Divisão da extrema-direita em São Paulo impacta eleição no país
Candidatos de Lula em SP, Rio e Recife têm chances de vitória enquanto Bolsonaro vacila entre Nunes e Marçal
Por Carmen Munari
Com tantas pesquisas eleitorais para a Prefeitura de São Paulo fica difícil para o eleitor conseguir ter uma ideia mais precisa das intenções de voto. Um total de oito empresas realizam levantamentos deste tipo na capital paulista nesta disputa. Para ajudar os interessados em conhecer melhor os resultados, foram criados os chamados agregadores de pesquisas. Essas ferramentas levam em conta várias pesquisas e agregam seus índices produzindo porcentagens individualizadas. Olhando as conclusões, elas podem não ser muito diferentes das porcentagens apresentadas por cada empresa, mas são um espelho importante neste momento em que três candidatos estão embolados na liderança da capital paulista –considerada termômetro para o país.
Seja qual for o método de pesquisa ou agregador, Guilherme Boulos (PSOL) está sempre à frente, mesmo que tecnicamente empatado com seus dois concorrentes alinhados à direita: o prefeito Ricardo Nunes (PMDB) e mais recentemente o empresário Pablo Marçal (PRTB). Agora é saber qual dos dois vai para o segundo turno contra Boulos.
Nunes e Marçal disputam o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas até agora a presença do ex-presidente nas campanhas não parece estar fazendo diferença para Marçal, que se tornou um fenômeno da eleição utilizando seus perfis nas redes sociais (agora proibidos pela Justiça) e, em debate, apresentando uma agressividade absurda contra seus concorrentes.
Dois veículos de comunicação estão realizando agregadores nesta eleição: O Globo e CNN Brasil. Cada um trabalha em conjunto com um desenvolvedor, responsável por criar e acompanhar o instrumento que agrega os resultados.
Após a divulgação da mais recente pesquisa Quaest para a disputa de São Paulo, em 28 de agosto, o agregador de pesquisas do Globo, em parceria com o Instituto Locomotiva, indica que o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, segue à frente na corrida na média de levantamentos, mas com uma vantagem ligeiramente menor. Pela ferramenta do jornal, Boulos tinha 23,2% das intenções de voto após a divulgação da última pesquisa Datafolha, e passou para 22,7% depois da divulgação da Quest. Em seguida vem Pablo Marçal (PRTB), que tem crescido no gosto do eleitor de extrema-direita e roubou o segundo lugar que pertencia ao prefeito Ricardo Nunes (PMDB). Marçal somava 20% e passou para 20,7% na média das pesquisas. Ricardo Nunes (MDB) teve leve recuo de 19,2% para 19%.
A ferramenta só apresenta os três primeiros colocados e reúne seis empresas: Datafolha, Quaest, Atlas, Ideia, Ipec e Ipespe. Os dois últimos institutos não estão realizando pesquisas em SP, mas, segundo disse ao Fórum 21 o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, “esses são os institutos que iremos considerar, independentemente se já soltaram pesquisas ou não”.
No agregador da CNN, Boulos tem maior vantagem em relação aos concorrentes, 23%. Marçal aparece com 20% e Nunes com 19%. Neste levantamento, Luiz Datena (PSDB) tem 9%, Tabata Amaral (PSB), 8%, e Maria Helena (Novo), 3%. O Ipespe Analítica, do cientista político Antonio Lavareda, desenvolveu a ferramenta para a CNN e não especifica quais pesquisas entram no cálculo para São Paulo. Como realiza o sistema para 25 capitais, informa apenas uma extensa lista de todas as empresas consultadas.
Os paulistanos indecisos somam apenas 8% na análise estimulada da mais recente Quaest, mas alcança 59% na espontânea –por este índice, a propaganda gratuita de rádio e TV, que teve início em 30 de agosto, deverá ter alta influência na decisão do eleitor. Os debates também devem atuar na escolha, mesmo que repletos de trocas de acusações e insultos.
Nesta quinta-feira (05/09), o Datafolha traz a público nova sondagem. A anterior detectou crescimento de sete pontos percentuais para Marçal, de 14% para 21%. Também nesta quinta-feira serão divulgados os resultados de pesquisas do Datafolha no Rio, Belo Horizonte e Recife.
PT NAS CAPITAIS
O PT lançou 10 candidatos próprios às prefeituras de capitais: Belo Horizonte, Campo Grande, Cuiabá, Fortaleza, Goiânia, João Pessoa, Natal, Porto Alegre, Terezina e Vitória. O partido considera como “seu” o apoio a Boulos, somando 11 disputas. Apenas em Porto Alegre, com a deputada Maria do Rosário, e em Teresina, com Fabio Novo, o partido tem chance, segundo as pesquisas atuais.
Até agora, a polarização nacional ‘Lula versus Bolsonaro’ não está dando tom das disputas nas capitais. Nessas onze cidades, os candidatos independentes estão à frente em sete.
Candidatos de Bolsonaro lideram em três, mas em São Paulo, apesar de Ricardo Nunes ter o apoio declarado de Bolsonaro, Marçal já vem atraindo bolsonaristas, como o vereador Rubinho Nunes (União Brasil), que abandonou o prefeito e no sábado (31/08) declarou apoio a Marçal. Nunes reagiu rápido e demitiu o subprefeito do bairro da Lapa, Luiz Carlos Smith Pepe, que tem relação próxima com o vereador, taxado de “traidor”.
“Apesar de gostar bastante dele, é uma questão de time. Se você tem essa contaminação de um traidor, de uma pessoa sem caráter, sem personalidade, que é o Rubinho Nunes, é preciso restabelecer as relações no que diz respeito à participação dele no governo”, afirmou Nunes durante uma agenda de campanha. E pensar que o vereador fez parte da base de apoio do prefeito na Câmara Municipal. O União Brasil já prevê punição ao dissidente. Mesmo com essas reações, há candidatos a vereador dispostos a abandonar a campanha do atual prefeito.
Em Fortaleza, Capitão Wagner (União Brasil), que está à frente nas pesquisas, também espera contar com o suporte de Bolsonaro.
Além de Boulos em SP, outras capitais com chances de vitória têm o apoio do presidente Lula, segundo as últimas pesquisas. No Rio de Janeiro, o prefeito do PSD Eduardo Paes deve se reeleger (com chance ainda no primeiro turno). Aparece com 60% da intenção de voto dos cariocas segundo a Quaest. Mesma situação em Recife, onde João Campos do PSB alcança 80%.
7 DE SETEMBRO
A comemoração da Independência, no sábado, está sendo vista como data da definição do apoio de Bolsonaro na capital paulista, quando o ex-presidente convocou manifestação para a avenida Paulista. O mote dos bolsonaristas é, mais uma vez, defender o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, turbinados pela divulgação pela Folha de S.Paulo de conversas entre assessores do ministro no STF e no TSE no inquérito que investiga os seguidores do ex-presidente –reportagem vista como factoide que só ajuda os aliados do ex-presidente. A manifestação de sábado é só baixaria e fumaça contra as decisões de Moraes, uma vez que o presidente do Senado, responsável por dar andamento a um eventual pedido de impeachment de ministros do STF, tem dito que não prosseguirá com a medida. Ainda assim, parlamentares bolsonaristas têm dito que vão protocolar o pedido na segunda-feira (09/09). Aqui e ali já há senadores contrários à iniciativa, com o argumento de que ela só uniria mais os ministros do STF.
Ricardo Nunes já confirmou presença e Marçal está fazendo suspense. O evento terá também a presença do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de estimados 50 parlamentares. A lista de discursos e a programação da manifestação será decidida na sexta-feira, 6, em uma reunião entre Bolsonaro e o pastor evangélico Silas Malafaia.
Em Brasília, o presidente Lula vai participar das comemorações oficiais da Independência na Esplanada dos Ministérios.
MARÇAL, O MILIONÁRIO
Pablo Marçal, 37 anos, é caso à parte. Nascido em Goiânia, é casado com Carol Marçal, tem quatro filhos e é bacharel em Direito (não informa em qual instituição). Ele é notícia negativa até em sites de finanças de grande consulta, como o InfoMoney, publicação diária da corretora XP. Vejam a nota, que replica reportagem da Folha de S.Paulo: “Marçal é o candidato mais rico entre os que estão disputando a eleição para a prefeitura de São Paulo: ele declarou um patrimônio de R$ 193,5 milhões à Justiça Eleitoral. Reportagem da Folha de S. Paulo apurou que esse valor informado por Marçal não contempla toda sua riqueza. Foram identificados empresas, imóveis e aeronaves não declarados pelo influenciador. Segundo o jornal, algumas empresas foram omitidas e outras subvalorizadas. No total, esse patrimônio não informado pode somar algo entre R$ 135 milhões e R$ 168 milhões, a depender dos preços das aeronaves”.
LEVY FIDELIX: MÁ SORTE PARA MARÇAL
Apesar de ter disparado nas pesquisas, Marçal carrega um partido que não traz sorte eleitoral. Se Levy Fidelix estivesse vivo, certamente concorreria à eleição deste ano pelo PRTB sigla de Partido Renovador Trabalhista Brasileiro. Fundador da legenda, Fidelix morreu em abril de 2021 aos 69 anos depois de disputar 14 eleições sem nunca ter obtido sucesso. Tentou de tudo, vereador, deputado, prefeito, governador e presidente da República. Quem não se lembra de seu principal projeto: o aerotrem, um trem-bala entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. O PRTB elegeu apenas três deputados federais em seus 40 anos, nenhum na atual legislatura. Se Fidelix dizia que defendia o trabalhismo, a coisa só piorou. O atual presidente da legenda, Leonardo Avalanche, é suspeito de ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Na imagem, o presidente Lula e o candidato Guilherme Boulos participam de ato do 1º de Maio / Ricardo Stuckert / PR
Fontes: O Globo, CNN Brasil, Fundação Perseu Abramo
Jornalista, ex-Folha, Reuters e Valor Econômico. Participei da cobertura de posses presidenciais, votações no Congresso, reuniões ministeriais, além da cobertura de greves de trabalhadores e de pacotes econômicos. A maior parte do trabalho foi no noticiário em tempo real. No Fórum 21, produzo o Focus 21, escrevo e edito os textos dos analistas.