em massa. Para uma vida dura em subempregos dividindo a pobreza com a existente miséria dos nativos. Vítimas das desigualdades sociais e entre os países centrais e periféricos.

Outros movimentos de transferência em grandes correntes migratórias já haviam ocorrido com a Europa no centro delas. Italianos, espanhóis, portugueses, franceses, gregos espalharam-se pelo mundo. O Brasil implantou a política de atração de europeus para a substituição da mão de obra escrava logo após a abolição da escravatura em seu território, com interesse também no “branqueamento” da sua população. Outros países também fizeram campanhas de atração de mão de obra estrangeira. Essa emigração de europeus diminuiu ou foi interrompida durante e logo após a Segunda Guerra e a Europa passou a ser a atração das novas correntes, em movimentos contrários, iniciadas pelos refugiados dos conflitos no Oriente e as invasões que países europeus, comandados pelos Estados Unidos, praticaram nos países árabes. E dos refugiados da África, vítimas da violência, da miséria e da fome.

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Nos dias de hoje, a União Europeia, em troca de dinheiro, fez acordos com a Turquia, além da Líbia e outros países africanos, para deter o fluxo de refugiados ou empurrá-los de volta para o mar. Todas estas são medidas para criminalizar as migrações e fazer com que deixem de existir formas legais para a entrada de refugiados na Europa.

Rejeição

No começo deste ano os 27 países que formam a União Europeia aprovaram a adoção de medidas mais duras para, disseram seus líderes, enfrentarem o que seria a migração ilegal. Isso significa fronteiras mais vigiadas, maior rapidez nas deportações e rejeição de asilo. A Frotex, sigla da Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira, será dotada de nova infraestrutura, com melhores equipamentos e maior capacidade de vigilância. E vai aumentando o número de mortos. De 2014 a 2023 até agora, são contabilizados em quase trinta mil o número dos que morreram na travessia do mar.

De 2000 até 2014 mais de 80 mil pessoas ficaram pelo caminho na fuga pelo Mar Mediterrâneo. Um número igual teria morrido de sede nos desertos ou então de fome ou assassinados. Não estão incluídas nesses números as vítimas de violência ou estupro nas mãos dos traficantes de seres humanos.

A direita e a xenofobia

Os partidos políticos de cunho neofascista e outros também do campo da direita acusam os imigrantes da falta de emprego, da criminalidade crescente, pelo ódio religioso e pelos ataques terroristas. O discurso populista e demagógico atrai grande parte dos eleitores de classe média e os partidos radicais estão a chegar ou já estão no poder na Hungria, Polônia, Áustria, Itália, Suíça, Dinamarca, Noruega. Na França, o neofascista Rassemblement National (em português ‘Reagrupamento Nacional’), liderado por Marine Le Pen, é o novo nome do Front National (‘Frente Nacional’). Chegou perigosamente em segundo lugar nas últimas eleições para a Presidência da República.

Na Itália, o governo de extrema direita de Giorgia Meloni acaba de fechar hermeticamente as suas fronteiras.

*Imagem em destaque (Reprodução/World Economic Forum)

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