Escalada de ataques israelenses ameaça segurança de civis e trabalhadores humanitários no Líbano

Escalada de ataques israelenses ameaça segurança de civis e trabalhadores humanitários no Líbano

Por Oritro Karim

NOVA IORQUE – Israel mantém ataques sobre o sul do Líbano e a capital, Beirute, enquanto cresce a preocupação de organizações humanitárias devido ao aumento da frequência dos bombardeios.

O Ministério da Saúde Pública do Líbano relatou 2.169 mortes e mais de 10.212 feridos no último ano. Imran Riza, coordenador humanitário da ONU para o Líbano, classificou esse conflito como um dos mais letais na memória recente.

Nesta segunda-feira (14), a Cruz Vermelha Libanesa confirmou que um bombardeio israelense no norte do país matou 18 pessoas e deixou outras gravemente feridas na cidade de Aitou, de maioria cristã. Até então, as Forças de Defesa de Israel (FDI) focavam seus ataques no sul do Líbano, visando a milícia xiita Hezbollah, apoiada pelo Irã.

Em 10 de outubro, Beirute foi surpreendida por intensos ataques aéreos, deixando 22 mortos e centenas de feridos, o terceiro grande ataque à capital desde 23 de setembro. Apesar de Israel alegar que as operações miram alvos militares do Hezbollah, os bombardeios vêm afetando cada vez mais áreas densamente povoadas.

A ONU, por meio de sua Agência de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), informou que ambulâncias e hospitais foram atingidos, e vários profissionais de saúde estão entre as vítimas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reportou que 94 trabalhadores da área morreram desde o início do conflito.

Hanan Balkhy, diretora regional da OMS para o Mediterrâneo Oriental, declarou: “A proteção de civis e da assistência médica é um imperativo moral e legal que deve ser preservado. Os ataques contra serviços de saúde não podem continuar sendo uma característica desse conflito.”

Em 13 de outubro, a Força Provisória da ONU no Líbano (FPNUL) informou que dois tanques israelenses violaram a fronteira, destruindo o portão principal de um posto em Ramyah. O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou os ataques às forças de paz, chamando-os de crimes de guerra.

Farhan Haq, porta-voz da ONU, reforçou: “O pessoal e as instalações da FPNUL não podem ser alvos. Atacar forças de paz viola o direito internacional, inclusive o humanitário.” A FPNUL destacou que tropas israelenses vêm dificultando missões de socorro em Meiss el Jabel.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tem enfrentado críticas de líderes mundiais e organizações humanitárias. Emmanuel Macron, presidente da França, alertou que a situação no Líbano pode se agravar a ponto de se assemelhar à crise de Gaza. O presidente dos EUA, Joe Biden, expressou frustração com a falta de um cessar-fogo por parte de Netanyahu, pedindo esforços para minimizar danos a civis libaneses.

Netanyahu afirmou que a paz só será possível se o Líbano eliminar a presença do Hezbollah. “Vocês ainda têm uma chance de salvar o Líbano antes que ele mergulhe em uma guerra longa e devastadora, como vemos em Gaza”, declarou.

Com a chegada do inverno, as condições no Líbano tendem a piorar. Cerca de 80% dos abrigos para deslocados já estão lotados, e muitos civis permanecem nas ruas ou em espaços públicos, como igrejas. A ONU realiza avaliações para atender os deslocados que não têm acesso a abrigos.

Apesar dos desafios, a ONU segue distribuindo ajuda nas áreas afetadas. O Programa Mundial de Alimentos (PMA) entregou mais de um milhão de refeições quentes e 143 mil kits de comida pronta em 440 abrigos. A OMS forneceu suprimentos para mais de 650 cirurgias em seis hospitais de Beirute. A Unicef, por sua vez, atua na distribuição de água potável, itens de higiene e apoio psicossocial.

A ONU prometeu 426 milhões de dólares em ajuda ao Líbano para os próximos três meses, mas apenas 12% desse valor foi arrecadado até agora, com 51 milhões de dólares confirmados.

“Com tantos deslocamentos, as necessidades são enormes. A situação é devastadora, e o Líbano precisa de mais apoio. O que recebemos até agora é insuficiente”, afirmou Othman Belbeisi, diretor para o Oriente Médio e Norte da África da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

*Imagem em destaque: Família libanesa foge de uma zona bombardeada em Beirute, transportando pertences em uma pequena motocicleta. Ataques aéreos e terrestres israelenses se intensificam a cada dia na capital libanesa (Dar al Mussawir – Ramzi Haidar / Unicef)

**Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service | Versão e revisão: Marcos Diniz

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