Dezenas de milhares de civis fogem do Sudão para países vizinhos

Dezenas de milhares de civis fogem do Sudão para países vizinhos

Civis sudaneses estão fugindo para o Sudão do Sul e também para outros países vizinhos, como Chade, Egito e República Centro-Africana, para escapar dos violentos combates entre uma poderosa milícia e o exército regular de seu país. Em pouco mais de 10 dias de combates, foram mais de 500 mortos e mais de 4 mil feridos Foto: OIM

POR CORRESPONDENTE IPS

GENEBRA – Dezenas de milhares de civis sudaneses estão fugindo para nações vizinhas, em meio a uma frágil trégua nos combates entre o exército e uma milícia que, em duas semanas, deixou mais de 500 mortos e 4.000 feridos, informou quinta-feira, 27, a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

No país africano, os confrontos já deslocaram mais de 75 mil pessoas e, segundo a OIM, a situação “é gravíssima” em Cartum, capital junto ao Nilo, e na região ocidental de Darfur, onde os combates são mais intensos, pelo que se teme “uma crise humanitária sem precedentes”.

“O número de deslocados internos deverá ser muito maior”, juntamente com o êxodo aos milhares para os vizinhos Chade, Egito, Etiópia, República Centro-Africana e Sudão do Sul, disse a OIM em seus escritórios nesta cidade suíça.

Diplomatas e outros cidadãos de países europeus, americanos e asiáticos também fugiram do país desde o início dos combates em 15 de abril.

A luta decorre entre as Forças de Apoio Rápido (FAR), uma milícia bem armada forte na região de Darfur e liderada pelo general Mohamed Hamdan Dagalo, e o exército regular, sob as ordens do presidente de fato, Abel Fatah al Burhan.

Al Burhann e Dagalo eram aliados, trabalharam juntos para derrubar o ditador Omar al Bashir em 2019, e foram peças-chave no golpe militar de 2021 que derrubou o governo civil, criticado por funcionários da ONU e da União Africana, bem como por manifestações populares que persistiram por meses.

A luta começou devido a disputas sobre como reunir as FAR e o exército em uma força militar unificada, envolvendo uma disputa pelo poder, liderança e controle sobre as minas e outros recursos do país.

Uma trégua de 72 horas, iniciada em 25 de abril, pode ser estendida, segundo o governo de Al Burhan, em meio a demandas de agências humanitárias para abrir espaço para a evacuação de civis, socorro a feridos e até remoção de corpos nas ruas de Cartum e outras cidades.

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Estabelecimentos comerciais e serviços urbanos foram destruídos por fogo de artilharia, tiros de fuzil, incêndios e até bombardeios aéreos.

O governo chadiano solicitou o apoio da OIM para evacuar mais de 300 estudantes e 50 peregrinos chadianos presos em Cartum, quase sem acesso à comida e água.

“Infelizmente, a estação chuvosa está se aproximando rapidamente e o que dificultará o acesso à área de fronteira, prejudicando o socorro aos que mais precisam”, disse Anne Kathrin Schaefer, representante da OIM no Chade.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e entidades humanitárias, como Médicos Sem Fronteiras, pedem urgentemente a todas as partes no Sudão que liberem imediatamente todas as instalações de saúde, não atrapalhem tarefas essenciais e protejam o pessoal e a infraestrutura de saúde.

A OMS alertou sobre o laboratório central de saúde do Sudão, que contém patógenos de sarampo, cólera e tuberculose multirresistente, polivírus derivados de vacinas e outros materiais perigosos. Pessoas não treinadas podem manipular incorretamente essas amostras infecciosas e infectar a si mesmas e depois infectar outras pessoas.

Segundo as autoridades de saúde sudanesas, em 10 dias de combates, pelo menos 512 pessoas morreram e 4.193 ficaram feridas.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) informou que apenas nos primeiros cinco dias de combate, nove crianças morreram, 50 ficaram feridas e os confrontos interromperam o atendimento crítico e vital prestado a cerca de 50.000 crianças com desnutrição aguda grave.

A luta também põe em risco a cadeia de frio no Sudão, que inclui mais de US$ 40 milhões em vacinas e insulina, devido a cortes de energia e incapacidade de reabastecer geradores.

As autoridades das Nações Unidas, da União Africana, da Liga Árabe e de numerosos governos apelaram para um cessar-fogo firme e prolongado e o estabelecimento de um diálogo entre os contendores, que permita uma solução pacífica para o conflito e conduza o país à eleição de um governo civil.

 Artigo publicado originalmente na Inter Press Service

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