Lula embarca no domingo para a cúpula dos Brics na África do Sul
Presidente vai se reunir com líderes do bloco nos dias 23 e 24; também nesta edição do Focos 21: as contradições do advogado de Mauro Cid; a quebra de sigilo de Bolsonaro e Michelle; a prisão de oficiais do alto escalão da PM em Brasília; e mais.
LULA RUMO À ÁFRICA
O CLAE – Centro Latino-americano de Análises Estratégicas informa que o presidente Lula viajará para a África do Sul no próximo domingo (20), para participar da 15ª Cúpula do BRICS, marcada para os dias 23 e 24 de agosto em Johanesburgo.
No evento do grupo composto pelas cinco principais economias que não fazem parte do G7 – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – Lula se encontrará com os líderes da China (Xi Jinping), Índia (Narendra Modi) e África do Sul (Cyril Ramaphosa).
O presidente russo Vladimir Putin participará por meio de videoconferência, uma vez que está sujeito a um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) devido à “transferência ilegal de crianças da Ucrânia para a Rússia” no contexto do conflito entre os dois países.
A cúpula abordará três temas principais: a expansão do BRICS (com sete solicitações de adesão); questões relacionadas aos desafios e oportunidades na África; e discussões sobre o uso de moedas locais em transações comerciais e a possível criação de uma unidade de referência do BRICS.
Cerca de 40 nações, incluindo Arábia Saudita, Argentina e Egito, demonstraram interesse em se juntar aos BRICS, de acordo com a África do Sul. A Reuters enfatiza que a China busca expandir o grupo rapidamente para aumentar sua influência geopolítica enquanto lida com os EUA. Já o Brasil resiste à expansão, preocupado com a diluição da importância do grupo, já complexo. A Rússia, buscando contrabalançar seu isolamento diplomático devido à situação na Ucrânia, também deseja trazer novos membros, incluindo a África do Sul, um importante aliado africano. A Índia permanece indecisa sobre a expansão.
A 15ª cúpula dos BRICS, com o tema “BRICS e África”, destaca a intenção do bloco em construir laços com um continente que se torna um teatro de competição entre potências mundiais. A ministra das Relações Exteriores da África do Sul, Naledi Pandor, afirmou que os BRICS desejam mostrar liderança global ao abordar as necessidades de desenvolvimento e inclusão do Sul Global nos sistemas multilaterais, em uma crítica velada à dominação ocidental.
BOLSONARO E A INSURREIÇÃO
O jornal Correio da Manhã, de Portugal, destaca que o Comandante-Geral da Polícia Militar de Brasília, Coronel Klepter Rosa Gonçalves, e outros seis oficiais foram presos na manhã desta sexta-feira (18) pela Polícia Federal com autorização do ministro Alexandre de Moraes, do STF, após pedido da Procuradoria Geral da República. Eles são acusados de conivência com seguidores extremistas de Bolsonaro que invadiram prédios públicos em Brasília em janeiro. O relatório revela que oficiais do alto escalão da Polícia Militar apoiaram ideias golpistas de Bolsonaro, chamando Lula de “ladrão” e “vagabundo”.
Mensagens recuperadas pela Polícia Federal mostram que eles ironizaram enquanto bolsonaristas destruíam os prédios dos três poderes. Além disso, a investigação revelou que a Polícia Militar designou apenas 200 agentes para proteger a capital, apesar da possibilidade de ataques, quando o efetivo necessário seria de 2 mil. Muitos agentes em formação foram feridos na tentativa de conter os extremistas. A prisão desses oficiais aprofunda as complicações legais enfrentadas por Bolsonaro desde sua saída do cargo.
A agência de notícias Reuters ressaltou o depoimento de Walter Delgatti, na manhã desta quinta-feira (17), perante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro. Delgatti informou aos parlamentares que no ano anterior Bolsonaro o instigou a manipular uma urna eletrônica, visando minar a confiança no sistema eleitoral brasileiro, e o aconselhou a discutir essa proposta com autoridades do Ministério da Defesa. Ainda segundo Delgatti, Bolsonaro lhe ofereceu um indulto como garantia caso ele enfrentasse qualquer consequência legal.
BOLSONARO E AS JOIAS
Também na Reuters, a possível confissão do ex-assessor de Bolsonaro, Mauro Cid, preso desde o dia 3 maio. A agência cita publicação da revista Veja desta quinta-feira informando que, de acordo com seu advogado Cezar Bitencourt, Cid planejava confessar seu envolvimento em crimes relacionados à suposta venda de joias oferecidas ao ex-presidente por governos estrangeiros, acusando Bolsonaro de ser o mentor do esquema.
Entretanto, de acordo com informações do Brazilian Report, o advogado de Cid apresentou contradições em entrevistas recentes sobre a admissão de culpa por parte de seu cliente. Inicialmente, Bitencourt afirmou que Cid confessaria suas infrações, inclusive a entrega de dinheiro a Bolsonaro. Porém, suas declarações tornaram-se inconsistentes em entrevistas posteriores.
A investigação conduzida pela Polícia Federal trouxe à tona evidências substanciais, incluindo mensagens que revelam que o pai de Cid compartilhou fotos das joias oferecidas a Bolsonaro. As vendas dessas joias foram transformadas em dinheiro de forma não convencional, levantando suspeitas de desvio de recursos e lavagem de dinheiro.
Bitencourt alegou que Cid agiu seguindo ordens de Bolsonaro, remetendo-lhe o montante financeiro, e expressou a intenção de realizar uma confissão. No entanto, o advogado voltou atrás, refutando acusações diretas a Bolsonaro e argumentando que Cid também teve iniciativa própria. Além disso, afirmou que a confissão abrangeria apenas a venda de um relógio Rolex, ao invés do termo “joias”.
Em consequência da investigação no caso das joias, o Supremo Tribunal Federal concedeu ainda na noite de quinta-feira permissão para que a polícia acesse os registros bancários e fiscais de Bolsonaro. De acordo com o português Expresso, a decisão, proferida pelo ministro Alexandre de Moraes, também abrange a esposa do ex-presidente, Michelle Bolsonaro. Moraes também autorizou a Polícia Federal a solicitar aos EUA a divulgação das informações bancárias sigilosas dos suspeitos que possuem contas naquele país.
MÃE BERNADETE, PRESENTE!
O argentino Página/12 relata o assassinato de Maria Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete. O crime ocorreu em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, Bahia. Mãe Bernadete, líder da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), foi morta na sede do Quilombo Pitanga dos Palmares por dois homens em uma motocicleta, que usavam capacetes e atiraram em seu rosto. “O quilombo sempre será resistência, minha família está sendo perseguida”, disse um dos filhos da vítima disse à imprensa local.
Há seis anos, outro filho da líder afrodescendente foi morto devido ao seu ativismo político em defesa do território e das religiões de matriz africana no Brasil. Bernadete denunciou a violência contra os quilombolas na Suprema Corte. O presidente Lula expressou seu “pesar e preocupação” pela morte de Mãe Bernadete em suas redes sociais. O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, lamentou o ocorrido e enviou uma equipe para acompanhar as investigações. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, destacou que o “racismo religioso é mais uma expressão da estrutura racista do país, que precisa ser enfrentado por meio de políticas públicas”.
BIOECONOMIA
No também argentino El Diario, um estudo do World Resources Institute (WRI) aponta que a mudança do modelo de exploração atual para a bioeconomia na Amazônia brasileira resultaria em um benefício econômico adicional de 7,4 bilhões de euros no PIB até 2050. A conservação da floresta permitiria ao Brasil cumprir os Acordos de Paris sobre o clima, além de gerar crescimento econômico. O estudo projeta que, em 2050, a conservação e restauração da floresta evitariam o desmatamento de 59 milhões de hectares e reduziriam as emissões de carbono em 94%. No entanto, a transição exige investimentos equivalentes a 1,8% do PIB do Brasil, com foco em infraestrutura, bioeconomia, agricultura sustentável e transição energética.
A bioeconomia, destacada no estudo, abrange práticas como o cultivo sustentável do açaí e promove uma economia indígena baseada em elementos comunitários e distribuição de benefícios. A transição energética também é recomendada, com foco em energia solar e limpa. Para viabilizar essa transição, é necessário capital estrangeiro. O Fundo Amazônia e o financiamento internacional são vitais para essa transformação.
Enquanto isso, o debate sobre a exploração de petróleo na região continua. O presidente Lula busca apoio internacional para a preservação da Amazônia e enfrenta contradições internas. O referendo no Equador sobre a exploração de petróleo em Yasuní, lar de biodiversidade única, representa um ponto de virada. A mobilização civil busca manter o petróleo no subsolo, visando a sustentabilidade.
*Imagem em destaque: (Marcello Camargo/Agência Brasil)