BAHIA: Governo presente cuida da gente

O BC NA CONDUÇÃO DA POLÍTICA DE ESPECULAÇÃO

O BC NA CONDUÇÃO DA POLÍTICA DE ESPECULAÇÃO

Há um caminho alternativo para combater a inflação? Eu chamo esse caminho de “economia da produção”, conforme escrevi no meu último livro, “A Economia Brasileira Como Ela É”. 

Estou enojado com essas repetidas declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, segundo as quais a melhor política social é o combate à inflação. Isso é uma absoluta empulhação. O que ele faz é dar uma justificativa hipócrita para a pior política social já feita na história econômica brasileira, que nos levou ao que chamo de “economia da especulação e do desemprego”, em confronto com a “economia da produção”.

            Para quem se deixa levar por sua retórica cretina, só existiria uma única política de combate à inflação no mundo e no Brasil. Se ele acha isso, com sinceridade, é um ignorante de economia. Se é um impostor, infiltrado no governo Lula para fazer política bolsonarista sem Bolsonaro, estamos diante de um sabotador capaz de provocar, nesse pouco mais de um ano e meio que faltam para ser alijado da presidência do Banco Central, uma tragédia social no país a partir da política monetária.

            Vejamos seus argumentos repugnantes para justificar as altíssimas taxas de juros praticadas no Brasil. Ele afirma que se devem ao desequilíbrio fiscal e à elevada dívida pública interna. Ambas são desculpas falsas. Desequilíbrio fiscal só provoca inflação se o investimento público dele derivado não se aplica a investimentos produtivos responsáveis. Se o investimento for responsável e autossustentável, a produção corresponderá ao financiamento deficitário, oferta e demanda se equilibrarão e não haverá inflação.

Quanto à dívida pública interna, ela só se torna uma perturbação para a economia no caso de incidir sobre ela taxas de juros monstruosas, como as impostas à economia por Campos Neto. Se a taxa real de juros for relativamente baixa, como acontece em todos os países relevantes do mundo, exceto o Brasil, a produção é estimulada, o emprego e a renda aumentam, e a oferta e demanda no mercado se equilibram, eliminando pressões inflacionárias.

Com uma informação econômica deficiente, resultante de sua formação em universidades neoliberais norte-americanas, o presidente do Banco Central se filia ao monetarismo, uma doutrina econômica ultrapassada inventada há décadas pelo economista Milton Friedman. Segundo essa teoria, a inflação é resultante de um desequilíbrio entre oferta insuficiente de bens e serviços no mercado, e demanda monetária alta. Até aí tudo bem. A estupidez é o que vem em seguida. Segundo Friedman, para restabelecer o equilíbrio, é preciso cortar na demanda monetária, aumentando a taxa de juros.  

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Cortar na demanda significa desestimular a produção. Desestimular a produção, mediante o aumento da taxa de juros, significa reduzir a oferta de bens e serviços no mercado e reduzir o emprego. Reduzir o emprego é o pior que se pode esperar de uma política antiinflacionária, em termos sociais. Ou seja, quando faz uma política contra a inflação aumentando a taxa de juros, Campos Neto corta diretamente na oferta e prejudica os pobres, pois os empresários se sentem desestimulados a investir e criar empregos. Isso, acaso, é uma boa política social?

 Há um caminho alternativo para combater a inflação? Eu chamo esse caminho de “economia da produção”, conforme escrevi no meu último livro, “A Economia Brasileira Como Ela É”.  Isso é o que fazem os chineses e outros países desenvolvimentistas. Operando com taxas de juros suficientemente baixas, eles estimulam a produção e, consequentemente, a oferta. Dessa forma, equilibram eventuais pressões inflacionárias resultantes de um aumento da demanda monetária no mercado.

A lição que se pode tirar disso é que a inflação não é um fenômeno estritamente monetário. É basicamente um desequilíbrio físico entre oferta e demanda de bens e serviços no mercado real, pelo que sabemos desde os primórdios dos estudos econômicos. Portanto, a ideia de que a inflação se deve primordialmente ao excesso de dinheiro no mercado, resultante do déficit/investimento público, não passa de uma teoria oportunista, que só interessa a financistas que se beneficiam de taxas de juros altas.

Por outro lado, a forma como Campos Neto justifica suas taxas de juros extremas é se basear em expectativas inflacionárias de um mercado que se beneficia delas, fazendo estimativas de juros e inflação futuros. Isso é uma farsa. Não tem relação com o mercado real. Não tem relação, por exemplo, com choques de oferta: em algumas circunstâncias, como nos anos 70 do século passado, choques dos preços do petróleo e das taxas de juros norte-americanas fizeram a inflação explodir por causa da alta de custos, sem relação direta com o mercado financeiro e suas expectativas.

Infelizmente, o sabotador infiltrado no governo poderá custar a metade do mandato de Lula. Tirá-lo agora seria impossível, porque a concessão de um mandato de quatro anos para ele no governo Bolsonaro foi feita justamente para criar embaraços a qualquer presidente progressista que viesse suceder o predecessor fascista. A composição do Congresso, majoritariamente retrógrada, também é um problema. Nesse caso, porém, talvez Lula seja capaz de estabelecer um caminho de governabilidade com progresso social, embora nada indique que Campos Neto queira isso.

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