África supera seus limites para impulsionar a cadeia de fornecimento de energia limpa
Por Aimable Twahirwa
ABU DHABI – Investidores, reguladores, pesquisadores, formuladores de políticas e representantes de empresas de energias renováveis reconheceram em Abu Dhabi os principais desafios apresentados pela transição dos combustíveis fósseis para energias limpas na África, durante um encontro realizado ao longo da terceira semana de abril.
As últimas estimativas do Banco Africano de Desenvolvimento mostram que o potencial energético da África, especialmente o das energias renováveis, é enorme, mas apenas uma pequena parte dele está sendo aproveitada. Projeções oficiais indicam que a demanda por energia também pode ser pelo menos 30% maior do que a atual na próxima década no continente.
Francesco La Camera, diretor-geral da Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA), declarou que a transição energética está se acelerando rapidamente, mas ainda está claramente mal encaminhada, com uma distribuição inaceitavelmente desigual do crescimento das energias renováveis que continua afetando desproporcionalmente o Sul global.
“Os governos africanos e outras partes interessadas devem adotar soluções inovadoras para superar os desafios urgentes e alcançar a transição energética”, disse La Camera à IPS, em uma entrevista na capital dos Emirados Árabes Unidos. Segundo o especialista, há uma oportunidade (para o continente) de priorizar e delinear ações coletivas para superar as barreiras estruturais e sistêmicas que impedem o progresso.
Na África, especialistas acreditam que existem múltiplas dimensões de pobreza energética, associadas especialmente à falta de planos claros e uma compreensão nítida do que o continente deseja alcançar.
“A eletricidade continua a ser a espinha dorsal dos novos sistemas energéticos africanos, cada vez mais alimentados por energias renováveis, mas uma grande parte do continente ainda está à margem da transição energética”, declarou Bruce Douglas, diretor-executivo da Aliança Mundial de Energias Renováveis, uma das coalizões mundiais dos principais atores do setor comprometidos com a aceleração da transição global para energias limpas.
No entanto, na 28ª Conferência das Partes (COP28) das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada em dezembro passado em Dubai, a cidade mais populosa dos EAU, foram assumidos vários compromissos novos que deram um novo impulso à transição energética.
Os especialistas agora estão estudando as prioridades da transição energética e medidas imediatas para garantir a melhoria das políticas atuais no continente, a fim de promover um maior desenvolvimento das energias renováveis.
As últimas estimativas mostram que, dado que a África representa cerca de 39% do potencial global de energias renováveis, vários marcos podem ser alcançados nesse campo.
“O investimento público e privado é fundamental para lidar com as múltiplas dimensões da atual crise energética no continente, mas para garantir a segurança energética também é essencial a diversificação das diferentes fontes”, disse Douglas à IPS.
Por exemplo, a África possui abundantes recursos hídricos, solares, eólicos, geotérmicos, de hidrogênio e bioenergia, mas mesmo assim, a atual combinação de geração de energia do continente ainda depende de combustíveis fósseis, enquanto as fontes renováveis representam quase 18% da produção de eletricidade, afirmou.
No ano passado, os países se comprometeram, à margem da COP28, a acelerar o progresso para triplicar a capacidade global de energia renovável para pelo menos 11 terawatts (TW) até 2030, mas alguns especialistas acreditam que essa não é uma solução de longo prazo, já que mais da metade da população ainda não tem acesso à eletricidade.
Amani Abou-Zeid, comissária de Infraestrutura e Energia da Comissão da União Africana, disse à IPS que uma abordagem transfronteiriça é fundamental para os países participantes na transição para uma energia limpa acessível.
“Alguns países africanos embarcaram em projetos transfronteiriços de energias limpas, mas são necessários muito mais esforços para desenvolver transições verdadeiramente sustentáveis e instrumentos adequados”, afirmou.
O Plano Diretor do Sistema Energético Continental Africano, um protótipo atualmente sendo elaborado pela Agência de Desenvolvimento da União Africana, destaca algumas estratégias-chave para que os países de todo o continente identifiquem componentes-chave em nível nacional e regional.
O objetivo é facilitar a criação de um plano mestre de sistemas elétricos inteligentes que promova o acesso a um suprimento elétrico limpo, acessível, confiável e sustentável em todo o continente até 2040.
Adja Gueye, diretora de Promoção e Cooperação da Agência Nacional de Energias Renováveis do Senegal, aponta que, de modo geral, os países africanos precisam de planos adequados em nível político para superar alguns obstáculos-chave no caminho para energias limpas.
“Para facilitar esta transição, seria conveniente que os países africanos revissem seu quadro regulatório e avançassem em direção à harmonização, pois o continente precisa melhorar as interconexões elétricas regionais e transfronteiriças”, disse à IPS.
Tanto Gueye quanto Abou-Zeid estão convencidas de que, sem infraestrutura, políticas e estratégias adequadas em matéria de energias verdes em nível nacional e regional, é difícil e impossível comprar e vender eletricidade através das fronteiras.
“Políticas governamentais descendentes e planos de longo prazo sobre energias limpas na África são essenciais”, afirmou Abou-Zeid sobre a estratégia atual para estabelecer um processo de planejamento de longo prazo em todo o continente para geração e transmissão de eletricidade, no qual participam os cinco consórcios energéticos africanos.
Estes são a Central Africana de Energia, o Pool de Eletricidade da África Oriental, o Pool de Eletricidade do Norte da África, o Pool de Eletricidade do Sul da África e o Pool de Eletricidade da África Ocidental.
Jimmy Gasore, ministro de Infraestrutura de Ruanda e atual presidente da IRENA, aponta que os objetivos climáticos da África exigem o reconhecimento coletivo de que a transição energética não consiste apenas em uma mudança tecnológica, mas também em garantir a equidade e a justiça.
“Temos que garantir que os benefícios da transição energética sejam universalmente acessíveis, priorizando as necessidades das comunidades mais marginalizadas”, afirmou.
Para otimizar e diversificar as energias verdes no continente, alguns especialistas destacam também a importância de promover uma cooperação eficaz entre os setores público e privado em projetos de energias renováveis e eficiência energética.
“Para preparar a atual transição para energias renováveis, as parcerias são essenciais”, afirmou Gueye, da Agência Nacional de Energias Renováveis do Senegal, uma das poucas agências nacionais dedicadas a energias limpas na África.
*Imagem em destaque: Amani Abou-Zeid é a atual Comissária da União Africana para Energia e Infraestruturas. A especialista acredita que as abordagens transfronteiriças são essenciais para a acessibilidade da energia limpa. Imagem: Aimable Twahirwa/IPS
**Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service | Tradução e Revisão: Marcos Diniz
Jornalismo e comunicação para a mudança global