No Chile, Lula pede diálogo e respeito à tolerância popular na Venezuela; Boric não se manifesta
O Focus21 reúne as citações relevantes sobre o Brasil publicadas pela imprensa internacional
O Brasil, mais especificamente a posição do presidente Lula, continua no foco de parte das reportagens sobre a eleição da Venezuela em 28 de julho cujo órgão eleitoral declarou o presidente Nicolás Maduro vencedor.
Durante visita ao Chile, quando se reuniu com o presidente Gabriel Boric, e diante da crescente pressão internacional, o presidente Lula pediu nesta segunda-feira diálogo entre o governo e a oposição na Venezuela. Sua declaração foi feita horas depois da publicação de uma carta aberta na qual vários ex-chefes de Estado e de governo conservadores da Espanha e de países latino-americanos pediram a Lula que “reafirmasse seu compromisso inquestionável com a democracia e a liberdade” e adotasse uma postura mais firme contra Nicolás Maduro. O documento foi assinado pelos 37 membros do IDEA, um fórum formado, entre outros, pelos ex-presidentes da Argentina, Maurício Macri; da Colômbia, Álvaro Uribe e Iván Duque; do México, Vicente Fox; do Equador, Guillermo Lasso; e da Bolívia, Carlos Mesa.
Reconhecido como o principal interlocutor na região, Lula optou pela cautela diplomática ao abordar a questão do reconhecimento do resultado eleitoral na Venezuela, onde cresce o ceticismo sobre a legitimidade da reeleição de Nicolás Maduro, segundo a reportagem do diário argentino.
“O compromisso com a paz é o que nos leva a chamar as partes para o diálogo e a promover o entendimento entre o governo e a oposição”, disse Lula durante a visita de Estado ao Chile. “O respeito à soberania popular é o que nos move a defender a transparência dos resultados”, disse ele brevemente. Enquanto isso, Boric não fez nenhuma menção à situação venezuelana e disse que trataria do assunto na tarde de terça-feira. Os dois líderes de esquerda assumiram posições divergentes sobre as eleições de 28 de julho na Venezuela. (La Nación)
Luis Majul, analista do La Nación, afirma em título: “Cúmplices da ditadura”. A fraude nas eleições venezuelanas causa desconforto a presidentes e líderes regionais que no passado foram aliados de Maduro, mas que hoje não conseguem se diferenciar do regime venezuelano que tem em seu luto pessoas detidas, mortas e desaparecidas. Inclui Lula.
Algumas reportagens da imprensa da América Latina tiveram foco na oposição ao presidente Nicolás Maduro, com citação ao Brasil.
“Apelamos à consciência dos militares e da polícia para que tomem o partido do povo”, disse María Corina Machado em uma carta aberta, buscando o apoio das Forças Armadas venezuelanas para enfrentar a repressão que os líderes da oposição e os cidadãos estão sofrendo ao se manifestarem contra a suposta fraude eleitoral nas eleições presidenciais. O comunicado assinado por Edmundo González Urrutia, como “presidente eleito da Venezuela” e líder da oposição, afirma que “em todos os componentes das Forças Armadas Nacionais está presente a decisão de não reprimir os cidadãos que reivindicam pacificamente seus direitos e sua vitória”.
Machado aproveitou expressou sua gratidão pela posição “clara” do governo brasileiro, que solicitou a publicação dos resultados das eleições. “Sou grata pela posição clara do governo brasileiro e do presidente Lula quando ele exigiu que o Conselho Nacional Eleitoral divulgasse os registros de votação um a um e que eles tivessem uma verificação independente que desse confiança a todas as partes”, disse. “Precisamos do povo do Brasil, confiamos em vocês para nos acompanhar nesse trabalho”, acrescentou. Segundo a reportagem, O presidente Lula disse que o respeito à soberania popular na Venezuela é o que está levando os líderes regionais a pedir transparência nos resultados das recentes eleições. (La Nación / Clarín)
O Peru agradeceu ao Brasil nesta segunda-feira por seu “apoio inestimável” depois que o país assumiu a representação diplomática e consular do país andino na Venezuela, em função do rompimento das relações diplomáticas entre os dois países, informou o Ministério das Relações Exteriores do Peru. (El Tiempo / Diario Correo)
GENOCÍDIOS NO BRASIL
Le Monde Diplomatique informa que nesta segunda-feira foi lançado o podcast “genocídios.BR“, dedicado ao aprofundamento do tema genocídios no Brasil e seus fatores de risco. Composta por seis episódios, a série aborda as violências sistemáticas contra povos indígenas, população negra, LGBTQIAPN+ e mulheres, além de questões de intolerância e extremismo religioso no território brasileiro. O episódio de lançamento retoma o primeiro caso de condenação por genocídio na justiça brasileira: o Massacre de Haximu, ocorrido em 1993 contra indígenas Yanomami em Roraima.
ATAQUE A INDÍGENAS
Homens armados, apoiados por fazendeiros em caminhões e tratores, atacaram indígenas que reivindicavam terras no estado brasileiro de Mato Grosso do Sul no fim de semana, ferindo 11 deles, informaram autoridades governamentais e um grupo de direitos humanos na segunda-feira. O Ministério de Assuntos Indígenas disse que cinco das 10 pessoas feridas no sábado foram levadas ao hospital para serem tratadas de ferimentos causados por tiros e balas de borracha como resultado do primeiro ataque no distrito de Douradina. “O povo Guarani-Kaiowa está retomando terras no território de Panambi-Lagoa Rica”, disse o ministério em um comunicado, culpando a violência pela situação jurídica incerta em torno das reivindicações de terras indígenas. Na noite de domingo, os fazendeiros romperam uma corda colocada pelo grupo indígena para marcar a terra que reivindicam e atearam fogo em suas barracas, segundo a polícia. Pelo menos uma pessoa foi ferida por uma bala de borracha no incidente de domingo, disse o Conselho Missionário Indígena, um grupo de direitos ligado à Igreja Católica. Ele disse que a polícia não conseguiu deter os fazendeiros. (Reuters)
MARINA SILVA: CARBONO
“Ministra Marina Silva adverte compradores de créditos de carbono para que tomem cuidado com fraudes”: título de entrevista com a ministra realizada pelo Financial Times. A ministra do meio ambiente do Brasil pediu mais cautela aos compradores internacionais de créditos de carbono, depois que a polícia do país sul-americano descobriu esquemas supostamente fraudulentos de compensação de emissões em terras roubadas na Amazônia. Marina Silva disse que as recentes revelações sobre empresas criminosas suspeitas de terem vendido ilegalmente milhões de dólares em certificados de carbono da maior floresta tropical do mundo eram um “problema sério” que poderia prejudicar a reputação de uma ferramenta que, segundo os defensores, ajuda a combater o aquecimento global. “Os países ou as empresas que buscam esses créditos precisam estar muito atentos para não entrarem no jogo daqueles que, sem escrúpulos, praticam esse tipo de crime”, disse em uma entrevista ao Financial Times no fim de semana.
BOLSONARISTAS NA ARGENTINA
“Os irmãos brasileiros Milei entraram na Casa Rosada e miraram em Lula” é o título de artigo bem-humorado e analítico do La Nación. Diz o texto: Eles certamente não se esforçaram muito para se disfarçar. Vestidos a rigor com terno e gravata, embora com uma aparência um tanto desarrumada, um grupo inédito de visitantes com sotaque português atraiu a atenção de moradores locais e estrangeiros na quinta-feira, na Casa Rosada. Após a habitual conferência de imprensa de Manuel Adorni (porta-voz de Javier Milei), que até os mencionou de passagem em uma de suas respostas, o grupo autodefinido como parte do partido do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro começou com um verdadeiro “show” que incluiu não apenas uma “batalha cultural” verborrágica com a imprensa credenciada, mas também um stand-up improvisado com perucas “a la Milei” e faixa presidencial incluída.”
UCRÂNIA
A África do Sul endossou um roteiro proposto pela China e pelo Brasil para resolver o conflito entre a Rússia e a Ucrânia e está preparada para trabalhar com os dois países para promovê-lo, anunciou o Ministério das Relações Exteriores da China no sábado. O representante especial de Pequim para assuntos eurasiáticos, Li Hui, garantiu o apoio quando visitou a economia mais avançada da África na sexta-feira e conversou com autoridades, de acordo com um comunicado do ministério. A China e o Brasil apresentaram a proposta de seis pontos em maio, conclamando Moscou e Kiev a observarem três princípios para a redução das hostilidades, incluindo a não expansão do campo de batalha, a não intensificação dos combates e a não provocação de nenhuma das partes. O plano destacou a diplomacia como o único meio de resolver o conflito, defendendo uma conferência internacional de paz que tanto a Rússia quanto a Ucrânia aceitariam. (RT russo)
Li Hui, o homem de confiança da China para a Ucrânia, angaria apoio para o plano de paz no Sul Global. Li Hui completou viagens ao Brasil e à África do Sul e segue para a Indonésia em sua quarta missão de paz na Ucrânia desde maio do ano passado. (South China Morning Post / Tass)
Jornalista, ex-Folha, Reuters e Valor Econômico. Participei da cobertura de posses presidenciais, votações no Congresso, reuniões ministeriais, além da cobertura de greves de trabalhadores e de pacotes econômicos. A maior parte do trabalho foi no noticiário em tempo real. No Fórum 21, produzo o Focus 21, escrevo e edito os textos dos analistas.