Israel mantém ataques a escolas usadas como refúgio em Gaza

Israel mantém ataques a escolas usadas como refúgio em Gaza

Correspondente de IPS

NAÇÕES UNIDAS – Pelo menos 167 palestinos morreram quando 17 escolas, que serviam como refúgios ou hospitais improvisados na Faixa de Gaza, foram atacadas pelas forças de Israel nas últimas quatro semanas, segundo relatórios de agências das Nações Unidas divulgados nesta terça-feira, 6. O ataque mais recente ocorreu em 4 de agosto, quando as escolas Hassan Salame e Nasser, no bairro de An Nassr, a oeste da cidade de Gaza, foram atacadas quase simultaneamente. Os relatórios iniciais indicam que pelo menos 25 palestinos morreram, incluindo crianças e mulheres.

Outro ataque aconteceu em 27 de julho, quando a escola Jadija e a adjacente Ahmad Al Kurd em Deir al Balah foram atingidas, matando pelo menos 30 palestinos, entre eles 15 crianças e oito mulheres, segundo a Oficina de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha). As escolas atacadas no fim de semana abrigavam a população deslocada pela violência e pelas constantes ordens israelenses de evacuação, informaram as agências.

A oficina do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (Acnudh) expressou horror e destacou que “esses ataques evidenciam que não foram respeitados os princípios de distinção, proporcionalidade e precaução exigidos pelo direito internacional humanitário”. Segundo o alto-comissário, Volker Türk, sete escolas serviram de refúgio para os deslocados, e a de Jadija também funcionava como hospital de campanha.

O exército israelense afirma que as escolas Jadija, Dala Moghrabi, Hamama, Hassan Salame e Nasser foram usadas por agentes do Hamas, o movimento islamista que Israel busca destruir após sofrer um ataque desses milicianos em 7 de outubro, no qual cerca de 1200 pessoas morreram.

Türk afirmou que “colocar civis perto de alvos militares, ou usá-los para proteger um alvo militar de um possível ataque, constitui uma violação do direito internacional humanitário”. No entanto, ele ressaltou que “isso não anula a obrigação de Israel de cumprir estritamente o direito internacional humanitário, incluindo os princípios de proporcionalidade, distinção e precaução, ao realizar operações militares”.

Quase 93% dos edifícios escolares em Gaza, um território de 365 quilômetros quadrados e 2,3 milhões de habitantes, foram danificados, afetados ou têm probabilidade de sofrer danos, segundo avaliações das agências da ONU.

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Por outro lado, a relatora especial sobre a liberdade de opinião e expressão no Conselho de Direitos Humanos da ONU, Irene Khan, condenou nos termos mais enérgicos o assassinato deliberado de dois jornalistas em Gaza, perpetrado por Israel. O correspondente Ismail Al-Ghoul, da rede de televisão árabe Al Jazeera, e seu cinegrafista Rami Al-Rifi, foram mortos em Gaza em 1º de agosto. “Isso se soma ao já horrível número de jornalistas e trabalhadores da mídia mortos nesta guerra”, apontou Khan em um comunicado.

Como muitos jornalistas assassinados em Gaza, Al-Ghoul usava um colete de imprensa claramente marcado quando um drone israelense atingiu seu veículo. O exército israelense confirmou a morte de Al-Ghoul e o acusou de ser um agente do Hamas. “O exército israelense está fazendo acusações sem nenhuma evidência substancial para justificar o assassinato de jornalistas, o que é completamente contrário ao direito internacional humanitário”, declarou Khan.

Khan também expressou grande preocupação pelo fato de que nenhum dos casos de jornalistas assassinados no território palestino ocupado tenha sido objeto de uma investigação transparente, e porque as autoridades israelenses nunca processaram os supostos autores desses atos. Segundo o Comitê de Proteção aos Jornalistas, uma organização baseada nos Estados Unidos, 113 jornalistas e outros trabalhadores da mídia morreram na guerra que envolveu a Faixa de Gaza, Israel e o sul do Líbano. “Dado que Israel não atendeu aos apelos anteriores por responsabilização, insto o Tribunal Penal Internacional a processar rapidamente os assassinatos de jornalistas em Gaza como crimes de guerra”, declarou Khan.

*Imagem em destaque: Escombros de uma escola bombardeada por Israel na cidade de Jan Yunis, que servia como refúgio para famílias deslocadas pelo conflito. Foto: Unrwa.

**Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service | Tradução e Revisão: Marcos Diniz

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