Eleições no Zimbábue ampliam a disparidade de gênero na política
Por Farai Shawn Matiashe
Emmerson Mnangagwa, da Zanu PF, continuará no poder após obter 52,6% dos votos, em comparação com seu maior rival, Nelson Chamisa, da CCC, que obteve 44%.
No entanto, a oposição rejeitou os resultados, que foram prejudicados pela intimidação dos eleitores, atraso nas cédulas em redutos opositores como Harare e Bulawayo, as duas principais cidades do país, e fraude da entidade eleitoral em favor do partido governante, o Zanu PF.
Vários relatórios de observadores, incluindo da SADC, declararam as eleições como não confiáveis, não livres e não justas.
O presidente reeleito nomeou apenas seis mulheres dos 26 cargos no novo gabinete, designado em setembro, equivalente a 23% do conselho de ministros.
“Será uma tarefa colossal para o Zimbábue atingir o equilíbrio de gênero de 50%, conforme estabelecido pela Constituição”, indica Masarira. Segundo ela, isso se deve à falta de uma “Lei de Igualdade de Gênero operacional” para alguns artigos da Constituição.
“Em segundo lugar, há uma aplicação seletiva da Constituição por parte dos partidos políticos e do próprio governo, especialmente quando se trata de questões relacionadas ao equilíbrio de gênero, igualdade de gênero e não discriminação”, afirma Masarira.
Kembo Mohadi, o vice-presidente que renunciou em 2021 devido a um escândalo sexual, recuperou seu lugar como principal aliado de Mnangagwa.
Foram vazadas para a mídia local supostas chamadas gravadas de Mohadi solicitando sexo a mulheres casadas que eram suas subordinadas. Mohadi não foi acusado de nenhum crime sexual e negou a gravação, alegando ser vítima de uma conspiração política e clonagem de voz.
“É evidente que os escândalos sexuais de Mohadi ou de qualquer outra pessoa não incomodam Mnangagwa”, afirma Gladys Hlatywayo, alta representante da CCC. “Na verdade, sempre soubemos que os escândalos sexuais nunca foram a razão pela qual ele renunciou e que foram apenas uma cortina de fumaça para um motivo político”, acrescenta em entrevista à IPS. “O recado que Mnangagwa envia ao nomear Mohadi novamente é que ele não se importa com os direitos das mulheres”, diz ela.
Além disso, argumenta Hlatywayo, Mnangagwa envia uma mensagem clara com a nova nomeação de Mohadi como vice-presidente, de que não está disposto a considerar o bem-estar das mulheres.
A nomeação de Mohadi é uma medida “que cheira mal para todas as sobreviventes de abusos sexuais cometidos por homens” e destaca que para o cargo mais alto do país, “os direitos das mulheres não têm importância”, afirma Hlatywayo.
“O cargo de vice-presidente exige os mais altos níveis de integridade e probidade moral por parte de quem o exerce”, assegura.
A Constituição do Zimbábue de 2013 introduziu um sistema de cotas para mulheres, reservando 60 dos 270 assentos legislativos para mulheres.
Essa disposição de representação proporcional, que expiraria em 2023, foi prorrogada por mais dois ciclos eleitorais por meio de uma emenda introduzida na Constituição pelo regime de Mnangagwa no ano passado.
Algumas mulheres preferem esses assentos de representação proporcional aos disputados nas urnas.
Dewa afirma que uma revisão completa do atual sistema eleitoral é necessária para promover a igualdade de gênero na política.
“É preciso mudar o sistema de votação, do sistema majoritário para o de representação proporcional, com uma lista em formato zíper (alternando homens e mulheres), pois isso garante a igualdade de gênero. Os cidadãos devem votar nos partidos políticos, não em indivíduos, pois isso também isola as mulheres da violência política e da compra de votos”, afirma.
*Imagem em destaque: Reprodução/Farai Shawn Matiashe/IPS
**Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service | Tradução de Marcos Diniz
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