Brics: Vieira se reúne com Abbas e condena indiferença mundial diante de atrocidades em Gaza
Em discurso na cúpula do bloco, em Kazan, o chanceler brasileiro afirmou que a postura de certos países em relação ao genocídio em Gaza enfraquece o direito humanitário internacional, e classificou como “ilegal e injusta” a inclusão de Cuba na lista de patrocinadores do terrorismo
CÚPULA DO BRICS+
A Bolívia foi confirmada como país parceiro do Brics. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (24) pelo seu vice-ministro de Relações Exteriores, Esteban Elmer Catarina, que destacou a importância histórica da decisão. Além do país, foram incluídos como parceiros Argélia, Belarus, Cuba, Indonésia, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.
O presidente boliviano Luis Arce desembarcou nesta quarta-feira (23) em Kazan, na Rússia, para participar da 16ª Cúpula dos Brics e se reunir com o presidente russo Vladímir Putin para discutir temas bilaterais, como tecnologia nuclear, mudanças climáticas, cooperação educacional e acordos sobre o lítio.
O evento, iniciado na terça-feira (22), abrange questões políticas, econômicas e culturais. O bloco agora inclui novos membros, como Irã, Emirados Árabes Unidos, Egito e Etiópia. Com a presença de 36 líderes globais e do secretário-geral da ONU, António Guterres, o encontro também visa mostrar que Moscou não está isolada no cenário internacional, apesar das sanções e do conflito na Ucrânia.
Um dos principais objetivos da reunião é reduzir o uso do dólar nas transações internacionais, enfraquecendo a capacidade dos EUA de aplicar sanções políticas. Durante o evento, os líderes condenaram as sanções unilaterais sem respaldo da ONU, alegando que essas medidas comprometem os direitos humanos e o desenvolvimento global.
Guterres foi criticado por participar da cúpula, especialmente pelo governo ucraniano, após a Corte Penal Internacional emitir uma ordem de prisão contra Vladimir Putin por crimes de guerra. Ele reafirmou que a invasão russa viola a Carta da ONU, enquanto a declaração final do encontro destacou a necessidade de uma solução pacífica e diplomática para o conflito.
Putin aproveitou a cúpula para reforçar laços com líderes como Xi Jinping — que elogiou a parceria sino-russa —, destacando a importância de moedas locais para reduzir a dependência do dólar e afirmando que o Brics pode contribuir para a construção de um sistema internacional multipolar.
O presidente russo projeta um cenário global mais favorável, especialmente se Donald Trump vencer as próximas eleições nos EUA. Os avanços do grupo, porém, são limitados por sua fraca influência nas instituições financeiras internacionais, como o Banco Mundial, onde o poder de voto depende da contribuição econômica de cada membro.
Presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), Dilma Rousseff enfatizou que a expansão do número de membros é uma prioridade estratégica para fortalecer a instituição, conhecida como Banco do Brics, consolidando-a como uma plataforma de cooperação voltada ao Sul Global. Ela também ressaltou que o aumento da interconexão entre os países participantes favorece a criação de uma infraestrutura financeira baseada no multilateralismo e em um mundo multipolar, e mencionou avanços recentes que permitiram reduzir significativamente os custos de empréstimos, atendendo a uma demanda antiga dos acionistas.
Em meio a encontros com líderes do bloco, incluindo Putin, Dilma e o presidente russo discutiram o uso de moedas locais para reduzir taxas da dívida e aumentar a autonomia financeira. A presidente do NDB reforçou que os países do Sul Global enfrentam grandes dificuldades para acessar financiamento em condições justas e que o banco precisa responder a essas urgências.
Mesmo impedido de viajar a Kazan devido a um acidente doméstico, o presidente Lula participou da cúpula do Brics por meio de um discurso online. Durante sua fala, destacou que o grupo não é antiocidental e alertou para a necessidade de cautela na inclusão de novos membros, evitando divisões internas. A possível expansão do Brics, com candidaturas de países como Venezuela e Turquia, gera preocupações sobre a preservação da unidade ideológica do bloco.
O Brasil também aproveitou a ocasião para reforçar seu apelo pela remoção de Cuba da lista estadunidense de patrocinadores do terrorismo. O chanceler Mauro Vieira classificou a inclusão como “ilegal e injusta” e criticou as sanções ocidentais, que, segundo ele, agravam a crise econômica e de saúde na ilha.
Lula já havia abordado o tema em setembro, durante a 79ª Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, qualificando como “injustificável” a permanência de Cuba na lista. A posição dos Estados Unidos também foi criticada por mais de 50 governos e entidades como a Conferência dos Bispos Católicos dos EUA e a Duma de Estado da Rússia.
Também nesta quinta-feira (24), Vieira se reuniu com o presidente da Palestina, Mahmoud Abbas. Durante o encontro, Abbas ressaltou os esforços da liderança palestina para conter a agressão israelense contra o povo palestino na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental. O presidente também abordou as iniciativas da Palestina, com o apoio de uma nova coalizão internacional, para conquistar maior reconhecimento e a plena implementação do Estado palestino, enfatizando a continuidade da busca pela adesão à ONU.
Durante seu discurso na cúpula, Vieira afirmou que a situação em Gaza, vista pelo Brasil e por outros países como genocídio contra o povo palestino, minou a autoridade do Conselho de Segurança da ONU e comprometeu a integridade do direito humanitário internacional. “Foram os países do Sul Global que votaram a favor da resolução da Assembleia Geral da ONU que pede a cessação das hostilidades. Enquanto isso, o papel desempenhado por outros países tem sido, no mínimo, decepcionante, para não dizer conivente. Os que se arrogam defensores dos direitos humanos fecham os olhos diante da maior atrocidade da história recente”, afirmou (Nodal, Prensa Latina, El Diario, Kaos en la Red, WAFA).
CYBERBULLYING E USO EXCESSIVO DA INTERNET
Cerca de três em cada dez crianças e adolescentes no Brasil, entre 9 e 17 anos, já sofreram ofensas ou discriminação na internet. A rede é cada vez mais criticada por contribuir para problemas como ansiedade, dependência e fragilidade na saúde mental.
De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, conduzida pelo Comitê Gestor da Internet, 30% desse público já interagiu virtualmente com desconhecidos, principalmente por meio de redes sociais e aplicativos de mensagens. A coordenadora do estudo, Luísa Adib, destacou a importância de maior mediação no uso dessas plataformas.
O uso excessivo da internet também preocupa: 24% desejam reduzir o tempo online, mas têm dificuldade; 22% navegam sem interesse específico; e 22% relatam que o tempo conectado prejudica tarefas e convivência familiar. A pesquisa reforça a importância de orientações claras para promover o uso saudável da internet. Outro levantamento, do Instituto Alana e Datafolha, indica que 93% dos entrevistados acreditam que jovens estão dependentes das redes, 92% dizem que eles não conseguem se proteger sozinhos de conteúdos inadequados e 86% consideram o material consumido inadequado para a faixa etária.
Nove em cada dez brasileiros criticam as plataformas por falharem na proteção dos jovens. Para Adib, é essencial que pais e responsáveis estabeleçam limites claros de tempo e orientem sobre o uso responsável da internet (Prensa Latina).
TRUMP ↑ = SELIC ↑
A incerteza em relação à eleição presidencial nos EUA já afeta negativamente a economia brasileira. A possibilidade de Donald Trump vencer gera preocupação, já que suas propostas de tarifas sobre importações podem desvalorizar ainda mais a moeda nacional, que caiu de R$ 5,44 para R$ 5,73 por dólar, refletindo essa inquietação.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que se reunirá nos dias 5 e 6 de novembro, pode enfrentar desafios ao decidir sobre as taxas de juros, considerando um aumento de até 75 pontos básicos na taxa Selic, que atualmente está em 10,75%.
A pressão sobre o real aumenta com a possibilidade de Trump ganhar, o que pode impactar a inflação e a entrada de dólares no Brasil. A redução das exportações para os EUA, que é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, pode agravar ainda mais a situação econômica (Ámbito).
*Imagem em destaque: WAFA